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Tudo por um tchauzinho: como é a saga de fãs para conhecer pilotos da F1

Fãs aguardam pilotos da Fórmula 1 na entrada do Palácio Tangará, em São Paulo - Gustavo Setti/UOL
Fãs aguardam pilotos da Fórmula 1 na entrada do Palácio Tangará, em São Paulo Imagem: Gustavo Setti/UOL

Do UOL, em São Paulo

11/11/2022 04h00

O furor cresce a cada carro preto com os vidros escuros que passa pela entrada do Palácio Tangará, um dos hotéis mais luxuosos de São Paulo. Luzes de celulares acesas e rostos colados no vidro para tentar ver alguma coisa. Tudo por uma foto, autógrafo ou até um tchauzinho de um piloto da Fórmula 1. Não importa qual, mas claro que os fãs têm seus favoritos: Lewis Hamilton, Charles Leclerc e até o pouco midiático Alexander Albon.

São cerca de 30 torcedores e torcedoras que se espremem numa estreita calçada que faz curva. E nada de ultrapassar a guia, senão a segurança do hotel dá bronca por atrapalhar o entra e sai imparável dos carros. Eles não estão autorizados a cruzar o imponente portão de ferro guardado pelos seguranças.

Esses fanáticos pela Fórmula 1 vieram de diferentes lugares do Brasil — e até do Chile. Eles se identificam uns nos outros, trocam contatos e risadas. Quem consegue uma foto ou vídeo de um piloto logo compartilha com o restante. A comemoração é coletiva.

O objetivo de todos é o mesmo: conhecer os pilotos da Fórmula 1. Para isso, fazem o que muita gente acharia loucura.

'Infiltrada' por Leclerc

A autônoma Daniely Reis não gostava de Fórmula 1, tentou assistir a uma corrida a pedido do sogro em 2015, mas nada feito. Um dia, "sem nada para fazer, celular sem bateria e sem carregador", ela sentou para ver mais uma vez. "Quando fui ver, estou como doida indo para aeroporto, porta de hotel", disse.

Ela é fanática por Leclerc, "uma paixão à primeira vista", como descreveu. No começo da semana, recepcionou o piloto da Ferrari no aeroporto e encheu o monegasco de presentes: uma camiseta do Brasil, uma pulseira com uma foto do pai dele, Hervé, que morreu em 2017, e uma luminária com um desenho de Leclerc da primeira vitória dele na Ferrari.

"Eu falei que era presente, e ele me olhou com uma cara sem graça de 'não precisava de tudo isso'."

Mesmo depois de conhecer o piloto, tirar foto, pegar autógrafo e conversar, "ele falando comigo em inglês, eu falando em português", Daniely fez plantão de 12 horas na entrada do hotel para tentar reencontrar o piloto. Ela deixou até de trabalhar. E foi além: se "infiltrou" no Palácio Tangará.

Charles Leclerc e Daniely Reis, fã do piloto - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Charles Leclerc e Daniely Reis, fã do piloto
Imagem: Arquivo Pessoal

"Uma menina fez uma reserva para conseguir entrar no hotel para almoçar ou jantar. Ela me passou a reserva dela e entrei à noite, entrei 18h e saí 22h20. Fiquei lá dentro. Fiquei sentada em uma mesa. Foi uma caça ao tesouro. Se achar, achou. Eu o vi no aeroporto, mas foi muito rápido", afirmou.

Tem até um grupo de WhatsApp de fãs de Leclerc que seguem os passos do monegasco e trocam informações sobre quando e onde ele está durante a passagem pelo Brasil. O nome: Monegatas.

"É um sentimento único, ele não vai estar aqui todos os dias. Quanto mais a gente ver o Leclerc, melhor."

Um tchauzinho e nada mais

A estudante de direito Letícia Schaedler é outra fã de Leclerc e também se dispôs a ficar mais de 12 horas em pé. A espera foi premiada. Leclerc passou rapidamente e, de dentro do carro e com o vidro fechado, deu um tchauzinho. Foi o suficiente para Letícia, que conseguiu gravar e saiu dando pulos de alegria.

"Saí da faculdade ao meio-dia e vim direto para cá. Eu queria ver os pilotos. Qualquer tchauzinho que eles me dessem já estava feliz", contou ela, que compartilhou a gravação com o restante dos fãs que estavam lá.

"Mandei o vídeo para o grupo do pessoal que está aqui. Eu conheci todos eles aqui. Todo o mundo veio sozinho e fez amizade aqui. Sou do Mato Grosso, moro em São Paulo, mas tem meninas do Nordeste, outra de Manaus, outra do Rio", acrescentou, apontando as novas amizades de uma em uma.

