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Álbum da Copa mexe com emoções, e a culpa não é só da paixão pelo futebol

Álbum da Copa do Mundo 2022 é a sensação entre colecionadores - Bruno Madrid/UOL
Álbum da Copa do Mundo 2022 é a sensação entre colecionadores Imagem: Bruno Madrid/UOL

Daniel Navas

Colaboração para Esporte

01/09/2022 04h00

A paixão de grande parte dos brasileiros por futebol é indiscutível. Mas, quando chega o ano de Copa do Mundo, parece que ainda mais pessoas compactuam desse amor. E não é por menos, afinal de contas, os melhores jogadores de diferentes times ao redor do planeta são convocados para se unirem e defenderem seu país e, claro, levando consigo a torcida daquele público.

"Nós, brasileiros, temos poucos momentos em que a sociedade se une em prol de alguma coisa e a Copa do Mundo faz aqui esse movimento de união. E isto é extremamente valioso, tanto que a maioria das pessoas vive intensamente esse momento torcendo por algo em comum", afirma Yuri Busin, psicólogo, mestre e doutor em neurociência do comportamento pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo.

O que acontece é que essa paixão nacional é tão avassaladora que milhares de pessoas, além de torcerem juntas, também passam a colecionar figurinhas do tão famoso álbum da Copa.

Foi o caso de Fernando Martinez, 46 anos, jornalista e editor do blog Jogos Perdidos, que desde a Copa de 1982, na Espanha, faz parte do time dos colecionadores de figurinhas da Copa do Mundo. "Eu sempre gostei de futebol desde que me conheço por gente. E aí, depois do primeiro álbum, não parei mais", conta.

Para Martinez, esse ano não será diferente. Mesmo com o valor inflacionado dos produtos, assim como o jornalista, diversas pessoas já adquiriram o seu álbum para iniciar a coleção.

A ciência explica

Mas o que justifica tamanho fascínio desses colecionadores? "O comportamento de colecionar pode ter diferentes significados para cada pessoa. Algumas motivações têm sido identificadas em estudos da área de comportamento de consumo", diz Dhayana Veiga Bender, doutora em psicologia e coordenadora do curso de psicologia da Universidade Positivo (UP), em Curitiba.

De acordo com Dhayana, entre as diversas razões por trás dessa ânsia em colecionar o álbum da Copa estão:

  • A própria realização e sucesso ao atingir metas de consumo, que podem ser recompensadoras;
  • A pertencimento social, ou seja, ser parte de um grupo e sentir-se membro e pertencente a ele, podendo trazer sensação de segurança ou status;
  • Memórias sociais ou pessoais afetivas, entre outros.

A ideia de poder estar ainda mais próxima dos amigos, e até de pessoas desconhecidas, mas que dividem do mesmo amor pelo futebol, é um dos motivos pelos quais Vanessa Alsberg, 33 anos, influenciadora digital, passou a colecionar os álbuns da Copa do Mundo.

"Eu sempre fui apaixonada por coleções. Gosto de guardar tudo que eu considero colecionável. Por isso, já estou mega ansiosa para começar a trocar figurinhas. Para mim, é uma forma de começar a viver a Copa antes mesmo de seu início", afirma.

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Preços inflacionados

Para quem curte colar as figurinhas no álbum até mesmo os altos preços praticados não importam muito. Afinal de contas, o que vale aqui é o valor sentimental. "Então, independentemente do preço, eles irão pagar, porque isto traz um sentimento prazeroso de bem-estar e de felicidade", afirma Busin.

É exatamente com essa ideia em mente que Rodrigo Bocatti, 31 anos, jornalista, pretende seguir com a coleção da Copa do Mundo do Qatar. "Apesar do preço do álbum e dos pacotinhos de figurinhas, acredito que será interessante colecionar no fim do ano. Isso porque, completar o álbum será meu presente adiantado de Natal", brinca.

álbuns de figurinhas da Copa do Mundo  - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
A influenciadora digital Vanessa Alsberg mostra sua coleção de álbuns de figurinhas da Copa do Mundo
Imagem: Arquivo pessoal

Colecionar é um vício?

E tem gente que afirma que toda essa paixão tem um nome: vício. Mas não é bem por aí.

"O vício tem muita ligação com algo que pode trazer algum prejuízo relacionado à pessoa. Obviamente que os indivíduos não devem se endividar com relação às figurinhas, mas, geralmente, o colecionador sente prazer e sabe os limites e os valores das raridades", diz o psicólogo.

O fato é que a interação entre os colecionadores pode render, também, situações bem inusitadas, como aconteceu com Fernando Martinez.

"Em 2006, eu trabalhava em uma empresa grande de cartões de crédito. Na época da Copa tinha um grupo de e-mails [sobre o álbum da Copa] com dezenas de pessoas, do estagiário até o presidente da empresa. Fui trocando as figurinhas com os colegas de trabalho, até que no fim faltava só a imagem da seleção da França e ninguém tinha. Depois de um mês o presidente da empresa me respondeu dizendo que tinha e que eu podia subir na sala dele pegar. Quando cheguei lá ele estava em reunião de acionistas. O presidente simplesmente parou tudo para me passar a figurinha e pegar uma que ele precisava. E isso na frente do pessoal como se fosse a coisa mais natural do mundo", lembra.

Em resumo, o ato de colecionar as figurinhas e álbum da Copa do Mundo vai muito além da paixão pelo futebol. Isso também gera momentos que ficam guardados na memória, assim como a interação com outras pessoas.

"É um momento de conhecer novos indivíduos, interagir, o que é algo valioso para todo mundo e que pode ser muito bem explorado por aquelas pessoas que têm mais dificuldade de encontrar interações", diz Busin.