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Alana Ambrosio superou 'haters' e machismo para virar comentarista da NBA

Alana Ambrosio, comentarista de NBA da ESPN - Reprodução/Instagram
Alana Ambrosio, comentarista de NBA da ESPN Imagem: Reprodução/Instagram

Do UOL, em São Paulo

01/06/2022 04h00

Mundial, pré-olímpico e, a partir de amanhã, mais uma final da NBA. Quem vê Alana Ambrosio nas transmissões da ESPN nem imagina que a relação da jornalista de 30 anos com o basquete começou bem longe das quadras. Mais precisamente no sofá de casa, ao lado do pai.

O mundo das cestas entrou na vida de Alana quando ela estava prestes a ingressar na faculdade de jornalismo, aos 17 anos. A aventura, porém, não passava de um divertido "momento pai e filha". Nunca havia passado na cabeça dela trabalhar com jornalismo esportivo.

Alana Ambrosio ao lado de seu pai - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Alana Ambrosio ao lado de seu pai
Imagem: Reprodução/Instagram

"Era algo meu e do meu pai. Chegávamos em casa e assistíamos aos jogos. Eu tenho uma ligação muito forte com o meu pai e o basquete entrou por aí", contou Alana, em entrevista exclusiva ao UOL Esporte.

O tempo, porém, colocou Alana no caminho das quadras. Os comentários despretensiosos nas redações por onde passou a levaram até a ESPN. Apadrinhada por Ricardo Bulgarelli e Mário Marra, a comentarista ingressou no canal através de uma iniciativa para levar mulheres para comentar NBA e NFL. Ela agradou e foi contratada pouco depois. Porém, com a exposição, vieram os primeiros 'haters'.

Qualquer mulher que ocupe lugares majoritariamente masculinos vai estar sujeita a esse tipo de coisa, e eu não sou exceção. Vejo que existe uma relutância em aceitar, em muitos momentos, que existem mulheres que se interessam, que gostem de esporte e que estejam ocupando esses lugares. Na internet é algo descomunal, porque você pode se esconder atrás de um fake"
ALANA AMBROSIO

Pouco conhecida e sem um "histórico de jogadora" para validar seus comentários, Alana admite que "sentiu muito" as críticas e preconceitos nas redes sociais. Isso, inclusive, levou a comentarista esportiva a cogitar desistir da profissão no início da carreira.

"Já passou pela minha cabeça desistir e continuar apenas falando de basquete, mas não necessariamente ocupando esses espaços tão grandes na mídia nacional", falou a jornalista, que teve um blog sobre basquete e futebol durante a faculdade.

A cobertura do Mundial de basquete de 2019, na China, fez Alana persistir: "No começo, eu tinha até medo de comentar jogos, porque eu fazia muito programa, dava minha opinião, falava sobre o jogo, mas não comentava partidas. Me perguntava se eu realmente conseguiria fazer isso. Aí eu lembrei do Mundial e não pensei mais em desistir, porque amo o que faço".

De choro a encontro com ídolos

China, 2019. Essa dupla foi palco da cesta decisiva na carreira de Alana. Após abrir mão das férias para, sozinha, cobrir o Mundial de basquete daquele ano, a jornalista encarou as próprias inseguranças para entregar conteúdos diariamente para a ESPN.

Alana Ambrosio - ESPN - ESPN
Alana Ambrosio
Imagem: ESPN

"Quando eu estava prestes a sair de férias, perguntei se a ESPN queria que eu cobrisse o Mundial, e eles toparam, mas fiquei um pouco desesperada porque eu iria sozinha", admitiu Alana.

Os "perrengues", porém, estavam apenas no início. Além do "choque cultural gigantesco", Alana não conseguiu acompanhar um treino da seleção dos Estados Unidos logo no primeiro dia de cobertura, em Xangai, e viu seu tripé "espatifar" ao gravar um boletim. O que restou? Chorar um pouco e fazer dar certo.

"Peguei o caminho errado, começou a chover, fiquei toda molhada, com os equipamentos todos molhados, e não pude pegar a minha credencial. Só que eu tinha prometido um boletim sobre o jogo. Eu ia começar a gravar do lado de fora mesmo, mas meu tripé caiu e se espatifou, o áudio do microfone não funcionava. Deu tudo errado", contou Alana.

"Eu sentei na calçada, segurei o choro, acho que nem segurei tão bem, e falei: 'não é possível, isso vai ter que dar certo!', me recompus e consegui fazer o boletim. No final, por algumas linhas tortas, deu tudo certo", completou.

O "pequeno caos" de Alana no Oriente, também contou com momentos gloriosos, como entrevistas com Nikola Vucevic (Chicago Bulls e da seleção de Montenegro), Giannis Antetokounmpo (Milwaukee Bucks e seleção grega), Leandrinho, Anderson Varejão e Gregg Popovich (técnico da seleção dos EUA).

