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Família doa cérebro de Eder Jofre para estudo sobre encefalopatia

Eder Jofre grava sua participação no filme "10 Segundos", que contará a história de sua vida e de seus títulos mundiais no boxe - José Guertzenstein/Divulgação
Eder Jofre grava sua participação no filme "10 Segundos", que contará a história de sua vida e de seus títulos mundiais no boxe Imagem: José Guertzenstein/Divulgação

Do UOL, em São Paulo

20/10/2022 16h28

O pugilista Eder Jofre, que morreu no último dia 2, escolheu doar seu cérebro para estudos sobre encefalopatia traumática crônica, patologia antigamente conhecida como demência pugilista. O atleta brasileiro convivia com a doença desde meados de 2010.

A decisão foi respeitada pela família, que anunciou a doação durante uma entrevista coletiva concedida nesta quinta-feira (20), no consultório do neurologista Renato Anghinah, que acompanhou o tratamento de Jofre. Os estudos serão realizados pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP).

Filhos de Eder, Marcel e Andrea Jofre afirmam que o pai se considerava doador de órgãos, e dizia que "se fosse para ajudar, poderiam doar todos os dele". Quando o diagnóstico da doença veio, ele confirmou com o médico o desejo da doação do cérebro. Os dois concederam a entrevista acompanhados, também, do genro de Eder, Antônio Oliveira.

"Esse é mais um gesto nobre do meu pai, que trouxe tantas alegrias pro povo brasileiro. Eu, como filho, fico muito feliz por saber que ele tomou essa decisão em vida. Se outros pacientes tivessem feito o mesmo, o tratamento do meu pai estaria mais avançado. Poderia ter prolongado a vida dele", diz Marcel.

O start para que Eder Jofre decidisse doar o cérebro foi a decisão do lutador Mohammed Ali de não doar o seu, ao morrer. "O Eder ficou muito chateado com essa decisão do Ali. Foi aí que ele teve certeza de que faria diferente", conta o neurologista Renato Anghinah.

Assim que foi decretado o óbito de Eder Jofre, os familiares acionaram o neurologista para que fosse feita a remoção do órgão. Ele foi captado e levado até o Biobanco para Estudos em Envelhecimento da Faculdade de Medicina da USP.

Doença pode ser confundida

Os primeiros sinais de encefalopatia traumática crônica começaram em 2010, mas Jofre os ignorou. Segundo os filhos, ele passou a esquecer coisas básicas, como o que ia comprar no mercado e onde havia colocado as chaves. Com a morte da esposa, mãe dos filhos de Jofre, os sintomas se acentuaram. "Ele entrou em depressão profunda. Inicialmente, começou a ser tratado como se estivesse com Alzheimer. É um quadro parecido, mas diferente. São tratamentos diferentes", conta Marcel.

Eder Jofre tomava 14 medicamentos por dia para tratar Alzheimer. Quando recebeu o diagnóstico correto, por parte do neurologista, as medicações foram reduzidas a uma. "Ele teve muito mais qualidade de vida", afirma Andrea.

Os sintomas se intensificaram com os anos. No fim da vida, Jofre sofria com alterações fortes de humor, além de tremor e dificuldade de locomoção. Ainda assim, o desenvolvimento da encefalopatia traumática crônica é mais lento do que o Alzheimer, de acordo com o neurologista.

Além da medicação padrão, Jofre foi tratado com canabidiol, substância que proporcionou a ele "muito mais equilíbrio e consciência corporal". Os familiares pedem que o preconceito em relação ao óleo da cannabis acabe, uma vez que a substância "foi essencial para que o pai vivesse melhor".

"Eder Jofre é um caso prático de como o canabidiol trabalha. Ele estava muito agitado no fim da vida, e o canabidiol o acalmou, melhorou o apetite e ele conseguiu se fortalecer. Com certeza ajuda a ter mais qualidade de vida", diz Anghinah. "Esse é mais um serviço em prol dos pacientes que Eder Jofre deixa como legado. Canabidiol não tem nada a ver com droga, é um tratamento farmacêutico".