Frio na barriga: A experiência de um repórter sem CNH na corrida maluca
No último fim de semana, aconteceu em Ribeirão Preto, interior de São Paulo, o evento Red Bull Ladeira Abaixo, onde 49 carrinhos desceram a ladeira passando por obstáculos após uma manhã bem chuvosa na cidade.
Quando cheguei em Ribeirão no sábado (8), a cidade já estava no clima da competição. A pista estava pronta na avenida Wladimir Meirelles Ferreira, a música era alta e os competidores estavam na garagem expondo o seu trabalho de meses que seria resumido em poucos segundos na hora da descida.
A competição em si só aconteceu no domingo, e no sábado foi o dia que os jornalistas que cobririam o evento puderam conversar com os participantes e entender um pouco mais sobre o que iria acontecer. Na parte da noite, a Red Bull convidou todos os repórteres para um jantar e lá descobri que duas redatoras de redes sociais de outro portal de notícia iriam "descer a ladeira" em um carrinho.
Quando eu soube disso, só conseguia pensar: "como eu não tive essa ideia antes?" e "como vocês conseguiram isso?". No mesmo instante conversei com o pessoal da marca e disse: "vocês precisam me colocar em um carrinho também, se tiver uma chance eu quero muito participar" — mas eu não estava com muitas expectativas.
O dia da competição
O domingo amanheceu com o tempo fechado, já dando indícios que choveria bastante naquela manhã/tarde. E foi o que aconteceu, após cerca de 20 participantes se exibirem começou uma chuva bem forte e dava para perceber pela troca de olhares do pessoal da Red Bull, que em algum momento passou pela cabeça deles interromper o evento.
Poucos minutos depois da chuva forte, uma integrante da organizadora da competição veio em minha direção e disse: "abriu uma vaga para descer a ladeira, você quer ir?". Empolgado, eu disse: "claro, vamos sim". Mas após a ansiedade dar uma amenizada só consegui pensar nos inúmeros capotes que vi naquele dia, ainda mais com uma pista toda molhada.
Outro fator importante que eu não cogitei foi a minha habilidade no volante. Vou completar 25 anos no próximo dia 29, mas eu não tenho CNH, nem sequer sei trocar um pneu. Toda minha experiência no mundo automobilístico é baseada nos jogos do Mario Kart e em algumas boas horas assistindo a Fórmula 1.
Mas enfim, na minha cabeça isso era um mero detalhe. Recebi a notícia e disparei para pessoas próximas, bem feliz. Inclusive para um editor que estava de plantão, que também comprou a ideia e disse que seria bem legal uma matéria em primeira pessoa contando essa experiência, ainda mais vindo de alguém que não pode dirigir na vida real.
A Red Bull nos contou que a nossa descida seria após a participação na brincadeira do surfista Pedro Scooby — que já havia descido a ladeira em outros eventos — e o influenciador Léo Picon. Mas quando eles chegaram lá embaixo, foi avisado que o carrinho deles estava destruído e não poderia ser mais utilizado.
Sobrou um carrinho e as duas outras repórteres para descer. Ou seja, a minha matéria — que eu já tinha avisado meu editor que iria rolar — poderia ter caído se o carrinho não voltasse inteiro. No fim das contas, deu tudo certo e chegou a minha hora.
Coloquei cotoveleira, joelheira, protetor de mãos e capacete para ter certeza que voltaria para a casa e assinei o termo de que a responsabilidade era toda minha.
Apesar da pista molhada e de toda falta de experiência no volante, algo me deixou bem tranquilo: o carro que eu iria utilizar foi construído por um mecânico profissional contratado pela Red Bull, tinha rodas gigantes (para o parâmetro dos carrinhos) e parecia bem mais seguro do que todos os outros que eu tinha visto em toda competição.
De acordo com a própria Red Bull o carro 'Asa Delta' tem construção de chassi tubular em aço carbono soldado em processo mig, rodas e pneus aro 8 polegadas, confecção de estrutura metálica em formato de asa com aplicação de lona impressa com logomarca, hélice em PS 5mm recortada no laser e fixada a estrutura com tela que irá girar conforme deslocamento do carrinho, e apliques laterais em PS 5mm com aplicação de vinil impresso com logomarcas.
Sinceramente, não entendi quase nada da descrição do carrinho, mas caso alguém queira saber, está aí acima.
Voltando para a hora da descida, dois responsáveis empurravam o carrinho lá de cima para pegar mais velocidade e logo no início do trajeto já tem uma rampa para te alavancar ainda mais.
Na minha cabeça eu só conseguia pensar: "eu não posso tombar esse carrinho na primeira curva", o famoso medo de dar vexame e ser o assunto da galera por um bom tempo.
O começo foi bem tenso com muito frio na barriga, mas percebi que conforme eu apertava o freio, o carro respondia muito bem — até dei um tchauzinho para o povo guerreiro que ainda estava lá dando uma moral embaixo da chuva.
A pista ainda contava com uma terra batida, que serviu para sujar minha perna inteira, e outra rampa com muita espuma, que impossibilitava o condutor de enxergar alguma coisa.
Foi uma sensação muito boa, se eu tivesse a chance de participar novamente, iria com toda certeza.
Mas se você busca mais emoção, talvez a melhor opção seja você montar seu próprio carrinho para o ano que vem e flertar com o medo dele não chegar até o final ou ir se desfazendo ao longo da descida.
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