De quebra, ela acompanhou a invicta campanha do Brasil na primeira fase — que encerraria a competição na 13ª colocação — e a vitória da Espanha de Ricky Rubio e Marc Gasol sobre a Argentina na final.

"Foi uma das experiências profissionais mais legais, pois me abriu muitas portas e me consolidou muito como a profissional que estava me tornando", resumiu a jornalista.

'Representatividade é tudo'

Outro fator que impediu Alana de abandonar a carreira como comentarista de basquete é o raro espaço que ocupa no jornalismo esportivo, especialmente na cobertura do basquete.

Representatividade é tudo. Eu acredito piamente, e se não acreditasse talvez nem tivesse continuado, que estar aqui é muito importante, não só para mim, mas para mulheres que são apaixonadas por esporte, que querem só ter o direito de gostar em paz de basquete sem serem criticadas ou bombardeadas por perguntas que não seriam feitas a um homem"
ALANA AMBROSIO

Com três décadas nas costas, a jornalista espera que seus passos sirvam de inspiração para o surgimento de outras apresentadoras, comentaristas e repórteres. Algo que, hoje, é realidade nos Estados Unidos, berço da NBA.

"É crucial estar preenchendo espaços. Se olhar os EUA, você vê que o esporte já está muito mais difundido entre as mulheres. E, nas coberturas, você vê repórteres, comentaristas e narradoras. O [meu] objetivo, no macro, é que os passinhos que estou dando hoje sirvam para que lá na frente eu não fale que sou uma das únicas."

'Explosão' da NBA no Brasil

Apesar de Alana ser uma das poucas representantes femininas na cobertura do basquete no Brasil, as mulheres, segundo o Ibope, são quase metade (45%) dos fãs do esporte no país.

Alana Ambrosio ao lado de Everaldo Marques na NBA House - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Alana Ambrosio ao lado de Everaldo Marques na NBA House
Imagem: Reprodução/Instagram

O Brasil é o 3º maior mercado da NBA, atrás apenas de EUA e China, tendo crescido mais de 50% nos últimos dois anos, de acordo com Rodrigo Vicentini, head da NBA no país. Segundo pesquisa do Ibope Repucom, o número de brasileiros que acompanham a liga de basquete norte-americano subiu de 31 milhões em 2019 para 45 milhões em 2021.

"Acho que têm algumas coisas que a gente pode destacar: Primeiro é o investimento. O Brasil é um dos maiores mercados do mundo, e a NBA investe pesado aqui. Então, isso faz com que a Liga seja mais do que apenas uma liga esportiva, porque vira um espetáculo", disse Alana.

"Num jogo, tem toda uma cultura atrelada ao esporte, seja com as roupas, as músicas, todo o lifestyle do basquete. Acho que é esse isso que populariza tanto o esporte aqui", completou.

E a final?

Falando na final, Golden State Warriors e Boston Celtics tiveram caminhos diferentes até chegar à decisão. A franquia de São Francisco passou de forma tranquila pelos Dallas Mavericks (4-1) para vencer a final da Conferência Oeste. Já os Celtics tiveram uma batalha árdua contra o Miami Heat (4-3) para se consagrarem campeões da Conferência Leste.

Com a chegada da grande final da NBA desta temporada, Alana analisou as duas equipes e deu um palpite do que pode acontecer. Para ela, o Golden State chega forte, ainda mais com o retorno do trio Klay Thompson, Draymond Green e Stephen Curry.

"Posso destacar que o Golden State tem uma base muito sólida e campeã. A base, que vem diferente dos anos de título, adicionando peças, mas o sistema é o mesmo. Os Warriors vêm com essa narrativa muito forte", disse Alana.

Alana Ambrosio durante cobertura NBA para a ESPN - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Alana Ambrosio durante cobertura NBA para a ESPN
Imagem: Reprodução/Instagram

Já com relação ao Boston, a jornalista reforçou a reviravolta que o time sofreu ao longo do ano, de não ter 50% de vitórias em janeiro para terminar com a melhor defesa da temporada regular.

"Do outro lado, o Boston tem uma narrativa impressionante também (...). O Celtics consegue terminar em segundo no Leste e com a melhor defesa da temporada regular, fazendo um jogo coletivo muito forte e sob o comando de duas estrelas, Jayson Tatum e Jaylen Brown", completou.

O primeiro embate entre as duas equipes acontece amanhã (02), às 22h (de Brasília), no Chase Center, casa dos Warriors. Apesar de analisar muito bem os dois times, Alana acabou ficando em cima do muro ao palpitar sobre quem leva a NBA nesta temporada.

"Então, acho que fazer uma previsão é um pouco difícil, mas a gente pode esperar um confronto de defesas muito fortes e as estrelas se sobressaindo. Agora, o Golden State, por toda a experiência, é um grande candidato, embora o Boston esteja na fila há um bom tempo", finalizou.