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Santos lança equipe de basquete cadeirante com 'DNA do futebol'

Jogadores, comissão e diretores do time de basquete cadeirante do Santos - André Martins/UOL Esporte
Jogadores, comissão e diretores do time de basquete cadeirante do Santos Imagem: André Martins/UOL Esporte

André Martins

Do UOL, em São Paulo

06/05/2022 04h00

O Santos agora possui uma equipe de basquete cadeirante. Na semana passada, o clube firmou uma nova parceria através do Mobydix, seu time no esporte, e deu seu primeiro passo dentro da modalidade paraolímpica.

"Temos o DNA do futebol, mas estamos também no basquete", afirmou Paulo Jamelli, ex-jogador e fundador do Mobydix. "Orgulho por poder viabilizar a modalidade e agregar os nomes do Santos e do Ypiranga neste projeto", acrescentou.

O lançamento da parceria aconteceu no Clube Atlético Ypiranga, na zona sul da cidade de São Paulo. O clube cede espaço para o basquete cadeirante desde 2003 e nunca cobrou pela utilização da quadra. A partir de agora, receberá oficialmente os treinos da equipe do Peixe da modalidade nas manhãs das segundas, quartas e sextas.

"Agora entrou a marca do Santos, é muito legal para o clube diversificar a sua imagem e internacionalizar a marca para além do futebol", afirmou Jamelli. O presidente do Ypiranga, Fernando Oberle, completou que a parceria tem como "intuito máximo fomentar o esporte" e que vai buscar "formas de dar suporte à equipe".

O evento de lançamento aconteceu na Quadra 2 do Ypiranga e contou com a entrega da camisa do Santos Mobydix aos novos integrantes do grupo. Ao todo, 19 atletas participaram do evento, 14 homens e cinco mulheres. Eles tiraram fotos para registrar o momento e partiram para um coletivo misto, que terminou com vitória do time com colete branco por uma bola.

O time de basquete cadeirante foi criado menos de dez meses depois do início das atividades do Mobydix. Desde julho de 2021, o Santos contava com uma equipe masculina e feminina na modalidade 3x3 e, recentemente, começou um projeto de categoria de base.

Campeã do basquete em quadra

Quem também compareceu ao evento foi a ex-jogadora Alessandra Santos de Oliveira, que fez parte da geração de ouro do basquete feminino brasileiro. Atualmente como coordenadora técnica do Santos Mobydix, ela ressaltou que a parceria acontece em um "momento oportuno" e que "faz a gente sonhar mais alto com o esporte que amamos".

Em seu primeiro contato com o time, ela se emocionou ao relembrar um episódio de sua carreira que não é tão conhecido como suas conquistas. Campeã do Mundial de 1994 e medalhista olímpica de prata (Atlanta-1996) e bronze (Sidney-2000), ela enfrentou a cadeira de rodas por causa de uma grave lesão em 2005.

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A ex-jogadora Alessandra Santos de Oliveira, campeã Mundial em 1994 e medalhista olímpica, entrou em quadra para jogar com o novo time de basquete cadeirante do Santos
Imagem: André Martins/UOL Esporte

Na época, a atleta estava com um fascite plantar que não conseguiu tratar durante a temporada. Essa inflamação no pé evoluiu e fez com que ela começasse a perder a sensibilidade da perna esquerda. Após a realização de procedimentos cirúrgicos, Alessandra teve que passar pelo processo de reabilitação na cadeira de rodas e depois reaprender a andar.

"Sei da luta diária de vocês", destacou, depois de contar sua história na roda de jogadores. Ela celebrou a adição de mais uma equipe na "família de basquete do Santos" e que o "sonho está se tornando realidade". Ao fim, a campeã voltou à cadeira de rodas depois de 17 anos para jogar com os atletas da equipe.

"Eu também posso"

Os jogadores da nova equipe do Santos faziam parte de uma antiga parceria entre o Ypiranga e o Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo, que se encerrou em setembro do ano passado. Em sua maioria, eles eram pacientes em reabilitação que estavam tendo no basquete cadeirante uma segunda oportunidade.

O treinador, Carlos Galiote, está com a equipe desde 2013 e acredita que a parceria com o Santos "vai absolutamente alavancar o esporte". Ele destaca que o time também foca na iniciação no esporte e na competição, mas diz que seu "maior título é a inclusão e toda uma mudança de vida" proporcionada pela modalidade.

A maioria dos atletas possui entre 20 e 34 anos, mas adolescentes e idosos também fazem parte do grupo. Antonio Ramalho, de 66 anos, começou no esporte por meio da reabilitação no Hospital das Clínicas em 1994, cinco anos depois de ter sido vítima de uma bala perdida no centro de São Paulo.

Com mais de 27 anos de modalidade, ele considera a parceria com o Santos uma "iniciativa excelente", mas reforça que é preciso ter apoio e investimento no esporte. O veterano conta que o basquete cadeirante "foi tudo" em sua vida depois do acidente. Ele se reencontrou na quadra, onde recebeu uma resposta sobre a vida na cadeira de rodas: "Eu também posso".

Essa mensagem também foi recebida por uma criança que foi prestigiar o evento. Junto dos pais, Diego Oliveira, de nove anos, foi assistir ao lançamento da parceria e ver o esporte sendo praticado em quadra por pessoas em cadeiras de rodas. Sua mãe, Janaína, contou que ele queria ser jogador de futebol, "mas agora quer ser de basquete".

A cadeira de rodas virou companheira de Diego há dois anos. Em maio de 2020, ele teve meningite, ficou internado por 50 dias e saiu do hospital sem andar. Ele, que era uma criança muito ativa, agora procura seguir com a prática de exercícios de forma adaptada.

Janaína vê a parceria do Santos com o time cadeirante como um indicativo poderoso para crianças e adultos. "É importante para as pessoas verem que é possível, que vão conseguir fazer tudo, que nós vamos adaptar", disse.

Por ter comparecido, Diego foi chamado em quadra para participar do evento e trocou a camisa do Manchester City que vestia pela do Santos Mobydix. Para o técnico da equipe, a visita do jovem foi um "marco", já que ele acredita que servirá como exemplo para mais crianças cadeirantes entrarem no esporte. "Que sirva de inspiração", concluiu.