Marco Bianchi, do Rockgol, explica como depressão afetou a sua carreira

Marco Bianchi fez dupla entrosada com Paulo Bonfá por mais de 10 anos na antiga MTV Brasil. Entre 1997 e 2010, eles comandaram o Rockgol, que começou como um torneio de futebol entre músicos e que posteriormente virou um programa de estúdio. Porém, depois que deixou a emissora há mais 10 anos, o comediante fez aparições raras na TV. Ele conta que uma depressão afetou sua carreira.

Durante a pandemia da covid-19, "exausto da vida de urbanoide", Bianchi se mudou para um sítio em Atibaia, no interior de São Paulo.

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"Tive um período longo de algumas dificuldades profissionais, primeiro por questões pessoais, problemas de saúde, ansiedade meio exacerbada, depressão, que me pegou alguns anos e me deixou fora de condições de jogo", disse, em entrevista ao UOL Esporte.

"Depois, pelo meu perfil profissional. Sou um humorista que faz roteiro, trabalho autoral, não tenho formação de ator. Aquilo que eu realizo é aquilo que eu crio. Para vender o meu peixe, preciso que as pessoas comprem meus projetos, ideias, propostas. Não me encaixo facilmente em outras propostas."

Bianchi não acha que sua vida privada seja de interesse do público, "muito artista sobrevive de transformar a vida privada em uma privada pública, como dizia o meu pai", mas não vê problemas em falar sobre a depressão.

"Tenho depressão e ansiedade desde criança, tomo uma medicação e é bem administrado. Consigo administrar bem esses problemas. São problemas crônicos e permanentes que em alguns momentos atrapalham mais que em outros. Em geral, continuo ativo e na esperança de fazer muitos trabalhos bons. Gosto muito de criar humor. Isso me motiva e me ajuda a manter o equilíbrio", explicou.

"A minha carreira nos últimos 12 anos foi meio devagar, quase parando. Tenho alguns projetos que realizei, mas nem cito muito porque não tiveram muita repercussão. Isso [a depressão] é um dos diversos fatores que explicam que, depois do Rockgol, eu fiquei meio para escanteio nesse mercado. Eu entendo essa situação, que existem todos esses aspectos e não me entreguei por causa disso e não escondo isso e não tenho interesse em dividir as questões pessoais, mas é um dado da realidade que não tenho por que esconder. É uma dificuldade que muitas pessoas têm, e eu também tenho."

Um dos projetos mais recentes do humorista foi o podcast Chute nas Bolas, lançado pelo Spotify no ano passado, com texto e apresentação de Bianchi. Ele acredita que poderia ter buscado mais opções, como apresentar programa de auditório ou fazer stand-up comedy, se tivesse formação de ator.

"O que sei fazer é humor e criação de humor. Procuro ser leal e fiel às minhas habilidades. Se pinta convite para fazer trabalhos, nem pinta diferente do que eu faço porque eu nunca fiz outro tipo de trabalho. Fiquei com um pouco de dificuldade por conta disso e por conta da profunda transformação pela qual passou a indústria da comunicação", declarou.

"Há 12 anos, não tinha a internet com o alcance que tem hoje. Não tinha também o stand-up brasileiro que se instalou em todos os postos de comando das principais empresas de comunicação, de televisão, principais programas de rádio. O humorista ocupou uma parte muito grande desse mercado, mesmo aquele que não era originalmente o mercado deles. Foram para TV, rádio. Todos esses fatores juntos, combinados com a incompetência muito grande que tenho para questões empresariais. Tenho dificuldade de vender o meu peixe", acrescentou.

Rockgol de volta?

Bianchi viu Paulo Bonfá organizar uma exposição dos 25 anos do Rockgol desde que a dupla assumiu a atração em 1997. A mostra está no Museu do Futebol, em São Paulo. Agora, o humorista acredita que o antigo programa tem chance de retornar no futuro e até já propôs um novo projeto para o ex-parceiro.

"O Rockgol foi um marco, sem querer ser muito narcisista, dessa proposta de levar o esporte para o lado do entretenimento, para o lado do humor no nosso caso. Não digo que tenha sido o primeiro marco. Muito antes de nós, outros fizeram trabalhos e projetos com linha de trabalho semelhante a essa, voltada mais para o entretenimento e para o humor, como o Show de Rádio, que talvez seja a primeira referência do nosso rádio."

Bianchi pensou em um Rockgol remodelado, com possibilidades de ser um podcast, programa em vídeo no YouTube com debate e convidados e até transmitindo jogos de futebol profissional usando o humor.

"Eu propus a ele [Paulo Bonfá] e coloquei no papel diretrizes gerais, dividi com ele, mas é questão de viabilidade. Se tiver viabilidade comercial para viabilizar esses projetos, ele avança. Se não, ficar algo puramente voluntarioso é difícil que se sustente. Já tive essa conversa com ele faz quase três anos, mas foi logo antes da pandemia, aí veio a pandemia e as coisas deram uma esfriada, mas acho que ele e eu ficamos na expectativa de que pudesse mais adiante desengavetar essas ideias", finalizou o humorista.