Piquet, 70 anos: do tricampeonato na Fórmula 1 às polêmicas fora das pistas
Nelson Piquet Souto Maior, brasileiro considerado um dos nomes mais icônicos da história da Fórmula 1, completa 70 anos hoje.
Filho de Estácio Gonçalves Souto Maior (ex-ministro da Saúde) e Clotilde Piquet, o carioca, que passou grande parte de sua juventude em Brasília, atuou na categoria entre 1978 e 1991.
O ex-piloto é dono de três dos oito títulos do país na F1, levantando o troféu nas temporadas de 1981, 1983 e 1987. Ele está empatado com Ayrton Senna (1988, 1990 e 1991) e à frente de Emerson Fittipaldi (1972 e 1974), que completam a lista de conquistas nacionais.
Além da habilidade nas pistas e da fama de "arrumador" de carros, Piquet colecionou polêmicas dentro e fora do automobilismo.
O UOL Esporte destaca, abaixo, momentos em que o esportista, hoje empresário, ganhou os holofotes — tanto no esporte quanto fora dele.
1981: o primeiro título
Ainda em 1978, ao final de sua 1ª temporada na F1, o brasileiro assinou contrato com a Brabham para formar dupla com o então bicampeão Niki Lauda no ano seguinte — o resultado foi modesto: ele somou apenas três pontos.
Em 1980, já com a Ford substituindo a Alfa Romeo nos motores da equipe e sem a presença do austríaco como companheiro, Piquet "bateu na trave" e ficou com o vice-campeonato daquela temporada.
O tão esperado título veio no ano seguinte: o piloto desbancou o argentino Carlos Reutemann por apenas um ponto — com direito a vitória no GP realizado dentro do país do adversário.
Fama de "arrumador" de carros veio com o bi
Na temporada que sucedeu a conquista até então inédita, a Brabham fez uma parceria com a BMW para desenvolvimento de motores a turbo. Nas pistas, o resultado ficou aquém do esperado, e o brasileiro acabou apenas na 11ª colocação.
O ano de 1983 chegou, e o carioca conseguiu se adaptar de maneira surpreendente às novidades: foram oito pódios (três deles com vitória) em 15 corridas, em desempenho que deu a Piquet o bicampeonato mundial com 59 pontos, dois acima do francês Alain Prost.
Foi nesta temporada em que o brasileiro se destacou pela adaptação e evolução que conseguiu a bordo de sua Brabham a turbo — a título de comparação, Riccardo Patrese, seu companheiro de equipe na ocasião, abandonou mais da metade das provas e terminou o ano apenas na 9ª posição geral.
1987: o tri com a Williams
Já com o compatriota e então jovem Ayrton Senna ganhando espaço na F1, Piquet trocou a Brabham pela Williams em 1986.
Em sua temporada de estreia com a nova escuderia, ele, que formou dupla com Nigel Mansell, garantiu o 3° lugar na tabela em um ano marcado por rixas com o companheiro de equipe.
Foi em 1987 que o título parou pela 3ª vez nas mãos do carioca. Mesmo vencendo menos provas que o inglês (6 a 3 para Mansell), o brasileiro se mostrou mais regular durante a temporada (com sete vices, por exemplo) e conquistou 73 pontos, ante os 61 do companheiro.
Foi praticamente o fim de uma era: Piquet ainda correu pela Lotus e pela Benetton antes de se aposentar aos 39 anos, já em 1991.
Desafetos da época
Um dos grandes rivais de Piquet foi justamente um brasileiro: Ayrton Senna, que morreu em acidente de corrida em 1994.
Em meio às disputas por pontos e da troca de farpas na época em que competiam (entre 1984 e 1991), os dois, apesar de simbolizarem o Brasil no automobilismo, não mantinham uma relação de amizade.
Piquet, aliás, já falou mais de uma vez sobre a desavença com o outro tricampeão — mesmo após a morte do compatriota.
