Do Bronx brilha no UFC, mas irmão ainda busca patrocínio para viver da luta
Desde que Anderson Silva deixou o UFC, no final de 2020, Charles Oliveira da Silva, o Charles do Bronx, constrói um caminho que o leva ao posto de maior nome do MMA brasileiro na atualidade. Mas enquanto o lutador do Guarujá (SP) brilha no peso-leve (70 kg) do Ultimate norte-americano, o irmão Hermison Oliveira vive uma rotina bem diferente, longe da fama, e tenta, aos poucos, viver da luta profissional.
Aos 29 anos, três a menos do que o astro do UFC, que fará 33 em outubro, Hermison estreou no LFA (Legacy Fighting Alliance) no último dia 15. O peso-mosca (57 kg) conseguiu patrocinadores pontuais para a luta contra Júnior Assis, da qual saiu derrotado, mas já tinha em mente que, após a exibição, independentemente do resultado, recomeçaria a batalha para encontrar apoiadores para a carreira.
Em entrevista ao UOL Esporte, Hermison Oliveira detalhou a sua rotina, contou como é a relação com Charles do Bronx, seu irmão, treinador e ídolo, falou dos perrengues de quem está começando a carreira e avisou: quer construir a própria trajetória, sem a "sombra" do nome e da fama do mais velho.
"Eu me sinto tranquilo quanto a isso [pressão por ser irmão do Charles], mas tem esse peso. As pessoas veem muito isso. Ele é campeão, eu tenho que ser igual a ele. Mas não é, é uma história totalmente diferente. Eu estou construindo a minha caminhada, estou começando a galgar algo melhor na minha vida. As pessoas colocam muita expectativa por eu ser o irmão do Charles", disse Hermison Oliveira.
O peso-mosca, que tem o irmão como referência, não perde nada a respeito do astro. Acompanha vídeos, fotos, reportagens e, quando sobra um tempinho, treina com Charles e ouve os conselhos do mais velho.
Embora tenha um mentor de luxo bem próximo, Hermison Oliveira não escapa das dificuldades de quem dá os primeiros passos como atleta profissional de MMA. De olho em novos desafios no LFA, ele explica que nem mesmo o sobrenome de peso resolve o problema financeiro.
"Pra essa luta [estreia no LFA], eu tive bastante patrocinador, mas foi para a luta, foi um apoio. Pra arrumar patrocinadores [fixos] está bem difícil. Por ser irmão do Charles, tem gente que olha com o olho meio torto. 'Po, o cara é o campeão, por que o irmão não tem patrocínio?'. É que as marcas querem pessoas que já estejam lá, com o nome grande, porque sabem que vai aparecer o nome. Para arrumar quem quer ajudar do começo é muito difícil. Está bem complicado", contou.
Em busca de apoio, Hermison segue em barbearia
Morando no Guarujá, no litoral sul de São Paulo, Hermison Oliveira construiu uma família, casou-se e tem uma filha de seis anos. Ele treina em média cinco vezes por semana, mas precisa se desdobrar. A rotina na academia se mistura ao trabalho como barbeiro. Enquanto busca apoio para focar exclusivamente na luta, ele mantém uma barbearia aberta para pagar as contas. Charles do Bronx, claro, é um cliente vip do estabelecimento.
"Eu sou barbeiro. Montei meu salãozinho na garagem da minha avó. Eu gosto muito, mas hoje eu tiro a barbearia como um hobby. Meu foco é realmente ser atleta, viver da luta, mas [a barbearia] é de onde eu tiro meu sustento. Então corto o cabelo dos amigos, de pessoas próximas da minha avó. O salão não é muito movimentado, mas eu consigo tirar um dinheirinho para poder me manter", contou.
"Depois dessa luta [no LFA], pode ser que dê uma melhorada. É um evento grande, internacional, acho que vai me ajudar muito. A gente não consegue manter uma dieta, pagar uma dieta, treinamentos. Tudo isso necessita dinheiro. Quanto mais parceiros eu tiver, melhor", acrescentou.
Charles é treinador e muito mais
Vinculado à academia do irmão, a Charles Oliveira Gold Team, no Guarujá, Hermison tem um treinador fixo: o próprio irmão. Ainda que a rotina do astro do UFC seja corrida e nem sempre ele esteja no litoral de SP, eles se falam sempre. E o mais novo escuta as dicas de quem está no topo.
"O treinador fixo que tenho é o Charles, treino na academia dele", disse. "Quando ele está aqui no Guarujá, a gente treina junto, ele dá uns toques, puxa um treino mais pesado. Ele sabe os caminhos já, está no auge, é o maior nome do país no MMA. Então ele vai mostrando os caminhos e indicando o que é melhor fazer. Eu sigo o máximo, porque é um cara que está consolidado no país e no mundo", afirmou.
"Além de ele ser meu irmão, é meu ídolo. Eu procuro seguir muito os passos dele. É escutar e tentar fazer o máximo possível das coisas que ele falar."
Pode chamar de Hermison do Bronx?
"Não tem pra onde correr (risos)". Assim foi a resposta de Hermison sobre as comparações com o irmão famoso e o fato de que já o rotulam como um 'Do Bronx' —Charles recebeu o apelido em referência à origem na favela. Ele admitiu que não gostava de ser chamado assim, mas que foi algo inevitável. Hoje em dia, ele é resolvido.
"Eu ligava um pouco sim. Eu preferia ser chamado de Hermison Oliveira só. Mas é inevitável, já está marcado. É Hermison do Bronx e pronto. (...) A questão do apelido, do sobrenome, quem vai fazer sou eu, lá em cima do octógono, lutando. O povo vai poder conhecer e ver que não sou uma sombra, mas sou uma realidade", disse.
"Procuro, às vezes, até não usar muito o nome dele, só que é algo inevitável. As pessoas já sabem, já conhecem. Os americanos [LFA] colocaram Hermison do Bronx, não tem como eu mudar isso. Ele é meu irmão. Quando eu conseguir me consolidar, todo mundo vai esquecer que eu sou irmão dele, e aí vai ser igual Minotauro e Minotouro, cada um com seu espaço. Os irmãos Oliveira. Estou construindo, indo aos pouquinhos."
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