Fã de Leclerc foi consolada pelo piloto

O roteiro se repete. A jornalista Kelly Amorim foi segunda, terça e quarta na Palácio Tangará para ver Leclerc. E conseguiu mais que as demais. Na terça, foi até consolada pelo piloto.

"Eu perdi minha tia recentemente. Ela assistia Fórmula 1 comigo. E aí eu pensei em várias coisas negativas depois disso. Só que tinha ele [Leclerc] lá. Eu assistia a Fórmula 1 e lembrava dela. Eu falei com ele, agradeci por tudo que ele fez, mesmo sem ele saber", contou.

"Ele foi super fofo, disse para eu não chorar: 'eu sei como é difícil, não fica pensando nessas coisas, tenta ficar forte'. Eu pedi para abraçá-lo, a gente tirou foto. Eu estava tremendo. Ele desceu do carro e falou comigo e com outras três amigas. Foi super solícito."

Um estranho no ninho

Guilherme Cadima exibe bandeira de Alexander Albon - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Guilherme Cadima exibe bandeira de Alexander Albon
Imagem: Arquivo Pessoal

Mas não é só de fãs de Leclerc que vive a entrada do Palácio Tangará. O estudante de Relações Internacionais Guilherme Cadima destoa ao exibir uma torcida diferente. Nada de pilotos da Ferrari, Mercedes ou Red Bull. Ele é fã mesmo do tailandês Alexander Albon, da Williams. Fez até uma bandeira personalizada da Tailândia com o nome de Albon escrito em tailandês após pedir ajuda para uma página tailandesa na internet.

"É um cara que ninguém conhece. Voltei a assistir Fórmula 1 em 2019, quando ele entrou na F1. A primeira corrida que eu assisti foi a da Alemanha, foi uma corrida que ele correu muito bem na Toro Rosso. Aí eu falei que ia torcer para esse cara. Depois, foi promovido para a Red Bull, comecei a acompanhar mais e mais e vi as ações dele fora da pista. Ele é uma pessoa muito legal, muito boa. Gostei demais da personalidade dele. Por isso que apoio ele há mais de quatro anos", explicou.

Ele saiu de casa depois do almoço e foi para o hotel. Passou fome, não conseguiu ir ao banheiro, ficou em pé até 23h e "nada do pobre do Alex aparecer". No fim, voltou para casa com sua bandeira personalizada sem um autógrafo do ídolo, mas não se arrepende.

"O sonho era conhecer o Albon, mas faz parte. A experiência de ficar com a galera foi bem legal."

Diretamente do Chile

As chilenas Nery Salinas e Aniela Mena vieram ao Brasil para a Fórmula 1 - Gustavo Setti/UOL - Gustavo Setti/UOL
As chilenas Nery Salinas e Aniela Mena vieram ao Brasil para a Fórmula 1
Imagem: Gustavo Setti/UOL

As chilenas Nery Salinas e Aniela Mena se conheceram por um grupo de WhatsApp de fãs de Fórmula 1 na América Latina. Eram só três do Chile, país sem tradição na categoria. Delas, duas resolveram vir ao Brasil para o GP de São Paulo.

Elas começaram a planejar a viagem há um ano e só foram se conhecer pessoalmente no início de 2022. Agora, estão viajando juntas pela capital paulista na segunda vez que se encontraram na vida. Mas nada de Parque do Ibirapuera, Masp ou rolê na Avenida Paulista. Isso fica para depois da corrida. O objetivo do momento é ver os pilotos.

"Eu comecei a gostar com a série da Netflix. Vi o primeiro capítulo e me apaixonei. Eu gosto do que trata dos pilotos e gosto da velocidade. Comecei a ver a corridas, decidimos vir e fui entrando no esporte", contou Aniela.

O favorito dela é Daniel Ricciardo, um "bom piloto, muito carismático, humilde, simpático, muito divertido".

"Eu gosto muito da F1. Sou fã da Ferrari e do Leclerc. No meu país, a Fórmula 1 não é muito conhecida. Então, é mais difícil conseguir amigos que acompanham. Mas é uma paixão", disse Nery.

Elas chegaram antes das 14h da última quarta-feira ao Tangará. Nery prometeu: "Vou ficar até a hora que vier um piloto". Mas não veio, e ela foi embora depois de seis horas esperando na entrada do hotel. Pouco depois, Leclerc passou rapidamente dando tchauzinho de dentro do carro. Sorte de quem ainda estava lá.

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