1º brasileiro a vencer no Taiti usou prancha emprestada e surfou machucado
A janela de espera para a etapa de Teahupo'o, no Taiti, já está aberta. A previsão indica que um forte swell atingirá a bancada a partir deste fim de semana e proporcionará condições especiais para o último evento do Mundial de Surfe antes das finais, marcadas para setembro, na Califórnia (EUA).
Conhecida como praia dos "crânios quebrados" por suas ondas poderosas e um fundo raso de coral, a etapa de Teahupo'o é um dos pontos mais altos da carreira de um surfista. E, apesar da soberania verde e amarela nos últimos anos, apenas dois brasileiros conseguiram vencê-la em toda a história: o tricampeão Gabriel Medina, em 2014 e 2018, e Bruno Santos, surfista de Itacoatiara (RJ), que preferiu deixar o mundo das competições para buscar mais ondas perfeitas como as do Taiti.
"Passou voando. Parece que foi ontem, mas já se passaram 14 anos. Mas continua bem fresquinho na memória. Foi, com certeza, a maior conquista da minha vida como competidor, como surfista profissional, e é um lugar que, além dessa conexão com a competição, tenho um carinho muito grande pelo local, pelos amigos que criei por aqui. Então, sempre que chega essa época do ano, as lembranças dão aquela aflorada", diz Bruninho, direto do Taiti, em entrevista ao UOL Esporte.
E são muitas lembranças. Como não fazia parte da elite, ele precisou passar por uma triagem de quase 100 surfistas antes de confirmar o seu nome no evento principal. Detalhe: ele fez isso com um corte na perna que lhe rendeu 15 pontos, após uma queda no mar. E mais: surfou a etapa principal com uma prancha emprestada de um israelense que nunca tinha visto na vida — já que todas as suas pranchas tinham quebrado com a força do mar em sessões antes do evento.
"Além da conquista, teve toda história de eu ter vindo do Trials, que na época era disputado por quase 100 surfistas em busca de só duas vagas. Teve a lesão durante o Trials, que eu tomei a bicada na perna e surfei a semifinal e a final com a perna machucada. A questão das pranchas que eu quebrei todas e surfei com uma emprestada no final. Então foi muitas histórias que deixaram o título mais marcante, mais interessante, com tantos acontecimentos...", conta.
A vitória de Bruninho colocou fim a um jejum de vitórias do Brasil na elite do surfe mundial. A última havia sido seis anos antes, em 2002, com Neco Padaratz, na França.
Em busca da onda perfeita
Considerado um dos melhores tube riders (especialista em ondas tubulares) do mundo, Bruno Santos insistiu no surfe de competição só até 2009, quando, finalmente, mudou a chave para o que realmente queria fazer: ir atrás das melhores ondas do mundo.
"Eu fui campeão em 2008, e 2009 foi meu último ano como competidor. Não que eu não goste de competir, eu adoro, especialmente em ondas como Pipeline, Teahupo'o, qualquer onda tubular... Mas eu já vinha batalhando no WQS [antiga divisão de acesso do circuito mundial] há cinco anos e não cheguei nem perto de classificar", recorda.
"Foi uma opção. Meu surfe não se encaixava tanto na divisão de acesso e eu sempre tive essa paixão por ondas perfeitas. E meu patrocinador na época sempre curtiu esse lado do surfe de explorar, de buscar as ondas mais perfeitas do mundo, e eu gastava muito tempo e dinheiro competindo e não indo tão bem nas ondas pequenas, nas ondas ruins, como Japão, Europa no verão, Califórnia... E resolvi focar 100% nas ondas perfeitas", explica.
Veja outros trechos da entrevista
"Gabriel Medina é o melhor aqui"
O Gabriel Medina é o melhor aqui. Além das duas vitórias, ele tem dois vices, então é muita bateria que ele já passou. Praticamente em todos os eventos que ele participou aqui, passou das semifinais, então o considero sempre o favorito, mas nessa ele não vai estar...
"Italo campeão em Teahupo'o é questão de tempo"
Acho que o surfe do Italo encaixa muito bem com essa onda, apesar de ele ainda não ter conseguido uma vitória. Ele entuba muito bem, consegue botar muita velocidade na prancha. Já venceu em Pipeline e acho que é questão de tempo para esse resultado aparecer para ele. E o Yago Dora também... Está vindo numa fase muito boa, entuba muito... E o Miguel, Jadson... É difícil dizer. Já rolou aquele corte no meio do ano. Mas, levando em consideração a característica da onda, acho que Italo e Yago têm tudo para deixar esse troféu com o Brasil.
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