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Árbitro é suspenso após vazar fotos íntimas de jogadoras de rúgbi

Árbitro Cauã Ricardo vazou imagens íntimas de atletas do rúgbi - Divulgação/CBRu
Árbitro Cauã Ricardo vazou imagens íntimas de atletas do rúgbi Imagem: Divulgação/CBRu

Do UOL, em São Paulo

20/08/2022 04h00

O árbitro Cauã Ricardo Santos foi suspenso de competições femininas de rúgbi após compartilhar fotos íntimas de atletas em um grupo de WhatsApp. A punição vale até o fim do ano e foi confirmada pela Confederação Brasileira de Rúgbi (CBRu) como resposta a uma campanha de jogadoras, técnicas e árbitras, que ficaram indignadas com as ações de Cauã.

O UOL Esporte conversou com uma das atletas que tiveram a intimidade exposta e também com a advogada que representa ela e outras jogadoras. Ao menos três mulheres tiveram fotos compartilhadas por Cauã em um grupo de árbitros de rúgbi. Nas imagens, as mulheres aparecem parcialmente nuas, em fotos tiradas sem o consentimento delas, e também em nudes enviados por elas ao juiz. Procurado pela reportagem, o árbitro confirmou que compartilhou as fotos, se disse arrependido e muito abalado com a situação, mas preferiu não se pronunciar oficialmente.

Em comunicado à reportagem, a CBRu disse estar atenta à violência contra mulheres na comunidade do rúgbi, mas sua resposta à denúncia foi alvo de críticas por homens e mulheres que souberam dos vazamentos promovidos por Cauã. A primeira denúncia contra o árbitro foi feita em fevereiro pela árbitra e conselheira da confederação Natasha Olsen, que conversou com as vítimas, atletas com idades que variam entre 20 e 30 anos. Após uma investigação, Cauã foi suspenso por 30 dias, punição considerada branda pelas atletas.

"Ele optou por ir atrás de meninas muito novas, que ele pensou que fossem vulneráveis e que não iriam confrontá-lo. Mas ele errou muito o alvo", afirmou uma das jogadoras que tiveram foto publicada pelo juiz e depois ajudou a denunciá-lo. A atleta pediu para ter o nome mantido em sigilo. "Fiquei decepcionada, mas não surpresa. Ele sempre foi uma pessoa muito presente no rúgbi, em campeonatos universitários, brasileiros e internacionais. Era uma pessoa com quem você se sentiria confortável, por achar que ele entende os valores do rúgbi. Ainda mais por ele dar aulas de arbitragem."

Cauã iniciou sua trajetória como jogador de rúgbi em 2009, ao conhecer o projeto social do São José Rugby, clube do interior de São Paulo. Cinco anos depois, ele decidiu se especializar em arbitragem e deixou de ser atleta em 2015. O profissional passou a apitar em campeonatos universitários até que foi evoluindo a torneios maiores. Em 2020, Cauã foi convocado pela primeira vez como árbitro central de uma competição sul-americana adulta, o "4 Naciones", e hoje é bem reconhecido no continente.

Depois de vazar fotos, juiz apita campeonato feminino

Um episódio em particular aumentou o desconforto entre as jogadoras. Em junho, depois de cumprir seu mês de punição, Cauã Ricardo foi indicado pela CBRu para arbitrar no Campeonato Sul-Americano de Rugby Sevens em Saquarema (RJ). No torneio, havia uma atleta que teve foto íntima publicada pelo juiz.

"A punição foi absolutamente ridícula", criticou uma atleta que teve a foto vazada. "É uma agressão contínua, um silenciamento muito grande. Foi um cala-boca gigantesco." A confederação apontou "leis trabalhistas" para explicar o motivo pelo qual o juiz foi suspenso por apenas um mês. O artigo 474 da CLT limita em 30 dias o período de suspensão disciplinar de um trabalhador.

A CBRu afirmou que, após a repercussão do caso e a movimentação das atletas, decidiu afastar Cauã de todas as competições femininas até o fim do ano. Ele seguirá trabalhando em partidas masculinas.

Veja o comunicado da CBRu na íntegra:

Em fevereiro deste ano, a CBRu recebeu a denúncia de que um árbitro divulgou, em conversas privadas de WhatsApp, imagens íntimas de membras da comunidade de rugby.

A análise do caso seguiu o procedimento padrão adotado pela CBRu em episódios de denúncia e em linha com o que preveem o Estatuto Social e o Código de Ética e Conduta da Entidade: uma Ouvidoria Externa e Independente apura o caso e envia um parecer diretamente para o Presidente do Conselho de Administração, objetivando garantir a imparcialidade do processo e evitar que haja influência indevida de outras pessoas da entidade.

Preliminarmente, foi aplicada uma penalidade ao árbitro com a suspensão por 30 dias de suas atividades, previstas no escopo de sua atuação dentro da Confederação, não sendo remunerado durante este período. Esta punição foi ratificada pelo Conselho de Administração da entidade.

Com relação ao período da punição, adotou-se analogamente e como balizador para fins da integridade das decisões institucionais, o disposto nas Leis Trabalhistas, nas quais é prevista uma limitação de prazo de suspensão de no máximo 30 dias. Cumprida a punição estabelecida, o árbitro esteve habilitado para exercer suas atividades.

Motivada pela repercussão do assunto, a CBRu decidiu, posteriormente, em 22 de junho, afastar o árbitro de todas as competições femininas organizadas pela entidade até o final de 2022.

A CBRu reitera que o procedimento adotado neste episódio está em consonância com o previsto em seu Estatuto e seu Código de Ética.

No transcorrer deste ano, o Código de Ética foi atualizado, passando a prever a existência de um Conselho de Ética que analisará os casos. Além disso, a entidade instituiu um grupo de trabalho para promover a Diversidade e Desenvolvimento de Ações da Mulher no Esporte.

Existindo evidências sobre este e outros casos, a CBRu encoraja que as denúncias sejam realizadas, via Ouvidoria, para que a entidade possa tomar as providências que estiverem sob sua alçada.

A publicação de informações pela CBRu, em suas plataformas, segue uma dinâmica pré-estabelecida conforme a estratégia de comunicação da entidade.

A CBRu está à disposição da imprensa e de integrantes da comunidade do rugby para esclarecer o episódio e como ele está sendo apurado.