Bia e Branca dizem que 'não é comum' atleta desmaiar na piscina
É comum uma atleta desmaiar na piscina e afundar durante apresentações do nado sincronizado? A resposta é não, e as gêmeas Bia e Branca foram categóricas para comentar o drama vivido pela americana Anita Álvarez, de 25 anos, durante uma exibição no Mundial de Esportes Aquáticos, em Budapeste, na Hungria, anteontem.
"A gente já viu, sim, atleta passar mal, a gente já presenciou amigas nossas passando mal, de sair arrastada. Até de puxar uma atleta que está 'meio que desfalecendo'. Mas de afundar e desmaiar duas vezes em competição, não, não vimos", afirmou Bia à reportagem do UOL Esporte.
Anita Álvarez, que se recuperou do susto, já havia perdido a consciência uma vez. Antes da última quarta-feira, ela precisou ser socorrida em uma etapa classificatória para as Olimpíadas de Tóquio, em Barcelona, na prova de duplas. A americana foi substituída para a sequência da disputa.
Complementando o raciocínio da irmã gêmea, de que não foi um fato comum, Branca ressaltou que a resistência humana era ainda mais desafiada nas provas totalmente submersas do nado.
"Antigamente, era mais comum existirem desmaios no nado sincronizado, quando havia prova de figura. É uma prova totalmente submersa, não tem música e a atleta tem que executar tudo muito lento. Após a figura, já aconteceu de atletas desmaiarem, inclusive eu, Branca, já resgatei uma [atleta] em uma competição, em 2003. Mas isso [de afundar] não é comum, porque a gente treina para conseguir fazer a coreografia inteira, até o final."
Bronze nos Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro, em 2007, Bia e Branca dedicaram 22 anos de suas vidas ao esporte, o qual classificam como 'muito louco'. Foram experiências em sul-americanos, Olimpíadas e mundiais ao longo do período.
Hoje apresentadoras, as gêmeas têm diversas histórias de esgotamento físico no nado sincronizado. É preciso conviver com a apneia (parar de respirar), e às vezes lidar com dormência da língua, dente quebrado, visão turva e 'tudo preto', além de aguentar pontapés durante uma apresentação.
Ainda com uma rotina ativa, Bia tem certeza de que nenhuma atividade física se aproxima do desgaste que sentia na piscina. "O nado sincronizado tem um desgaste que é diferente de qualquer esporte. Hoje eu faço spinning, pedalo superforte, corro, faço muay thai, adoro fazer atividades diferentes, mas nada é igual. A gente trabalha em apneia, então é um cansaço que a gente chega a passar mal. Mas, é aquilo, se você está passando mal, tem que subir e respirar. Já vi vários atletas no treino passarem mal", contou.
"É um esporte muito desgastante, muito louco mesmo. Imagina você correndo, correndo sem respirar e tendo que sorrir. E às vezes com alguém te batendo, porque a gente se chuta pra caramba debaixo d'água. É um esporte muito intenso", acrescentou.
Concussões no esporte levantam debate
As consequências da apneia podem ser graves, mas não é só isso. Em 2016, o 'The New York Times' publicou um estudo chamando a atenção para casos de concussão (lesão cerebral causada por pancadas na cabeça) entre atletas do nado sincronizado. O médico Bill Moreau, que à época era diretor de medicina esportiva do Comitê Olímpico dos Estados Unidos, mostrou preocupação com os quadros frequentes.
"Na TV, parece que eles estão a uma grande distância, mas na verdade estão a um metro de distância", disse Moreau, que acompanhou por anos a equipe norte-americana. "Eu estava pensando que veria alguns espasmos por estarem na piscina, problemas respiratórios, mas estava totalmente despreparado para metade da equipe sofrer concussões."
A americana Sarah Urke se aposentou por este motivo, em 2009, após sofrer uma pancada em um treinamento. Anos depois, em preparação para os Jogos do Rio, a espanhola Ona Carbonnel sofreu concussão durante um evento-teste.
"Eu diria que 100% dos meus atletas sofrerão uma concussão em algum momento", disse Myriam Glez, ex-atleta da modalidade e que chefiou a delegação dos Estados Unidos, também ao NY Times. "Pode ser menor, pode ser mais sério, mas em algum momento serão atingidos."
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