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Repórter da ESPN assediada em Fla x Vélez desabafa: 'Só queria trabalhar'

Do UOL, em São Paulo (SP)

08/09/2022 11h38Atualizada em 08/09/2022 17h11

Jéssica Dias, repórter da ESPN que foi assediada por um torcedor do Flamengo antes da partida da equipe carioca contra o Vélez, pela Libertadores, desabafou sobre o caso nas redes sociais. No relato, a jornalista deu detalhes dos acontecimentos que vieram antes de sua entrada ao vivo e do beijo na bochecha dado por Marcelo Benevides, que teve prisão preventiva decretada.

"Foi só um beijinho no rosto. Não. Não foi. Antes tiveram muitos xingamentos e importunação porque o ao vivo demorava. Pedi calma e para que não ficasse xingando, não precisava. Vieram os 'pedidos de desculpa' com alisamentos nos ombros e um beijo no local. Eu estava prestes a ser chamada para o link e mantive a posição, existe uma logística que exige concentração. Outra tentativa de beijo no ombro. Me esquivei e meu câmera o chamou a atenção dele", começou escrevendo a repórter, que continuou:

"O último ato foi o beijo no rosto. Que poderia ter sido na boca e não mudaria nada. Eu sofri importunação sexual enquanto trabalhava e isso é crime. Eu não queria beijo, não queria carinho, não queria passar 3h em uma delegacia. Eu só queria trabalhar", disse.

Após o assédio, o torcedor, de acordo com Jéssica Dias, foi 'contido' pelos cinegrafistas Pedro e Bandeira, que faziam a reportagem junto da jornalista. O caso foi parar na delegacia, onde Jéssica registrou queixa, prestou depoimento e depois foi para casa. O Flamengo, por meio de suas redes sociais, manifestou repúdio à ação de Marcelo, que vestia a camisa do clube.

O torcedor estava acompanhado de seu filho, que tem 17 anos. No final de seu desabafo, Jéssica pediu para que o jovem e sua família não sejam culpados pelo ocorrido. Ela também relatou que o mesmo pediu desculpas pela atitude do pai. Por fim, agradeceu às mensagens de carinho e afirmou que vai ficar um tempo 'afastada' porque vai se casar no final de semana.

"O ser humano que fez isso estava com um filho menor de idade que se desculpou pelo pai. O menino não tem culpa, não punam a família dele. Eu agradeço todo apoio e carinho dos meus chefes, colegas, torcedores, telespectadores e ouvintes [...] Sábado eu me caso e no altar vou beijar o homem que eu permiti que o fizesse. Ficarei uns dias longe daqui e dos canais. Obrigada a todos", escreveu.

Defesa de assediador nega que houve crime

Advogado de Marcelo Benevides, Thiago José diz que o cliente é inocente. O defensor aponta que o flamenguista quis participar "com felicidade" do link ao vivo da equipe da ESPN. Benevides está preso na Cadeia Pública José Frederico Marques, em Benfica, na zona central do Rio de Janeiro.

"O meu cliente não cometeu um crime. Aquele beijo foi um beijo fraternal. Um beijo de torcedor, um beijo de admirador, de uma pessoa que admira a equipe da ESPN. O meu cliente acompanha o trabalho da reportagem ESPN. Então naquele momento de interação, ele sentiu o momento de ele participar, mas participar com felicidade, sem agredir, sem causar problemas ou gerar danos. Sem conduta dolosa. Meu cliente é inocente. Aquele beijo foi um beijo simples, sem intenção de maldade. O meu cliente é uma pessoa boa", disse o advogado em vídeo enviado ao UOL Esporte.

Entenda o caso

Jessica Dias, repórter da ESPN no Rio de Janeiro, foi assediada enquanto fazia a cobertura dos arredores do Maracanã antes do duelo entre Flamengo e Vélez Sarsfield, da Argentina, pela semifinal da Libertadores. O responsável pelo ato, Marcelo Benevides Silva, foi detido e levado para prestar depoimento. Durante uma passagem ao vivo feita próxima ao estádio, torcedores do Fla estavam ao fundo cantando músicas da arquibancada quando, de repente, um lhe deu um beijo. Ele deixa o quadro da imagem logo depois, enquanto a jornalista fica, nitidamente, desconfortável com a situação.

Foram os próprios cinegrafistas da ESPN que agiram e alertaram os policiais sobre o assédio, e o torcedor foi imediatamente conduzido à delegacia do estádio.

Marcelo passou por um julgamento no Jecrim (Juizado Especial Criminal) do estádio e, após audiência de custódia, teve prisão preventiva decretada. No estádio, ele estava na companhia de um filho menor de idade (17 anos). Em conversa informal com a imprensa, o menino, muito assustado, pediu desculpas aos jornalistas em nome do pai.