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Bia e Branca dizem que 'não é comum' atleta desmaiar na piscina

Norte-americana desmaia no nado sincronizado

Thiago Tassi

Do UOL, em São Paulo

24/06/2022 04h00

É comum uma atleta desmaiar na piscina e afundar durante apresentações do nado sincronizado? A resposta é não, e as gêmeas Bia e Branca foram categóricas para comentar o drama vivido pela americana Anita Álvarez, de 25 anos, durante uma exibição no Mundial de Esportes Aquáticos, em Budapeste, na Hungria, anteontem.

"A gente já viu, sim, atleta passar mal, a gente já presenciou amigas nossas passando mal, de sair arrastada. Até de puxar uma atleta que está 'meio que desfalecendo'. Mas de afundar e desmaiar duas vezes em competição, não, não vimos", afirmou Bia à reportagem do UOL Esporte.

Anita Álvarez, que se recuperou do susto, já havia perdido a consciência uma vez. Antes da última quarta-feira, ela precisou ser socorrida em uma etapa classificatória para as Olimpíadas de Tóquio, em Barcelona, na prova de duplas. A americana foi substituída para a sequência da disputa.

Complementando o raciocínio da irmã gêmea, de que não foi um fato comum, Branca ressaltou que a resistência humana era ainda mais desafiada nas provas totalmente submersas do nado.

"Antigamente, era mais comum existirem desmaios no nado sincronizado, quando havia prova de figura. É uma prova totalmente submersa, não tem música e a atleta tem que executar tudo muito lento. Após a figura, já aconteceu de atletas desmaiarem, inclusive eu, Branca, já resgatei uma [atleta] em uma competição, em 2003. Mas isso [de afundar] não é comum, porque a gente treina para conseguir fazer a coreografia inteira, até o final."

Bronze nos Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro, em 2007, Bia e Branca dedicaram 22 anos de suas vidas ao esporte, o qual classificam como 'muito louco'. Foram experiências em sul-americanos, Olimpíadas e mundiais ao longo do período.

Hoje apresentadoras, as gêmeas têm diversas histórias de esgotamento físico no nado sincronizado. É preciso conviver com a apneia (parar de respirar), e às vezes lidar com dormência da língua, dente quebrado, visão turva e 'tudo preto', além de aguentar pontapés durante uma apresentação.

Bia e Branca mostram o look escolhido para o casamento de Bárbara Coelho - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Imagem: Reprodução/Instagram

Ainda com uma rotina ativa, Bia tem certeza de que nenhuma atividade física se aproxima do desgaste que sentia na piscina. "O nado sincronizado tem um desgaste que é diferente de qualquer esporte. Hoje eu faço spinning, pedalo superforte, corro, faço muay thai, adoro fazer atividades diferentes, mas nada é igual. A gente trabalha em apneia, então é um cansaço que a gente chega a passar mal. Mas, é aquilo, se você está passando mal, tem que subir e respirar. Já vi vários atletas no treino passarem mal", contou.

"É um esporte muito desgastante, muito louco mesmo. Imagina você correndo, correndo sem respirar e tendo que sorrir. E às vezes com alguém te batendo, porque a gente se chuta pra caramba debaixo d'água. É um esporte muito intenso", acrescentou.

Concussões no esporte levantam debate

Anita Alvarez, dos EUA, passou mal durante prova do nado sincronizado no Mundial de Esportes Aquáticos - Dean Mouhtaropoulos/Getty Images - Dean Mouhtaropoulos/Getty Images
Imagem: Dean Mouhtaropoulos/Getty Images

As consequências da apneia podem ser graves, mas não é só isso. Em 2016, o 'The New York Times' publicou um estudo chamando a atenção para casos de concussão (lesão cerebral causada por pancadas na cabeça) entre atletas do nado sincronizado. O médico Bill Moreau, que à época era diretor de medicina esportiva do Comitê Olímpico dos Estados Unidos, mostrou preocupação com os quadros frequentes.

"Na TV, parece que eles estão a uma grande distância, mas na verdade estão a um metro de distância", disse Moreau, que acompanhou por anos a equipe norte-americana. "Eu estava pensando que veria alguns espasmos por estarem na piscina, problemas respiratórios, mas estava totalmente despreparado para metade da equipe sofrer concussões."

A americana Sarah Urke se aposentou por este motivo, em 2009, após sofrer uma pancada em um treinamento. Anos depois, em preparação para os Jogos do Rio, a espanhola Ona Carbonnel sofreu concussão durante um evento-teste.

"Eu diria que 100% dos meus atletas sofrerão uma concussão em algum momento", disse Myriam Glez, ex-atleta da modalidade e que chefiou a delegação dos Estados Unidos, também ao NY Times. "Pode ser menor, pode ser mais sério, mas em algum momento serão atingidos."