"Próximo passo é recorde mundial": conheça a história do campeão Alison Piu
Você acredita em destino? Campeão mundial nos 400m com barreiras, Alison "Piu" dos Santos quase desistiu do atletismo porque era introvertido e sentia vergonha das marcas da queimadura que sofreu ainda quando bebê. Apesar disso, o tal destino se uniu ao talento do brasileiro e tratou de colocar Piu no caminho que o levou ao bronze nas Olimpíadas de Tóquio e à conquista histórica da noite de terça-feira (19), em Oregon (EUA). Agora, o plano do jovem de 22 anos é bater o recorde mundial.
"O próximo passo é o recorde mundial, com certeza. Estamos perto e esse é o nosso objetivo. A gente sonha com isso, trabalhamos para isso. A gente sabe que os atletas estão muito bem nessa prova, não adianta quebrar o recorde uma vez só. A gente tem que elevar mesmo o nível dessa prova, porque está cada vez mais difícil. Mas estamos muito focados em quebrar esse recorde, marcar o nome do Brasil lá como recordista mundial", disse Alison em entrevista ao UOL Esporte.
O objetivo é cumprir os 400m em menos de 45s94, a marca do adversário norueguês Karsten Warholm. No Mundial, o brasileiro conquistou a medalha de ouro ao cruzar a linha de chegada em 46s29, superando o atual detentor do recorde mundial e Rai Benjamin, medalhista de prata em Tóquio-2020 —os dois mais rápidos até hoje da história da prova. O brasileiro é o terceiro da lista.
Fã das dancinhas e músicas da moda, Alison contou que o rap foi o destaque da sua playlist do mundial. "Eu estava pra maldade, vim pra ganhar, bater no peito", brincou ele. Foi embalado com músicas de artistas como Major RD, Kayuá e Djonga que o atleta segurou a ansiedade e entregou o seu melhor na pista.
"Sabia que estava muito preparado para essa competição, eu sabia que eu estava na melhor condição para chegar aqui correndo rápido. Estava muito ansioso para chegar aqui e mostrar para todo mundo o quão rápido eu conseguia ir na pista. Conquistar essa medalha foi maravilhoso, único, especial".
Quem vê Piu todo desinibido e empolgado, fazendo coreografias nas apresentações que antecedem o tiro de largada de cada prova, pode não imaginar que ele era extremamente introvertido e inseguro.
Da timidez ao título no Mundial
Quando tinha apenas dez meses, Alison sofreu um acidente doméstico na casa dos avós. Uma panela de óleo quente caiu sobre ele, causando queimaduras de terceiro grau. Ele cresceu incomodado com as marcas que ficaram em seu corpo e decidiu usar sempre um boné para esconder as cicatrizes mais visíveis, que estão na parte superior da cabeça e na testa. Nessas áreas, perdeu os cabelos.
Essa timidez o fez recusar um convite para conhecer o projeto social de atletismo da sua cidade natal, São Joaquim da Barra, no interior paulista. Foi aí que o destino agiu. Os professores do Instituto Edson Luciano Ribeiro ficaram impressionados com o porte físico de Alison, que já media 1,84m aos 14 anos, e não queriam desistir do atleta. Refizeram o convite e, desta vez, o jovem aceitou porque tinha um amigo que já treinava com eles. Isso o deixou mais seguro. Foi no projeto, treinando atletismo, que ganhou o apelido "Piu".
Em sua primeira competição, o Brasileiro sub-16 de 2014, Alison correu inibido, com uma touca amarela. As amizades e o próprio dia a dia no atletismo fizeram o menino tímido ir sumindo para dar lugar ao jovem carismático e líder das coreografias da moda —ele liderava os brasileiros durante as Olimpíadas de Tóquio no TikTok.
Depois que se descobriu barreirista dos 400m com a treinadora Ana Fidélis, Alison dos Santos decolou e virou grande estrela em 2019. Aos 19 anos, bateu sete vezes o recorde brasileiro e sul-americano sub-20, terminando a temporada como líder do ranking mundial. Foi campeão dos Jogos Pan-Americanos de Lima e, ainda juvenil, finalista do Mundial adulto de Doha — ficou em 7º lugar, com o tempo de 48s28, índice para a Olimpíada de Tóquio.
Dois anos depois, em Tóquio, Piu recolocou o Brasil, após 21 anos, em uma final olímpica dos 400m com barreiras. O país já tinha histórico na prova. Eronildes de Araújo foi finalista em Atlanta-1996 e em Sydney-2000, quando foi quinto. Coube a Piu o primeiro pódio: a medalha de bronze veio com o tempo de 46s72 (então o terceiro melhor tempo da história) na prova mais forte de todos os tempos (ouro e prata, Warholme e Benjamin, correram abaixo do recorde mundial e Alison, abaixo do recorde olímpico).
Na última terça-feira (19), Alison fez ainda melhor: se tornou o primeiro corredor brasileiro campeão do Mundial (outdoor) de atletismo. "Acho que vai ser parecido com o que aconteceu em Tóquio. A ficha vai cair quando eu tiver só no avião e dar uma abaixada na ansiedade".
"Quando eu parar e sentar, tiver um momento só meu e pensar: pô, isso aconteceu, tá ligado, essa medalha ta no nosso peito, estamos levando para o Brasil, tá na mochila aqui no avião. Agora, na verdade, eu quero só curtir o momento, aproveitar um pouquinho aqui nos Estados Unidos, ter um pouquinho de diversão, porque logo mais eu vou voltar para o Brasil. Aí só quando eu chegar no Brasil eu vou focar em cair a ficha, focar em ver a prova, uma coisa de cada vez, step by step", comentou o brasileiro.
O que será que o destino reserva agora para Alison?
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