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14 Anéis

Warriors superam os Celtics e estão a uma vitória de mais um título da NBA

Andrew Wiggins voa para a enterrada na vitória do Golden State Warriors - NBA/Twitter
Andrew Wiggins voa para a enterrada na vitória do Golden State Warriors Imagem: NBA/Twitter

Vitor Camargo

14/06/2022 00h56

Em uma série marcada pelo equilíbrio - apenas um ponto separava as duas equipes nos primeiros quatro jogos da série - e pelo excelente nível de basquete apresentado por ambas as equipes, foi um pouco chocante ver o quão terrível o Boston Celtics esteve no primeiro quarto do Jogo 5 das Finais da NBA. Foi um dos piores quartos de basquete que Boston jogou no ano, e onde todas as suas piores tendências estiveram em primeiro plano: a péssima tomada de decisões, os turnovers que cediam cestas fáceis ao adversário, posses de bola no ataque onde o time não rodava a bola nem abria espaços antes de arremessar, e uma geral desatenção ao jogo. Seria uma pequena prévia do que viria a acontecer nesse Jogo 5, que acabou com vitória do Golden State Warriors por 104 a 94 e coloca a equipe da Califórnia com uma mão na taça.

Nos primeiros 12 minutos de jogo, os Celtics anotaram míseros 16 pontos, cometeram quatro turnovers, e não acertaram uma única bola de três ou lance livre. Golden State anotou 27 para abrir 11 pontos de vantagem, e isso sem jogar particularmente bem no ataque apesar de uma defesa feroz e muito ativa. A única coisa que impediu uma diferença maior foi uma série de cestas difíceis das estrelas de Boston, Jaylen Brown e Jayson Tatum, que combinaram para 10 pontos no período, e um Stephen Curry visivelmente cansado após sua obra-prima no Jogo 4. A desvantagem, nesse sentido, ficou até barata, e deu esperança para as hostes celtas.

Boston até que voltou mais ligado no segundo tempo, se aproveitando da ausência de Curry para apertar defensivamente e cortar a vantagem para 6 pontos com boas jogadas de Tatum e Marcus Smart, mas esbarrou em outro problema: a incapacidade de acertar bolas de três pontos. Foram DOZE erros consecutivos para começar o jogo, a pior marca das Finais da NBA em 25 anos, e que ajudaram a manter Golden State com uma vantagem confortável. Eventualmente, as bolas de três de Boston começaram a cair e Tatum, Horford e Smart chegaram a acertar três consecutivas, mas a essa altura Golden State já tinha recuperado seu ritmo e voltado a embalar.

Com Kevon Looney em problema de faltas, Golden State apostou nas suas formações baixas com Draymond Green de pivô, e funcionou bem até demais: após quatro jogos péssimos para começar as Finais, Green teve um excelente primeiro tempo dos dois lados da quadra, anotando 8 pontos - o mesmo número que anotou nos Jogos 1, 3 e 4 SOMADOS - 4 rebotes, 3 assistências e sendo o destruidor de mundos na defesa que estamos acostumados. E Boston, naturalmente, não conseguiu deixar de atirar no próprio pé: foram mais cinco turnovers no segundo quarto, elevando o total do time para 9 na partida, e errando quatro lances livres dos oito que tentou.

E o grande nome do primeiro tempo foi o de Andrew Wiggins, que vem sendo com folgas o segundo melhor jogador dos Warriors nas Finais. Se aproveitando da defesa extrema que os Celtics dedicaram a Curry - efetivamente fazendo Golden State jogar 4 vs 4 no ataque em certos momentos - e da formação mais baixa da equipe, o canadense dominou o garrafão e os rebotes, terminando o primeiro tempo com 16 pontos e 7 rebotes, jogando quase como pivô em algumas jogadas e acertando os arremessos de meia distância. A vantagem, que tinha chegado a cair para seis pontos, voltou a ser de doze no intervalo - e mais uma vez a sensação é de que tinha ficado barato para os Celtics.

