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Como boa fase de Bia Haddad ajudou bronze olímpico a superar lesão grave

Luisa Stefani retorna às quadras em setembro após recuperar lesão no joelho - Getty Images
Luisa Stefani retorna às quadras em setembro após recuperar lesão no joelho
Imagem: Getty Images
Beatriz Cesarini e Alexandre Cossenza

Do UOL, em São Paulo

26/08/2022 04h00

O último ano de Luisa Stefani foi como um passeio de montanha russa, daquelas rápidas e bem radicais. Ao lado de Laura Pigossi, a atleta conquistou a primeira medalha olímpica do tênis brasileiro ao garantir o bronze em Tóquio-2020. Meses depois, na semifinal de duplas do US Open, a tenista rompeu o ligamento do joelho direito e ficou fora das quadras por um ano.

Não há psicológico que fique intacto com essa sequência de acontecimentos: Luisa estava conquistando sonhos, subindo em direção ao auge da carreira quando, de repente, despencou no chão da quadra em Nova Iorque. A atleta de 25 anos montou uma estrutura para ajudá-la na recuperação e uma das atividades favoritas era acompanhar os jogos de tênis de amigos, principalmente de Bia Haddad, que vêm fazendo uma boa temporada.

"Tudo mudou depois do bronze em Tóquio. De lá até aqui, muita coisa aconteceu. Obviamente, acho que as Olimpíadas foi um grande boom de atingir um sonho que parecia muito longe e viver emoções muito fortes. Algo que eu nunca tinha sentido igual no sentido de quadra, de conquista e também do abraço brasileiro muito grande. Era um sonho de criança. Logo em seguida eu me lesionei, então isso também foi mais uma grande mudança na minha vida em todos os sentidos: rotina e no aprendizado sobre mim mesma. Tive de lidar com o êxtase das Olimpíadas e o baixo da lesão", refletiu Luisa.

A resiliência é a palavra que pode resumir todos os dias da tenista paulista após a lesão. Luisa retomou as aulas de violão, colocou as séries em dia, assistiu a documentários e acompanhou jogos de tênis. Mas não era qualquer partida. A atleta se sentia melhor ao torcer por um amigo ou alguém que conhecia.

"No Australian Open em janeiro, ainda quando estava bem no início da recuperação, eu assistia e não ficava: 'Putz, quero jogar'. Isso porque eu estava fisicamente sem condição alguma de jogar. Fui sentir lá pelo sexto mês, quando estava bem, mas ainda não podia. Na Austrália, eu queria que a Gabriela Dabrowski (ex-dupla de Luisa) ganhasse para eu ter mais jogo para assistir, porque para mim era muito mais fácil, prazeroso e melhor ver jogo de quem eu conhecia. Eu assisti bastante a Bia Haddad. Poxa, a Bia me ajudou muito ali nesta recuperação: nos campeonatos, ela continuava ganhando, passando de fases e eu torci muito", relembrou.

Além do alento durante a recuperação, Luisa conta que as vitórias de Bia também são importantes quando o assunto é incentivo ao tênis feminino. Bia foi vice-campeã do Aberto de Toronto há duas semanas e se tornou a 15ª do ranking mundial feminino, a melhor posição de um tenista brasileiro — entre homens e mulheres — desde Guga. O sentimento com os triunfos da amiga é o mesmo que Luisa passou a entender quando conquistou a medalha olímpica ao lado de Laura.

"O bronze ajudou todo mundo a decolar no sentido de acreditar mesmo. Foi bem legal sentir que todo mundo usou a conquista de maneira muito positiva. E isso vai continuar acontecendo. A Bia, fazendo esse boom agora, tenho certeza que me motiva quando eu voltar a competir e incentiva as meninas que estão jogando e novas gerações. Eu acho que é disso que o tênis feminino sobrevive e cresce", comentou Luisa.