Em 2013, em participação no programa "Linha de Chegada", do SporTV, disse ter sido questionado certa vez sobre quem seria melhor, ele ou Senna: "Eu, estou vivo!", disse ele. Nigel Mansell, que estava ao lado de Piquet no programa, completou com "que crueldade". O apresentador Tiago Maranhão chegou a rir. (assista abaixo)
Nelson Piquet insinuou mais de uma vez que Senna seria gay. Ele chegou a ser processado em 1987 por injúria. Anos depois, em 2020, Piquet relembrou a história e voltou a fazer insinuações em relação a Senna, na entrevista concedida a Junior Coimbra, no YouTube. Ele acabou sendo rebatido pela ex-esposa do paulista.
A falta de afinidade também foi evidente com Mansell — dentro e fora das pistas. "Ele gostava de se fazer de vítima. Eu sacaneava ele de tudo que é jeito. Eu devo ser o calo inflamado no pé dele", relembrou Piquet em entrevista à jornalista Mariana Becker, hoje na Band.
"Eu falava: 'como ele consegue viver com uma mulher tão feia?'. Coisas assim, de baixo nível", prosseguiu o brasileiro, que já classificou o britânico como "um idiota veloz".
Piquet também já teve atritos com diferentes personagens durante sua trajetória na F1, como Gilles Villeneuve (ex-piloto), Patrick Head (cofundador da Williams), Gerárd Ducarouge (engenheiro da Lotus) e Tom Walkinshaw (dirigente Benetton).
Ofensas a Hamilton
No ano passado, o ex-piloto voltou aos holofotes do esporte após usar termo racista e expressão homofóbica para falar de Lewis Hamilton, atual astro da categoria.
Em vídeo de entrevista ao jornalista Ricardo Oliveira, em novembro de 2021, ele chamou, por mais de uma vez, o atual piloto da Mercedes de "neguinho" ao comparar um acidente de Senna e Prost com o ocorrido entre Hamilton e Max Verstappen em Silverstone.
"O neguinho meteu o carro e não deixou (Verstappen desviar). O neguinho deixou o carro porque não tinha como passar dois carros naquela curva. Ele fez de sacanagem", afirmou Piquet, que é sogro de Verstappen.
Apesar de a publicação do vídeo datar do último ano, a fala veio à tona somente no último mês de junho, gerando grande repercussão nas redes sociais.
Hamilton se manifestou nas redes sociais — com direito a texto em português — e também falou sobre o assunto em entrevistas, dizendo que essas são "mentalidades arcaicas" e que precisam ser mudadas.
Diante de tudo o que ocorreu, Piquet se manifestou por meio de um comunicado pedindo desculpas, afirmando que o "termo é um daqueles largamente e historicamente usados de forma coloquial no português brasileiro como sinônimo de 'cara' ou 'pessoa'".
"Bolsonaro até a morte"
Nos últimos anos, Piquet, que tornou-se nome forte em Brasília após carreira nas pistas, se aproximou do presidente Jair Bolsonaro (PL).
Em entrevista concedida à RedeTV!, ele detalhou a aproximação com o político e não escondeu o seu apoio aos atos do agora amigo.
"Fiquei fã dele. Eu o conheci, ele me convidou para almoçar e a gente se deu bem. Nunca me envolvi em política na vida, hoje sou Bolsonaro até a morte. Se a gente não ajudar ele, se o povo não ajudar ele... eu acho que ele é a salvação do Brasil", disse o tricampeão mundial.
A admiração fez com que Piquet virasse chofer de Bolsonaro por um dia. A cena aconteceu no Dia da Independência, em 7 de setembro de 2021. O ex-piloto dirigiu o Rolls-Royce presidencial na chegada do presidente à cerimônia de hasteamento da Bandeira Nacional.
O Rolls-Royce conduzido por Piquet é o Silver Wraith de 1952, mantido pelo Ministério da Defesa. O modelo é usado por presidentes em ocasiões especiais, como a posse. O carro chegou ao Brasil ordenado por Getúlio Vargas.
Piquet também já participou em comícios do atual presidente. Em um deles, no ano passado, o ex-piloto pediu a palavra ao político para criticar a TV Globo, chamando a emissora de "Globolixo".
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