'No meu coração, já ganhei'. Brasileira busca título inédito no surfe
Cinco vezes campeão entre os homens, o Brasil tem em Tatiana Weston-Webb a sua maior (e única, por enquanto) esperança de título na categoria feminina do surfe mundial. A surfista que nasceu em Porto Alegre e se mudou para o Havaí com apenas dois meses de idade é a única brasileira no circuito, e terá nesta temporada mais uma chance de levantar o caneco.
No ano passado, ela chegou muito perto. Na grande decisão contra Carissa Moore, em melhor de três, Tati venceu a primeira bateria com propriedade e ficou a apenas um triunfo do título. Porém, a havaiana reagiu e venceu as duas baterias seguintes, conquistando assim o quinto título da carreira.
Mas se quiser entrar para o rol de campeãs mundiais, Tati terá, obrigatoriamente, de dar o troco em Carissa Moore, já que a pentacampeã foi novamente a primeira colocada do ranking e entrará na disputa apenas na finalíssima. Antes disso, a brasileira enfrentará a vencedora do duelo entre a australiana Stephanie Gilmore (quinta colocada) e a costa-riquenha Brisa Hennessy (quarta). Se avançar, ainda terá a francesa Johanne Defay pela frente antes de reencontrar Carissa.
Caso o reencontro se concretize, Tati já tem em mente o que deve fazer para, dessa vez, não deixar o título escapar. "Com ela [Carissa], colocando pressão no começo da bateria, sempre funciona. Mas, pra mim, o único jeito de colocar pressão de verdade nela é pegar uma nota alta no começo da bateria, aí ela cai na pressão e sei que isso funciona", afirma.
"Só que não é sempre que funciona. A gente tenta o máximo para fazer uma nota incrível na primeira onda, só que, às vezes, não acontece. Mas sei que isso acontece muito bem contra ela", complementa Tati, que conversou com o UOL Esporte direto do Kauai, no Havaí, um dia antes de seguir para a Califórnia, palco de mais uma decisão da Liga Mundial de Surfe (WSL).
Acho que a experiência que tive no ano passado [contra a Carissa] me ajuda bastante. Estou super orgulhosa com o que fiz e com toda essa experiência atrás de mim. Estou me sentido super bem para as finais, super livre. Meus equipamentos estão funcionando muito bem e estou surfando bem. É só levar a estratégia no dia, fazer meu surfe e acreditar.
"No meu coração, eu já ganhei"
Das cinco competidoras que lutarão pelo título, Tati Weston-Webb é a única que venceu mais de uma etapa ao longo da temporada — ela ganhou em Portugal e em Jeffreys Bays. Além do título, claro, este era um dos objetivos que estava em sua lista quando 2022 começou.
"Fiquei muito feliz porque, esse ano, meu objetivo era ganhar mais do que uma etapa durante o ano, e acabei ganhando duas. Para mim, isso já foi um objetivo realizado, e fiquei super orgulhosa disso. Muitas pessoas não sabiam disso, mas esse objetivo estava dentro de mim, e eu consegui. No meu coração, eu já ganhei", comemora Tati.
"Estão faltando umas meninas brasileiras"
'Solitária' no circuito, Tati espera ter companhia em breve. Ela é a única brasileira no circuito mundial desde 2019, quando a cearense Silvana Lima, vice-campeã mundial em duas oportunidades (2008 e 2009), fez a sua última temporada na elite feminina.
"Acho que, logo menos, terão várias brasileiras no Tour comigo. Talvez eu nem vá fazer parte tão mais para frente, mas espero que logo menos elas cheguem lá. A Sophia [Medina] está surfando muito bem, a Laura [Rapp] também, elas tão arrasando", acredita.
"É uma honra gigante ser a única brasileira no circuito, só que estão faltando umas meninas. Espero que eu esteja inspirando as meninas a trabalharem muito forte para chegar. Estamos dominando no lado masculino, mas temos que dominar também no feminino", afirma.
E Tati não esconde. Sente falta de uma companhia brasileira no circuito: "Faz diferença. Quando eu tive a Silvana comigo era super legal, sempre ter duas brasileiras dentro das etapas. Acho que a gente merece. Pra mim, é muito bom ter várias representando um país. Acho que isso fala sobre o país e como as coisas estão indo no esporte".
Veja outros trechos da entrevista:
Como a Tati se prepara para as baterias
"Eu compito muito melhor quando estou no meu mundo. Não sou que nem o Filipe [Toledo] que fala com todo mundo e fica soltinho [risos]. Eu gostaria de ser assim, mas eu tenho que ser um pouco mais concentrada, senão não vou encaixar na hora certa e virar o botão na hora. Eu tenho que ficar no meu mundo. Normalmente eu escuto música, faço minha rotina de warm-up para aquecer, e isso sempre me ajuda. Também respiro bastante, é importante."
Ondas grandes
"Não sou muito de onda grande. Eu vou bem em ondas grandes porque estou acostumada, mas não vou me enfiar em uma onda que nem Jaws, Nazaré... Não sinto que preciso fazer isso. Estou tendo sucesso fazendo o nosso Tour, de ondas pequenas, e quando tem um pouco mais de onda, as pessoas sabem que eu gosto. Mas não é que esteja pensando em pegar uma prancha de 8 pés e ir para Jaws pegar umas ondas bizarras, loucas, eu não quero morrer [risos]. Pipeline e Teahupo'o já tá bom [risos]."
Pipeline e Teahupo'o no circuito feminino
"Foi uma coisa super incrível. Está dando para ver a evolução do nosso esporte especialmente no lado feminino. Acho que isso faltava muito nos anos passados e agora tem tudo aí para ser um esporte que vai continuar evoluindo com esse tipo de onda. É super legal. Claro que é um pouco mais perigoso, mais difícil, mas isso vai continuar evoluindo o esporte, especialmente no lado feminino."
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