Por que luta para cem mil em Wembley deu mais o que falar fora do ringue

A luta entre o inglês Tyson Fury e o jamaicano (radicado britânico) Dillian Whyte já dava repercussão muito antes dos primeiros golpes. É que Fury, 33, ao defender seu cinturão do peso-pesado da WBC (Conselho Mundial de Boxe) e do 'The Ring' em uma provável luta de aposentadoria, precisou responder durante toda sua preparação a perguntas sobre sua relação com Daniel Kinahan, controlador e gerente de um dos maiores cartéis de drogas da atualidade na Europa.

Neste mês de abril, uma série de acontecimentos envolvendo Kinahan foi notícia, a começar pelo oferecimento de US$ 5 milhões (aproximadamente R$ 24 milhões) por parte de autoridades dos Estados Unidos como recompensa por informações que pudessem levar à prisão ou condenação do traficante ou membros da quadrilha, como seu pai e irmão, informou a "BBC".

Além disso, foram impostas sanções à família Kinahan, como bloqueio de cartões de crédito e débito e congelamento de contas nos Estados Unidos para reprimir suas atividades. Na semana da luta de Tyson Fury, os Emirados Árabes Unidos também congelaram bens da família, que usa Dubai como parte de suas operações — é lá onde vive Kinahan. A quadrilha surgiu na Irlanda e também trabalha no Reino Unido e na Espanha.

De acordo com o governo americano, o cartel Kinahan é um dos maiores grupos criminosos da atualidade, com ação no tráfico de drogas e na lavagem de dinheiro internacional e controle de cerca de um terço do total do comércio de drogas na Europa. O grupo opera desde a década de 1990 e vive uma guerra sangrenta com outra facção, a Hutch, desde 2016. Mais de 18 mortes relativas à briga de gangues já foram registradas na Irlanda.

Mas o que Tyson Fury tem a ver com Kinahan?

Kinahan, hoje aos 44 anos, é figura conhecida nos bastidores do boxe e foi um dos fundadores de uma empresa chamada MTK Global, que representa lutadores. Fury, assim como Michael Conlan, entre outros, está nessa lista. O problema é que a relação entre Kinaham e Fury continua mesmo depois de todas as denúncias, informa o "The New York Times".

Ano passado, o documentário "Panorama", da BBC, mostrou pela primeira vez o forte envolvimento de Kinahan no boxe — ele intermediava lutas por título mundial, agenciava grandes atletas e negociava contratos de TV. "Realmente me atormentava que Kinahan fosse visto como um dos mocinhos. Eu sempre soube que ele era tóxico", diz o jornalista esportivo irlandês Kieran Cunningham, um dos produtores do filme.

O chefe do crime organizado irlandês diz que não tem relação com o boxe desde 2017, mas no ano passado foi elogiado por Fury pela organização de lutas milionárias com Anthony Joshua, ainda sem data. Além disso, US$ 8 milhões (R$ 38,5 milhões) arrecadados pelo lutador em suas quatro lutas mais recentes têm relação com os negócios de Kinaham, com quem foi flagrado numa reunião em Dubai há algumas semanas. Nada indica que a relação de patrocinador e consultor de Kinaham com Fury seja coisa do passado, embora ambos digam o contrário.

"Não é da minha conta, e eu não me envolvo com os negócios de outras pessoas, então isso realmente não me preocupa", disse Fury nesta semana, à Sky Sports. A MTK Global anunciou que fecharia as portas por causa da repercussão dos últimos dias, apontou o "The Guardian". Mesmo dizendo não ter relação com Daniel Kinahan.

Apesar de toda a polêmica dos bastidores, a luta foi um sucesso. Foram 94 mil ingressos vendidos antecipadamente em razão de uma demanda reprimida: foi a primeira luta de Fury na Inglaterra em quatro anos, depois de uma sucessão de combates nos Estados Unidos. Segundo o empresário Frank Warren, pode ter sido o evento de maior bilheteria da história do estádio.

A luta entre Fury e Whyte durou seis rounds e o que se viu no ringue foi um domínio do lutador apontado como favorito pelas casas de apostas.

Mais rápido e técnico, a lenda do boxe esbanjou técnica e apresentou seu arsenal de golpes ao rival, que tentou resistir. E Tyson, já em clara vantagem no placar, ficou ainda mais confortável no duelo, quando Dillian começou a apresentar cansaço. Dessa forma, o atleta se tornou presa fácil para 'The Gypsy King', que deu números finais ao confronto ao aplicar um certeiro 'upper'.

Tyson Fury, de 33 anos, possui uma carreira de sucesso no boxe e é um dos atletas mais populares da modalidade. Em sua trajetória no esporte, o britânico disputou 33 combates, venceu 32 deles e empatou uma vez. Seus principais triunfos foram sobre Deontay Wilder (duas vezes) e Wladimir Klitschko.