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Bia Ferreira vira profissional e terá carreira híbrida até Paris; entenda

Prata em Tóquio, Bia Ferreira seguirá com a carreira olímpica até 2024, quando passará a se dedicar só ao boxe profissional - Miriam Jeske/COB
Prata em Tóquio, Bia Ferreira seguirá com a carreira olímpica até 2024, quando passará a se dedicar só ao boxe profissional Imagem: Miriam Jeske/COB

Marcello De Vico

Colaboração para o UOL, em Santos (SP)

27/07/2022 11h30

Medalha de prata nos Jogos de Tóquio, Beatriz Ferreira resolveu ousar. Ela será a primeira atleta de boxe do Brasil a se lançar em uma carreira híbrida. Isso significa que Bia continuará treinando para os Jogos Olímpicos de Paris, em 2024, mas agora também virou participará de lutas profissionais depois de assinar contrato com a empresa Matchroom Boxing, de Eddie Hearn.

No geral, os lutadores de boxe escolhem apenas um dos caminhos, até pelas variações que existe entre as modalidades. Na categoria olímpica, os boxeadores utilizam capacete e lutam por três rounds, enquanto os embates profissionais não exigem proteção na cabeça e podem se estender por até 12 rounds -isso para citar algumas das diferenças.

Por conta destas diferenças, os treinamentos para os dois tipos de combate são bem diferentes, o que faz com que os atletas deem preferência a um só 'estilo'. A carreira híbrida —que passou a ser permitido a partir de 2016— já vem sendo testado por alguns atletas pelo mundo, mas Bia será a primeira a fazer isso no Brasil.

Em entrevista ao UOL Esporte, Mateus Alves, técnico da seleção brasileira de boxe, explicou que Bia terá exclusividade no profissional, mas seguirá livre para dar sequência à carreira olímpica. "O que ela tem é um contrato de exclusividade para lutar no profissional somente com a Matchroom Boxing. Mas a carreira é agenciada por nós. Ela vai ser uma freelancer", resume.

"Durante a preparação olímpica, quando tivermos calendário apto para alguma luta profissional, ela fará essa luta com a Matchroom e vai receber uma bolsa por essa luta. Mas ela continuará com a equipe olímpica permanente, sendo da seleção, da Marinha, do Bolsa Pódio, treinando aqui comigo para as duas carreiras", complementa. "A gente vai fazer as alterações necessárias de treino durante esses períodos. Então, quando a gente tem necessidade de mudar o cronograma, vamos mudar de acordo com o calendário. Sabemos que existe uma característica de combate diferente, isso é evidente", acrescenta.

Estreia profissional em novembro

Bia hoje encontra-se de férias após ser campeã do Grand Prix Internacional de boxe no Rio de Janeiro, e voltará aos treinamentos na metade de agosto, já pensando na carreira profissional.

"Ela não vai lutar o desafio Brasil x Argentina em setembro e não vai lutar os Jogos Sul-Americanos em outubro, porque nós vamos prepará-la para a estreia profissional em novembro. Ainda não temos a data, mas provavelmente será em Londres, em novembro", diz Mateus.

Carreira olímpica só até Paris

Beatriz Ferreira está na semifinal do Mundial de Boxe - Divulgação/IBA - Divulgação/IBA
Imagem: Divulgação/IBA

Beatriz Ferreira se despedirá dos Jogos Olímpicos em 2024, em Paris, onde ela buscará a inédita medalha de ouro para o boxe feminino do Brasil. Depois disso, dedica-se, exclusivamente, à carreira profissional.

"O nosso foco central ainda é Paris, mas a gente quer que ela faça ao menos quatro lutas profissionais antes de Paris para, quando ela sair de Paris, já tenha um início de carreira no profissional", pontua.

A Bia já está com 30 anos, é uma oportunidade de um bom dinheiro. Você não pode privar uma atleta de ganhar um bom dinheiro por querer exclusividade. A gente tem que dar esse direito a ela para, quando for parar, se aposentar com uma qualidade de vida boa. Era uma oportunidade que ela tinha que a gente não podia não deixar ela assinar um contrato desse, que é vantajoso para ela financeiramente"

"Esse mundo de equipe olímpica permanente é muito desgastante a nível mental. A Bia já criou esse programa com a gente de que ela iria a Tóquio e Paris. Então está praticamente decidido [que ela se despede em Paris], tanto que ela já fez esse contrato com a Matchroom Boxing dizendo que após Paris já fica automaticamente sendo exclusiva dela", afirma Mateus.

Em relação ao local dos treinamentos, o técnico da seleção brasileira diz que nada muda: "Ela continua na equipe olímpica permanente. Obviamente nós iremos fazer campings especiais para lutas importantes, mas ela continua treinando no dia a dia aqui, não muda nada".

Carreira híbrida deve virar tendência

Segundo Mateus, a ideia é que, a partir de agora, outros lutadores passem a adotar o modelo híbrido. "A gente tem a ideia de, se começar a dar certo com a Bia, fazer o mesmo modelo para nossos grandes atletas: Keno, Abner, Wanderson, porque a gente tem uma segurança de pós-Paris para que eles tenham prosseguimento na carreira", explica Mateus, até pela indefinição que existe em relação à presença ou não do boxe nos Jogos de 2028.

"A gente está muito preocupado porque o boxe está correndo sério risco de ficar fora de Los Angeles. Entre aspas, nossa última Olimpíada agora é Paris, porque a Federação Internacional de Boxe está sendo punida pelo Comitê Olímpico Internacional por alguns problemas, e o COI deixou o boxe fora do programa de 2028. Então, por enquanto nós estamos fora", diz.

"Não podemos ficar de braços cruzados, deixando o boxe acabar nas Olimpíadas, e nossos atletas ficarem desprovidos de seguir a carreira. Estamos preocupados com o procedimento de carreira deles", finaliza.

Hebert optou por deixar a seleção

Hebert Conceição comemora o nocaute que garantiu a medalha de ouro no boxe dos Jogos Olímpicos de Tóquio - Xinhua/Ou Dongqu - Xinhua/Ou Dongqu
Imagem: Xinhua/Ou Dongqu

Ao contrário de Bia Ferreira, Hebert Conceição, medalhista de ouro em Tóquio, não faz mais parte da seleção brasileira e hoje segue apenas com a carreira profissional após assinar contrato com a Probellum.

"Ele não está integrado, atualmente, nas competições olímpicas e na seleção brasileira por escolha pessoal dele. A gente o convocou para a seleção, e ele teve a opção de seguir a carreira de outra maneira, que é totalmente compreensível", esclareceu Mateus.

"Por que o Hebert não vai pra Paris e a Bia está? A diferença é que o Hebert optou por sair da equipe olímpica e ser exclusivo de uma promotora americana. A Bia faz uma carreira híbrida onde nós temos autonomia sobre o calendário, e não a empresa", complementa.

Foi uma opção dele, para morar em Salvador, ficar perto da namorada... É muito difícil ficar longe da família. É campeão olímpico, já fez a parte dele [risos]"