Mas então chegou o terceiro quarto, e veio a arrancada que todo mundo esperava... só que do time errado. Foi o Boston Celtics que anotou os primeiros 10 pontos para abrir o período, e depois acertou SEIS bolas de três pontos consecutivas - três delas de Jayson Tatum - para empatar e eventualmente passar à frente no placar na metade do terceiro quarto, 58 a 55. Com Stephen Curry frio nos arremessos (0-9 nas bolas longas) e Boston no bônus com 7 minutos restantes, os Celtics tiveram a chance de disparar no placar, mas Curry fez o que grandes jogadores fazem: encontram outras formas de impactar o jogo. Curry deu três assistências (duas para bolas de três pontos) e criou diversas outras, atraindo a defesa e iniciando sequências de passes.

Nesse momento o jogo virou simplesmente um tiroteio, como dois boxeadores pesos pesados que já não tem mais cartas na manga e simplesmente trocam golpes até um cair. Toda vez que um time passava à frente, o outro respondia; toda cesta espetacular de um lado logo encontrava uma igual segundos depois. Tatum fez grandes cestas e deu alguns passes verdadeiramente espetaculares e fez bolas longas, Jaylen Brown apareceu para o jogo, Klay Thompson acertou dois chutes de três, Poole outros dois, e os minutos finais foram dos mais insanos que você vai ver em uma quadra de basquete, qualidade pura de ambos os lados. Quando a poeira baixou e o relógio apitou o fim do quarto, a vantagem de Golden State era de apenas um ponto.

E se o terceiro período de Golden State não foi o que esperávamos, o último quarto mostrou que ele apenas tinha se atrasado. Com Curry no banco de reservas, Golden State emendou uma sequência de 10-0 para passar à frente e abrir uma vantagem que não entregariam mais em meio a - adivinhe - uma série de erros mentais do Boston Celtics, cujo ataque novamente parou de rodar a bola e executar ações, e ao invés disso voltou a forçar arremessos contestados. Algumas marcações questionáveis dos juízes também ajudaram a tirar os Celtics do jogo mentalmente, e Golden State aproveitou para abrir vantagem novamente liderado pela atuação de gala de Andrew Wiggins. Boston ainda cometeria mais turnovers para acabar o jogo com 18 no total, além de 10 lances livres errados; nos nove primeiros minutos do período decisivo, Boston tinha anotado apenas cinco pontos. E não poderia ser outro que não Wiggins a dar o ponto final na partida, que acabou com vitória dos Warriors por 104 a 94.

Golden State agora está a apenas uma vitória do título, podendo conquistar seu quarto anel em oito anos já na quinta-feira, em Boston. A série ainda não acabou, é claro: Boston superou adversidade o ano inteiro, e não se deve alimentar qualquer ilusão de que Golden State terá vida fácil no próximo (ou próximos) jogo(s). Os Celtics estão 3-0 nesses playoffs em jogos eliminatórios, com duas dessas vitórias fora de casa; eles vão vender caro uma possível eliminação.

Mas essa é o tipo da derrota que deve doer, e muito. Por quatro jogos, Stephen Curry e sua grandeza foi o único motivo dos Warriors sequer terem uma chance; o resto do time estava entre apagado e péssimo, e se não fosse por Steph jogando em outra estratosfera, a série estaria 3-1 para Boston ou até mesmo já acabada. No Jogo 5, no entanto, Boston finalmente viu Steph ter sua pior partida - 0-9 nas bolas longas, 7-22 nos arremessos para 16 pontos - e mesmo assim a equipe não conseguiu sair com a vitória. Depois de quatro jogos carregando seus companheiros nas costas, foi a vez do resto do time de Golden State aparecer e ajudar sua estrela na sua pior atuação na série (embora, vale citar, Curry foi espetacular nos passes e na defesa): Wiggins teve 26 pontos e 13 rebotes, Klay Thompson 21 pontos com cinco bolas longas, Jordan Poole e Gary Payton combinando para 29 vindo do banco, e até Draymond Green com 8-8-7 e sua defesa de outro mundo como sempre. Pela primeira vez na série, os Warriors mostraram a força do seu coletivo - e, como consequência, estão perto de voltarem ao topo da NBA