Jogo grávida e voz política: 4 vezes que Isabel abriu portas para mulheres

Hoje (16), o mundo esportivo levou um choque com a notícia da morte de Isabel Salgado, ex-jogadora de vôlei, aos 62 anos.

Ela estava internada no Hospital Sírio-Libanês, na região central da capital paulista. Segundo informações da coluna do UOL 'Olhar Olímpico', a causa da morte foi uma bactéria pulmonar.

Relacionadas

Lula lamenta morte de Isabel Salgado: 'Uma referência'

Ex-atletas e figuras políticas lamentam morte de Isabel Salgado, do vôlei

Personagem influente do cenário esportivo nacional, a ex-jogadora e treinadora foi pioneira em vários aspectos da modalidade, colecionou momentos marcantes dentro e fora do esporte, inclusive conquistando destaque por seu posicionamento político claro e contundente.

Isabel foi uma das principais jogadoras de vôlei da seleção brasileira da década de 1980, disputou dois Jogos Olímpicos e ajudou o país a conquistar seis medalhas em Campeonatos Mundiais. Abaixo, o UOL destaca alguns dos momentos mais marcantes de Isabel no cenário esportivo.

Grávida e jogando

Isabel quebrou paradigmas ao jogar quando estava grávida. Em sua primeira gestação, ela seguiu as regras tradicionais e parou de treinar e jogar ainda no início. No entanto, quando ficou grávida do segundo filho, se sentiu segura e jogou até o sexto mês de gravidez.

"Toda vez que fiquei grávida, eu sempre tinha o acompanhamento de um bom médico e eu sempre fazia o que eu sentia que dava. Eu me sentia bem em quadra quando joguei grávida, me sentia muito segura, meu físico era muito bem preparado. Todos os meus partos foram normais", disse em entrevista para o site 'Saque Viagem', em 2020.

Pioneira no exterior

Isabel também foi pioneira ao se tornar a primeira mulher brasileira a jogar vôlei profissionalmente no exterior, uma novidade em uma época em que o vôlei ainda começava a se profissionalizar no Brasil.

Seu destino foi Modena, na Itália, para onde ela se transferiu logo após a participação nas Olimpíadas de Moscou, em 1980.

"A minha mãe queria que eu deixasse a Pilar [filha mais velha] com ela porque achava que eu era muito nova e ela não poderia ir comigo. Essa hipótese para mim não existia e eu fui com a Pilar para a Itália (...) Eu fui a primeira brasileira a jogar vôlei no exterior, ninguém tinha saído ainda. Tudo era novidade", comentou na mesma entrevista.

Posicionamento político

Discreta, porém desde sempre politicamente consciente, Isabel já tinha demonstrado sua personalidade forte em um episódio marcante em 1982. Em um jogo da seleção contra o Japão, no ginásio do Ibirapuera, ela se indignou com o comportamento da torcida que hostilizava as adversárias, foi até o microfone e ameaçou abandonar o jogo caso o público não mudasse sua postura.

Muitos anos depois, ela voltou a usar a força de sua voz apoiando a filha Carol Solberg quando ela foi alvo de críticas por se posicionar contra atitudes do presidente Jair Bolsonaro (PL). Durante uma partida do Circuito Brasileiro de Vôlei de Praia, Carol gritou "fora Bolsonaro" quando dava uma entrevista.

Carol chegou a ser denunciada pelo subprocurador do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) do vôlei, Wagner Dantas. Ela foi punida com uma advertência em primeira instância, mas recorreu e foi absolvida.

"A manifestação da Carol foi para lá de lícita e legítima numa entrevista. Eu estranharia se fosse diferente. Eu me envergonharia se ela berrasse a favor de um torturador. Ou enaltecendo uma pessoa que agiu covardemente contra outros. Ou se ela fosse homofóbica ou racista. Eu me orgulho de meus filhos. Do caráter bacana deles. Eu estranho a indiferença das pessoas diante do que está acontecendo no Brasil. Na nossa cara", afirmou Isabel em entrevista ao jornal O Globo na época.

Recentemente, Isabel havia sido anunciada como um dos nomes para compor o grupo de esportes da equipe de transição do governo Lula. Ao lado dela, também foram nomeados a ex-jogadora de vôlei Ana Moser e o ex-jogador de futebol Raí.

Destaque na quadra e na praia

Isabel já fez parte da seleção feminina de vôlei que abriu as portas para a modalidade, nos anos 1980, ao lado de Vera Mossa e Jaqueline.

A ex-jogadora foi medalhista de bronze nos Jogos Pan-Americanos de 1979, em San Juan, Porto Rico. Além disso, conquistou seis medalhas em Mundiais.

Isabel disputou duas Olimpíadas (Moscou 1980 e Los Angeles 1984) com o vôlei de quadra e depois, no início dos anos 1990, migrou para o vôlei de praia, em que foi uma das pioneiras mundiais da modalidade.

Ela jogou diversas etapas do Circuito Mundial e brasileiro entre 1993 e 2001, inclusive com ouro na etapa de Miami, nos EUA, em 1994. Suas parceiras foram Roseli, Jerusa, