Polêmicas e negócios: Piquet diz que ganhou mais dinheiro após deixar a F1
Tricampeão mundial de Fórmula 1 (1981, 1983 e 1987), o brasileiro Nelson Piquet voltou aos holofotes do esporte após usar termo racista e expressão homofóbica para falar de Lewis Hamilton, atual astro da categoria, em uma entrevista concedida ainda no ano passado. Na próxima semana, termina o prazo de manifestação da defesa de Piquet à ação civil pública movida contra ele por quatro entidades nacionais por racismo e homofobia.
Considerado um dos mais talentosos pilotos da história, o carioca nunca escondeu o estilo polêmico e, desde os tempos de piloto, acumulou vários desafetos. A trajetória nas pistas rendeu bem financeiramente, mas, segundo o ex-piloto, seus ganhos como empresário após a aposentadoria superam os obtidos como piloto profissional.
Piquet se aposentou oficialmente em 1991 em uma despedida marcada também por polêmica. Naquele ano, já com 39 anos e com status de estrela, ele corria pela Benetton e conversava com a Ferrari para um eventual acerto na temporada seguinte.
Alguns torcedores ilustres da escuderia italiana, no entanto, relembraram provocações do brasileiro ao time e atrapalharam a negociação.
Já em atrito com Patrick Head (cofundador da Williams), Gerárd Ducarouge (engenheiro da Lotus) e Tom Walkinshaw (dirigente da própria Benetton), o piloto resolveu abandonar a vitoriosa carreira ao rejeitar equipes de menor expressão.
Adeus às pistas após acidente
No ano seguinte, Piquet participou da tradicional prova 500 Milhas de Indianápolis, na Fórmula Indy, representando a equipe Menards.
Após se destacar entre os estreantes do evento, o brasileiro viu um de seus pneus furar de maneira lenta, causando um grave acidente no qual seu carro bateu forte em um dos muros na curva 4 da pista.
O resultado da colisão? Piquet teve traumatismo craniano e lesão torácica, além de fraturas nas pernas e nos pés. Recuperado, mas com sequelas, desde então passou a focar suas energias em outro ramo: o empresarial.
Homem de negócios
"Aquela porrada foi um divisor de águas. Com o pé danificado, vi que não poderia pilotar nunca mais. Daí, ou eu trabalhava muito ou morreria pobre, sem grana", disse Piquet, anos depois, à Folha de S.Paulo.
A ligação com o mundo automobilístico, no entanto, não cessou. Entre 1993 e 1994, o já ex-piloto fundou, em Brasília, a AutoTrac, empresa que se tornou uma das principais do país em monitoramento de veículos via satélite.
O negócio vingou e, já nos anos 2000, o carioca não escondia a revelação de que faturava mais com a companhia em relação ao que acumulou nos seus 14 anos de Fórmula 1.
Segundo reportagem de 2021, do The Intercept Brasil, Piquet detém 75,8% das ações da empresa que, de acordo com balanços públicos auditados pela consultoria Deloitte, em 2020 teve lucro líquido informado de R$ 61,7 milhões. A empresa, porém, segundo a mesma reportagem, foi condenada pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), em maio daquele mesmo ano, a pagar contribuições previdenciárias que deixou de recolher ao menos desde 2011, mas cujo valor é mantido em sigilo.
Além da AutoTrac, o ex-piloto fundou a "Piquet Pneus", uma rede de lojas da Pirelli, e uma revenda de automóveis de luxo também com seu sobrenome.
Autódromo Nelson Piquet
Em 1996, o tricampeão, dono de uma mansão no Lago Sul, bairro nobre de Brasília, arrendou o principal autódromo local, inaugurado ainda nos anos 70.
O espaço, que era de propriedade total do governo distrital e tinha pouco uso desde sua inauguração, mudou de nome para "Autódromo Internacional Nelson Piquet". De 2002 a 2014, a pista recebeu corridas da Fórmula Truck e de eventos menos famosos.
Há oito anos, no entanto, o circuito foi fechado para reformas e, desde então, não recebe qualquer tipo de evento automobilístico.
