Topo

MMA


Vivi Araújo já brigou com o pai para defender a mãe; hoje, luta pelo UFC

Brasileira de 35 anos vai encarar Alexa Grasso na noite de hoje no UFC Fight Night - Mike Roach/Zuffa LLC
Brasileira de 35 anos vai encarar Alexa Grasso na noite de hoje no UFC Fight Night Imagem: Mike Roach/Zuffa LLC

Do UOL, em São Paulo

15/10/2022 04h00

Adversária da mexicana Alexa Grasso na noite de hoje na luta principal do UFC Fight Night, a brasileira Vivi Araújo travou duras batalhas antes de chegar ao cenário mundial do MMA. E não foi só dentro dos ringues.

Nascida em Brasília, a lutadora peso-mosca teve que lidar, ao lado de seus dois irmãos, com graves problemas familiares desde cedo: o pai, alcoólatra, cometia atos de violência doméstica contra sua mãe.

"Foram momentos bem pesados e que me marcaram muito. Tenho um irmão mais velho e uma irmã mais nova. Nós presenciamos a violência doméstica com meu pai alcoólatra. É até difícil falar sobre isso, mas é importante expor para outras pessoas. Eu, muito novinha, presenciava muita violência, drogas e bebidas dentro de casa", iniciou Vivi, atual número 6 do ranking em sua categoria, em entrevista ao UOL Esporte.

Sem conseguir frear os atos do pai, ela achou no esporte, já adolescente, uma fuga da realidade — e não foi no MMA.

"Descobri o futebol para sair de casa e não presenciar o que acontecia lá dentro. Sempre soube que o esporte iria me salvar e salvar minha família se eu me dedicasse. Tinha sonhos de conhecer vários países e de ajudar minha família financeiramente através do esporte, mas não tinha ninguém da família para me espelhar. Era eu ou eu mesmo para dar o primeiro passo", falou.

Lesão mudou rumos

O futebol foi grande parte da vida de Vivi até os 18 anos. Uma lesão, no entanto, mudou completamente o rumo de sua vida.

Vivi Araújo em foto ao lado da mãe e da avó - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Vivi Araújo em foto ao lado da mãe e da avó
Imagem: Reprodução/Instagram

"Conheci o jiu-jítsu e foi amor à primeira vista. Quando eu jogava futebol, era isso o dia todo, mas quando eu conheci o jiu-jítsu, bateu um amor maior."

A nova paixão, inclusive, ajudou a superar o drama vivido dentro de casa. Mais forte e mais velha, Vivi começou a bater de frente com o pai para defender a mãe. Deu certo.

"Encontrei uma forma de fortalecer meu corpo e proteger minha família. Fui nessa intenção. Quando comecei, meus pais ainda viviam juntos e era briga todos os dias. Eu não aguentava ver aquilo. Aí entrei, fiz jiu-jítsu para ganhar mais consciência corporal e poder defender minha mãe. Com mais confiança e empoderamento, até meu pai sentia: quando eu estava em casa, ele não brigava mais. Cheguei a brigar fisicamente com ele uma vez e, depois disso, ele mudou e passou a me respeitar. Ele parou de mexer com minha mãe quando eu estava em casa. Eu era tipo um escudo", contou ela, que hoje não mantém contato com o pai.

Do jiu-jítsu para o MMA

Iniciando no mundo da luta em um projeto social de Brasília, Vivi começou a se destacar e passou a ser escalada em competições nacionais de jiu-jítsu.

As medalhas vieram, mas o dinheiro não tanto. Diante da necessidade de melhorar a qualidade de vida de sua mãe, avó e irmãos — e já com o pai afastado de sua vida —, surgiu a ideia de ampliar o escopo.

"Não estava conseguindo só viver do jiu-jítsu porque não tinha um bom retorno financeiro. Aí migrei para o MMA", relembrou.

O tempo passou e, hoje com 35 anos, ela acumula um cartel de respeito no UFC: 11 vitórias e três derrotas. O objetivo, no entanto, ainda não foi concluído.

"Com certeza, a meta é chegar no cinturão, fazer história no UFC, levar isso para a minha quebrada e servir de espelho para as crianças de onde eu vim", revelou. Vivi, que não se espelha em ninguém do esporte, ainda sonha em montar um projeto social em Ceilândia no futuro.

Vivi Araújo, lutadora do UFC - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Imagem: Reprodução/Instagram

Adversária de hoje é bem conhecida

Dentro dos octógonos, o próximo passo é a luta contra Alexa Grasso. O duelo, aliás, já virou novela: as duas se enfrentariam no começo do ano, mas uma lesão sofrida pela brasileira impediu o combate. Em junho, um novo adiamento — desta vez a pedido da mexicana. Agora, não há obstáculos.

"Há males que vêm para o bem. Aquela luta foi cancelada, mas agora me remarcaram como a luta principal. Fiquei muito feliz por esse reconhecimento e pelo UFC me dar a oportunidade. Estou trabalhando muito", disse.

Grasso, aliás, já foi muito bem estudada por Vivi e sua equipe. Lembra do jiu-jítsu? Ele pode ser fator-chave no duelo.

"Pelo que estudamos desde o começo do ano, ela [Grasso] se movimenta muito bem no chão e tem um volume de boxe muito alto. Ela vem evoluindo bastante a parte de chão, mas a gente acredita que as brechas dela continuam no chão, então estou chegando muito afiada com meu jiu-jítsu e com uma pressão muito grande no chão. A gente acredita que o caminho vai ser a finalização."

Vivi e Grasso farão a última luta do evento, que começa às 17h (de Brasília).

Em caso de violência, denuncie

Ao presenciar um episódio de agressão contra mulheres, ligue para 190 e denuncie.

Casos de violência doméstica são, na maior parte das vezes, cometidos por parceiros ou ex-companheiros das mulheres, mas a Lei Maria da Penha também pode ser aplicada em agressões cometidas por familiares.

Também é possível realizar denúncias pelo número 180 — Central de Atendimento à Mulher — e do Disque 100, que apura violações aos direitos humanos.

Há ainda o aplicativo Direitos Humanos Brasil e através da página da Ouvidoria Nacional de Diretos Humanos (ONDH) do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH). Vítimas de violência doméstica podem fazer a denúncia em até seis meses.