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MP do Rio denuncia tenista Thiago Wild por violência doméstica contra ex

Thiago Wild em retrato para a ATP - Getty Images
Thiago Wild em retrato para a ATP Imagem: Getty Images

Beatriz Cesarini

Do UOL, em São Paulo

17/06/2022 04h00

O Ministério Público do Rio de Janeiro denunciou o tenista Thiago Wild, número 254 do mundo, por violência doméstica e psicológica contra a ex-mulher, a biomédica e influencer Thayane Lima. O tenista também corre o risco de ser preso por não pagar uma pensão alimentícia à jovem.

"No dia 08 de maio de 2020, [...] o denunciado Thiago consciente e voluntariamente, praticou vias de fato em face de sua ex-companheira/vítima: Thayane Lima da Silva, ao apertar abruptamente o dedo desta", diz a denúncia à qual a reportagem do UOL Esporte teve acesso.

"Em seu agir, o denunciado valendo-se do fato da vítima ser sua dependente financeira, humilhava e ridicularizava sua companheira perante familiares e amigos, chamando-a de incapaz, louca, lixo, piranha, puta barata, fiscalizava as redes sociais de sua companheira, determinando as postagens que poderiam ser mantidas, ressaltava com seus amigos que traía constantemente a vítima, bem como detalhava atos íntimos do casal afirmando que o sexo com sua companheira era insuficiente", relata outro trecho da denúncia baseada em provas anexadas ao processo às quais a reportagem também teve acesso.

A reportagem do UOL Esporte entrou em contato com os representantes de Thiago Wild solicitando um posicionamento e não obteve retorno até a publicação desta matéria. Há um ano, o atleta era o 129º colocado no ranking mundial e número 2 no Brasil. Atualmente, ele é o 254 no mundo e é o quinto na classificação nacional.

No último dia 13 de junho, Thiago foi eliminado do Challenger Blois, na França, ainda na fase de qualificação.

Em agosto do ano passado, Thayane relatou ter vivido um relacionamento abusivo ao lado de Thiago Wild. Ela descobriu várias traições do atleta ao longo do relacionamento que durou cerca de um ano, se separou dele e, precisou realizar tratamentos psiquiátrico e psicológico.

"Sem que eu percebesse, ele fez com que eu mudasse tudo na minha vida. Passei a não poder usar decote, nem à praia eu podia ir pra não usar biquíni. Sempre usei unha grande, mas ele gostava de curta porque afirmava que unha grande era 'de puta'. Se a minha opinião política não fosse igual a dele —e de fato não é—, ele me chamava de burra e dizia que eu tinha que ficar com os 'pretos fod... que eu andava'. Thiago também mandou eu tirar meu piercing do nariz e reclamava do meu sotaque, dizendo que carioca fala 'igual favelado'", disse Thayane, na época, ao UOL.

A polícia do Rio de Janeiro passou a investigar o tenista Thiago Wild pelos crimes de violência psicológica, injúria e lesão corporal cometidos contra Thayane. Após a conclusão desse processo, o atleta foi indiciado em outubro do ano passado em decisão da delegada Giselle do Espírito Santo e o inquérito criminal foi enviado à 1ª Promotoria de Justiça de Investigação Penal de Violência Doméstica de Jacarepaguá (zona oeste do Rio). Em seguida, as autoridades encaminharam o pedido de instauração de processo criminal ao Ministério Público do estado.

"Muitas mulheres não se libertam de relacionamentos abusivos e não denunciam seus agressores por medo de não serem ouvidas.
Esse foi um passo importante para que todas vejam que os agressores podem, sim, ser responsabilizados, tanto para dar suporte para recomeçarem sua vida, quanto criminalmente. Nenhuma mulher deve se sujeitar a nenhum tipo de violência doméstica. Sempre há tempo de recomeçar", destacou a advogada e representante de Thayane, Gabriela Amábile.

Pensão alimentícia

No fim do ano passado, após ação de Thayane, com auxílio da advogada Gabriela Amábile, a Justiça determinou o pagamento de uma pensão alimentícia de Thiago à jovem, porque o atleta impedia que a biomédica e influencer trabalhasse e a deixou desamparada após o término do relacionamento.

Até o momento, Thiago não realizou o pagamento da pensão. A Justiça, então, expediu uma notificação para que o atleta cumpra a determinação, sob pena de prisão.

Quando conheceu o tenista, em 2019, a jovem trabalhava como influencer digital e fazia faculdade de biomedicina. Aos 21 anos, ela já conseguia se manter sem precisar do apoio dos pais e pagava o aluguel do apartamento em que morava na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. Tudo mudou depois que ela passou a se relacionar com Wild.

"Eu dependia financeiramente do Thiago. Estávamos numa união estável, então por pedido dele eu parei de trabalhar com as publicidades no Instagram. Após eu descobrir as várias traições, os pais dele ficaram cientes e alegaram que me dariam apoio material e psicológico junto com o Thiago, mas isso nunca aconteceu e acabei totalmente desamparada", declarou Thayane.

Ainda segundo a biomédica de 22 anos, o tenista não gostava do seu trabalho como influencer digital. Por esse motivo, ele se propôs a sustentá-la e, inclusive, alugar outro imóvel que era além das possibilidades financeiras dela. Com isso, Thayane chegou a perder mais de 400 mil seguidores de sua conta oficial do Instagram, a qual usava como meio de trabalho.

"Comecei a parar de trabalhar como influencer porque cada trabalho que eu fazia era uma briga de três dias, ele dizia que se sentia abalado e me proibia. Fui perdendo os contatos de pessoas que me ofereciam trabalhos e fiquei sem emprego", continuou a biomédica.

Assim que descobriu as traições e decidiu se separar, Thayane relata que ficou desamparada. Segundo a biomédica, uma das últimas ações de Thiago foi encerrar o contrato de aluguel, onde eles viviam e ela ainda morava, sem avisá-la. Ela apenas recebeu a notificação de despejo e foi se hospedar, de favor, na casa de uma amiga.

Como denunciar a violência doméstica psicológica

Da mesma maneira que outros tipos de violência contra a mulher: em flagrantes de violência doméstica, ou seja, quando alguém está presenciando esse tipo de agressão, a Polícia Militar deve ser acionada pelo telefone 190. O Ligue 180 é o canal criado para mulheres que estão passando por situações de violência. A Central de Atendimento à Mulher funciona em todo o país e também no exterior, 24 horas por dia. A ligação é gratuita.

O Ligue 180 recebe denúncias, dá orientação de especialistas e encaminhamento para serviços de proteção e auxílio psicológico. Também é possível acionar esse serviço pelo Whatsapp. Neste caso, o telefone é (61) 99656-5008.