Bordão consagrado fez Bonfá entender que não daria certo no SporTV

"Salve, salve, tirem as crianças da sala". O bordão de Paulo Bonfá que abria as transmissões do Rockgol na antiga MTV Brasil fez o narrador perceber que ele não daria certo no SporTV, segundo ele próprio.

Bonfá comandou o Rockgol entre 1997 e 2010 com uma mistura de humor e futebol e consagrou alguns bordões: "que bonito, que alegria, que beleza", além do "tirem as crianças da sala" já citado. Em 2011, fechou com a Globo, mas não teve sucesso como narrador no SporTV.

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"O que eu senti no SporTV: no meu primeiro piloto [teste] de um jogo narrado de futebol, quando fui fazer o air check, como a gente chama a conferência de um programa antes de ir para o ar, tinha um diretor que não está mais lá que, e quando começa a transmissão, eu comecei com o que digo há décadas: 'salve, salve, tirem as crianças da sala'. O cara deu pause e falou: 'Bonfá, o público infantil é importante para o canal'. Daquele momento em diante, eu já sabia que não ia dar certo", disse Bonfá.

O narrador diz que foi contratado com a proposta de montar para o SporTV um programa vespertino com auditório para público jovem falando de futebol e outras modalidades de uma forma diferente.

"Nunca deu certo porque não tinha estúdio, usava o Faustão, Serginho Groisman, Jô Soares três vezes por semana. E eu fiquei três anos fazendo outras coisas, fiz Olimpíada de Londres, Copa América, viajei para 12 países. Fiz um monte de coisas que não era para aquilo para o que eu fui contratado", contou.

Bonfá ficou com a Globo e com o SporTV até 2013. No ano seguinte, foi contratado pelo Fox Sports para a cobertura da Copa do Mundo do Brasil e teve um programa que ficou no ar até agosto de 2015.

Agora, não tem planos para a Copa do Mundo do Qatar. Depois de anos afastado das narrações, ele retornou em 2022 para narrar o Campeonato Carioca deste ano na Ronaldo TV, do ex-atacante Ronaldo Fenômeno, na Twitch. Além disso, Bonfá é o criador do festival de humor Risadaria.

Bonfá foi chamado para o Fantástico antes de Tadeu Schmidt

O ex-narrador do Rockgol ainda revelou que foi procurado pela Globo para revolucionar os gols da rodada no Fantástico em 2002, antes da Copa do Mundo do Japão e da Coreia do Sul. Ele foi convidado por Mauro Mendonça Filho, diretor de novela da Globo na época, para conversar. Segundo Bonfá, a Globo estava perdendo audiência no Fantástico com a estreia da Casa dos Artistas no SBT.

"Ele falou que já tentaram de tudo, mas, toda vez que entravam os gols da rodada, a audiência caía. Eu falei: 'é lógico, porque quem quer ver futebol já está vendo o Cartão Verde na Cultura, Milton Neves na Record, Avallone na Gazeta'. Tinham cinco programas falando de futebol no mesmo horário. Quem gosta de futebol ia estar vendo outro. Não ia esperar no Fantástico", recordou.

Bonfá disse que passou meses gravando pilotos com novas ideias para os gols da rodada no Fantástico, mas a falta de definição sobre seu futuro na Globo fez com que ele optasse por permanecer na MTV.

"Eu passei quase seis meses fazendo pilotos com eles de renovação de gols do Fantástico. Alguns foram para o ar como repórter por um dia. Quase dois meses antes da Copa do Mundo, eu falei para eles: 'olha, eu vou para o Japão e para a Coreia ou não vou?'. Porque a ideia era eu ser o cara do Fantástico lá. Não conseguiram dizer, aí eu disse: 'a MTV me chamou para fazer um programa de Copa do Mundo. Se está na incerteza, prefiro ir lá na MTV porque vai ser divertido e quero trabalhar nessa Copa'", disse.

Anos mais tarde, ele viu Tadeu Schmidt inovar os gols da rodada no Fantástico usando o humor. Tadeu fez muito sucesso ao longo dos últimos anos e virou apresentador do BBB.

"Demorou seis, sete anos para eles deixarem o Tadeu Schmidt fazer os gols da rodada. Demorou anos até eles abrirem essa porteira. Então, eu achei bom. Era uma coisa que a gente tentou fazer lá atrás, na velocidade da empresa, e também porque a Casa dos Artistas deixou de ser o que era, porque, se tivesse continuado ameaçado, as mudanças iam ser mais rápidas. Foi uma coisa muito pontual. Aí voltei para São Paulo e fiz a Copa pela MTV. E aí o Tadeu entrou lá."

Rockgol inspirou Tiago Leifert e Casimiro?

Na visão de Bonfá, a mistura de humor e futebol que ele e Marco Bianchi levaram para o Rockgol ajudou a flexibilizar o formato de outros programas esportivos. Ele cita exemplos: Tiago Leifert no Globo Esporte e as lives de Casimiro.

"Foi muito bom porque abriu um campo novo. Você pega o Tiago Leifert, que virou um problema para a Globo. Porque só tinha um Tiago Leifert, fazendo o Globo Esporte em São Paulo. Como você arruma um cara em Porto Alegre, outro em BH, outro no Rio, onde conseguiram o Alex Escobar, para ter um pouco mais de jogo de cintura, do lado entusiasta e não especialista, não querer ficar cagando regra?"

"Isso ajudou muito a surgirem hoje os podcasts e os canais em que a pessoa não precisa da emissora. O Casimiro talvez nunca tenha assistido o Rockgol, mas o fato dele poder fazer e das pessoas compreenderem que tinha um caminho e isso explodir...", acrescentou.

Bonfá disse que a equipe do Rockgol "apanhou muito dentro da empresa e do mercado". Segundo o narrador, eles eram mal vistos pelo restante da imprensa esportiva e até por convidados.

"Essas percepções, no início, foram muito fortes. O Romário foi um convidado que nunca tivemos. Na terceira vez que convidamos, o recado foi assim: 'avisa lá na MTV que eu não tenho interesse de ir ao Rockgol nem agora, nem nunca e que não precisam mais me convidar'. Muita gente não aceitava o convite. Depois de um tempo, era cool ir ao programa", contou.