Nas últimas semanas, o local virou tema político. Devido às falas racistas do brasileiro contra Hamilton, o deputado distrital Fábio Félix (PSOL-DF) apresentou um projeto de lei (PL) na Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF) para tirar o nome de Piquet do circuito.
De acordo com o Félix, "um local tão importante para a história do automobilismo não pode continuar homenageando uma pessoa que indignou o Brasil e o mundo com suas declarações racistas e LGBTfóbicas".
Apoio ao filho Nelsinho
Pai de sete filhos em quatro casamentos diferentes, o empresário Piquet não mediu esforços para que um dos herdeiros atuasse na Fórmula 1.
Foi com Nelsinho Piquet que isso aconteceu. Ainda nos anos 90, o ex-piloto fundou a "Piquet Sports", empresa que tinha como um dos principais objetivos alavancar a carreira do jovem.
Depois de passagens pelo kart até 2000, Nelsinho competiu na Fórmula 3 sul-americana e na extinta GP 2 (hoje Fórmula 2) antes de assinar, em 2007, como piloto de testes da Renault.
Um ano depois, Nelsinho foi anunciado, ao lado de Fernando Alonso, como titular fixo da vaga. Seu melhor desempenho naquela temporada foi o 2° lugar no GP da Alemanha —Felipe Massa ficou em 3° e Hamilton venceu na ocasião.
Nelsinho acabou se tornando pivô de uma grande polêmica revelada um ano depois. No GP de Singapura, ele forçou um acidente para a entrada do safety car, beneficiando o seu parceiro de equipe, que saiu com a vitória.
Ainda antes de "bomba" estourar, Nelsinho não conseguiu se destacar em 2009 e, nas 10 primeiras provas da categoria, ficou sem pontuar. O resultado foi a sua demissão da Renault, que colocou Romain Grosjean como substituto.
Sabe a história do acidente forçado? O filho do tricampeão, depois de sair da Fórmula 1, admitiu a história, que ficou conhecida como "crashgate", em delação à FIA. O episódio quase resultou no banimento da Renault da categoria e levou à expulsão por tempo indeterminado de Flavio Briatore, então chefe de equipe da escuderia, do esporte, assim como do diretor de engenharia Pat Symonds. Foi o fim, até o momento, da trajetória da família Piquet na F1.
"Bolsonaro até a morte"
Prestes a completar 70 anos, Piquet segue atuando como empresário e, com nome influente em Brasília, se aproximou do presidente Jair Bolsonaro (PL) nos últimos tempos.
Em entrevista concedida à RedeTV!, ele detalhou a aproximação com o político e não escondeu o seu apoio aos atos do agora amigo.
"Fiquei fã dele. Eu o conheci, ele me convidou para almoçar e a gente se deu bem. Nunca me envolvi em política na vida, hoje sou Bolsonaro até a morte. Se a gente não ajudar ele, se o povo não ajudar ele... eu acho que ele é a salvação do Brasil", disse o tricampeão mundial.
A admiração fez com que Piquet virasse chofer de Bolsonaro por um dia. A cena aconteceu no Dia da Independência, em 7 de setembro de 2021. O ex-piloto dirigiu o Rolls-Royce presidencial na chegada do presidente à cerimônia de hasteamento da Bandeira Nacional.
O Rolls-Royce conduzido por Piquet é o Silver Wraith de 1952, mantido pelo Ministério da Defesa. O modelo é usado por presidentes em ocasiões especiais, como a posse. O carro chegou ao Brasil ordenado por Getúlio Vargas.
A cena virou meme nas redes sociais. Internautas ironizaram a situação e disseram que Piquet, há muito tempo aposentado das pistas, "virou motorista de aplicativo". Na ocasião, Bolsonaro já era criticado por participar de atos antidemocráticos.
Piquet também já participou em comícios do atual presidente. Em um deles, no ano passado, o ex-piloto pediu a palavra ao político para criticar a TV Globo, chamando a emissora de "Globolixo".
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