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Luisa Stefani e Laura Pigossi no pódio com a medalha de bronze em Tóquio - Reuters - Reuters
Luisa Stefani e Laura Pigossi no pódio com a medalha de bronze em Tóquio
Imagem: Reuters

Assim como Luisa mencionou no início da conversa, tudo mudou na vida dela após a conquista da medalha olímpica, inclusive quando o assunto é patrocínios. Mesmo fora de combate, a atleta conseguiu novos parceiros como nunca tinha tido antes. A tenista, que morou por muitos anos nos Estados Unidos, decidiu retornar ao Brasil e montou uma nova equipe com o técnico Léo Azevedo, o fisioterapeuta Ricardo Takahashi e a psicóloga Carla di Pierro. Além da lesão, a atleta sofreu com a perda do avô e, por isso, sentiu que precisava do apoio da família e vice-versa.

"Eu planejava voltar para os EUA em fevereiro, e acabei ficando aqui, gostando do fisioterapeuta e de toda a equipe. Também fiquei mais perto da família. Meu avô faleceu no começo do ano e isso afetou muito a maneira de eu lidar com o resto das minhas decisões", destacou.

"Estar no Brasil foi um acolhimento que eu precisava. Eu consegui aproveitar muito cada fase e ver a melhora com minha nova equipe. Tive apoio dos médicos do Comitê Olímpico Brasileiro e foi muito importante. Sem dúvida, as pessoas aqui foram o fator decisivo pra eu voltar. Foi um ano de muita incerteza e eu precisava disso. Foi mais uma mudança grande, mas aos poucos tudo foi se encaixando e eu estou muito feliz com a decisão", concluiu Luisa.

A outra novidade é a dupla de Luisa para as próximas competições. A brasileira formava parceria com a canadense Gabriela Dabrowski, que desde o fim de 2021 já tinha firmado acordo com outra tenista para a temporada seguinte.

Agora, a jovem terá a japonesa Ena Shibahara como nova dupla. "Quando eu me lesionei, ela foi uma das primeiras a me mandar mensagem, não só de melhoras e tudo, mas recentemente me falou um pouco do plano dela pro ano que vem. Eu achei muito legal porque era uma época muito incerta para mim", comentou a tenista brasileira

Shibahara tem 24 anos, nasceu nos Estados Unidos e jogou tênis universitário pela faculdade UCLA, da Califórnia, mas defende o Japão no circuito mundial desde 2019. Até janeiro deste ano, ela formava parceria fixa com a também japonesa Shuko Aoyama, mas o time se separou após o Australian Open e ela jogou a maior parte dos torneios recentes com a americana Asia Muhammad.

Retorno emblemático

Luisa Stefani sofre lesão na semifinal do US Open de 2021 - Reproducão/SporTV - Reproducão/SporTV
Luisa Stefani sofre lesão na semifinal do US Open de 2021
Imagem: Reproducão/SporTV

O grande retorno de Luisa será na semana de 19 de setembro, em Tóquio, no WTA 500, cidade na qual conquistou a medalha olímpica. E para tornar a volta ainda mais significativa, a brasileira irá aos Estados Unidos para treinar no US Open.

Luisa chegou a ocupar o posto de número 9 do mundo em novembro do ano passado, mas, sem competir, perdeu a maioria dos pontos que tinha e hoje é apenas a #99 do ranking. Depois do US Open, quando serão descontados seus pontos pela campanha de 2021, a brasileira deixará de aparecer na lista.

"Estou muito animada. A escolha de ir pra lá foi principalmente para voltar para treinar com as meninas que estão em ritmo de jogo, entrar no clima, ambientar? Foi onde eu me machuquei, então queria voltar e ter uma boa experiência lá também. Terei a oportunidade de treinar com as melhores, assistir o torneio, ver a Bia que está jogando muito. Já vou aparecer no vestiário para mostrar que eu estou voltando", exaltou.

Errata: este conteúdo foi atualizado
Diferentemente do que foi informado, Luisa Stefani completou 25 anos. O erro já foi corrigido.