Entre os maiores da história, Éder Jofre pedia reconhecimento no Brasil
Quem conversava nos últimos anos com o ex-pugilista Éder Jofre, que morreu ontem aos 86 anos em São Paulo, costumava ouvir um certo lamento sobre a forma como a memória coletiva do Brasil vinha tratando sua biografia. Sob qualquer medida, Jofre foi o maior boxeador brasileiro e um dos maiores da história desse esporte. Mas achava que nem todos sabiam disso.
O paulistano filho de argentino foi tricampeão mundial nos anos 1960 e saiu carregado nos braços do povo do aeroporto de Congonhas para sua casa no Peruche depois de uma das vitórias mais impressionantes, contra o mexicano Eloy Sanchez. Foi eleito pela maior revista especializada do boxe como o melhor lutador daquela década e depois como o maior peso-galo de todos os tempos. Seu nome entrou em dois halls da fama internacionais, a lembrança de suas lutas ficou na memória de fãs estrangeiros, como na do best-seller americano James Ellroy, para quem Jofre foi o maior lutador que ele já viu e a quem fez questão de encontrar pessoalmente em viagem ao Brasil.
E, no entanto, já no fim da vida, Jofre parecia se ressentir de mais reconhecimento em seu país. Em 2010, quando a luta contra Sanchez fez 50 anos, Jofre se mostrou triste pela forma como era tratado por seus conterrâneos. "Até dói. Fui bicampeão, e as pessoas não sabem que eu sou. Ninguém é obrigado a reconhecer, mas ser bicampeão em um país onde só se fala em futebol não é pouco", disse ele à "TV Globo".
Jofre sempre foi muito acessível a jornalistas e fazia questão de estar presentes em todas as homenagens feitas a ele. Em novembro do ano passado, viajou até os Estados Unidos para ver seu nome no hall da fama da Costa Oeste americana, mesmo com os riscos da pandemia. Ele já tinha o nome no hall da fama de Nova York e se tornou o único brasileiro a aparecer nos dois memoriais.
Com o avanço de uma doença degenerativa que prejudicou sua memória e sua capacidade de se comunicar, coube a seus familiares, os filhos Marcel e Andrea, além do genro Antonio Oliveira, reivindicar mais atenção ao legado do tricampeão. "Acho que tem, sim, pouco reconhecimento. Pela grandeza dos feitos, pelas coisas que ele realizou, acho que é pouco", afirmou Antonio Oliveira a uma reportagem da "Folha de S. Paulo" há dois anos. "Nós batalhamos muito para não deixar o nome dele cair no esquecimento. Os feitos têm que permanecer vivos."
Uma das maiores emoções da velhice de Éder Jofre foi ver sua biografia retratada no cinema. Convidado a assistir ao filme "10 segundos para vencer", no qual seu papel é interpretado pelo ator Daniel Oliveira e o de seu pai por Osmar Prado, o ex-lutador já octogenário chorou como uma criança de 8 anos.
O boxeador deixou uma trajetória de 81 lutas profissionais e apenas duas derrotas contestadas. Deixou também o caminho aberto para os outros lutadores brasileiros que puderam avançar sobre ele.
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