Medalhista olímpica revela abuso sexual e racismo enquanto defendia seleção
A ex-velocista britânica Anyika Onuora, que ganhou medalha de bronze nas Olimpíadas do Rio-2016, no revezamento 4x100, revelou que foi já vítima de racismo e de estupro até mesmo quando competia pela seleção. No livro My Hidden Race (Minha raça oculta, em tradução livre), que será lançado amanhã no Reino Unido, ela conta episódios de abuso e racismo que marcaram a sua vida.
Em um um trecho do livro publicado pelo jornal britânico Mirror, Onuora, que se aposentou em 2019, conta alguns episódios que marcaram sua vida e diz que experimentou "coisas como atleta que me assombram dia e noite. Não importa o quanto eu tente, nunca serei capaz de superar os demônios da minha mente".
"Fui brutalmente agredida sexualmente, sofri abuso racial frequente e tentei suicídio duas vezes. Tudo isso enquanto competia pelo meu país."
Filha de pais nigerianos, ela conta, durante a infância, que ela e sua família eram os únicos negros no subúrbio de Dingle, em Liverpool. "Estávamos acostumados a ser os únicos rostos negros em um mundo de brancos, mas nunca tínhamos experimentado um ódio tão descarado. Saíamos de casa por apenas dois motivos; para ir à escola ou à igreja."
Onuora diz que foi xingada diversas vezes, que as pessoas atiravam frequentemente tijolos nas janelas da casa onde vivia e que o carro da família chegou a ser incendiado.
Quando ela se mudou para outro distrito, uma amiga a convenceu a ir a um clube esportivo, onde Onuora diz que se descobriu "forte, livre e, às vezes, imparável".
Abusos sexuais
Entre as experiências traumáticas que ela revelou está uma, durante uma sessão de fisioterapia. "Um dia o fisioterapeuta que me atendia regularmente não estava disponível e um substituto entrou em cena. Quando eu estava totalmente relaxada e ele se moveu para o meu quadril, colocou a mão diretamente na minha vagina e a retirou. Para [cuidar] da parte inferior das minhas costas, ele subiu na mesa de tratamento e montou em mim, dizendo que precisava obter mais força para liberar os músculos tensos. Eu podia sentir sua masculinidade através das calças e me senti completamente violada, mas impotente", diz. A velocista diz que só muito mais tarde um amigo também fisioterapeuta lhe disse que ela havia sido vítima de agressão sexual.
Outro episódio revelado por ela aconteceu anos mais tarde, quando ela competia fora do país. Um esportista, que ela não revelou o nome, teria insistido muito para dançar com ela durante um jantar, após as competições, com todos os membros da equipe. Mas ela negou todas as tentativas de aproximação do homem.
Quando ela lhe disse que iria embora, o esportista a agarrou com força pela cintura e lhe falou que ela perderia uma 'noite incrível'. Ela novamente se desvencilhou e foi embora. Mas quando já estava se preparando para dormir no quarto do hotel, ouviu alguém forçando a porta. Ela abriu. Era o mesmo esportista, que a agarrou novamente e lhe disse que não iria embora até que ela admitisse que gostava dele.
"De repente eu estava com medo. O esportista me disse que não sabia por que eu estava tentando lutar contra isso. Ele tinha meus braços presos com os joelhos e meus pulsos acima da minha cabeça. Ele arrancou minha calcinha. Fiquei completamente entorpecida, chorando incontrolavelmente. Meu corpo estava em convulsão."
"Eu disse a mim mesmo: 'Apenas continue lutando com tudo, Anyika. Lute com ele. Lutar.' Quando estava prestes a completar o ato, ele soltou seu joelho que estava prendendo minha perna direita. Eu chutei o mais forte que pude nos seus órgãos genitais. Ele gritou. Eu o expulsei".
A velocista disse que nunca revelou os episódios para ninguém da equipe de atletismo britânico. "Nunca senti que houvesse alguém que poderia entender o que eu havia passado. A grande maioria da equipe de apoio era branca e nenhuma havia sofrido discriminação racial."
Ela ainda diz que resolveu falar sobre o assunto com a esperança de dar coragem para outras atletas e mulheres que passaram por situações do tipo falem e peçam ajuda.
Caso você esteja pensando em cometer suicídio, procure ajuda especializada como o CVV e os CAPS (Centros de Atenção Psicossocial) da sua cidade. O CVV funciona 24 horas por dia (inclusive aos feriados) pelo telefone 188, e também atende por e-mail, chat e pessoalmente. São mais de 120 postos de atendimento em todo o Brasil
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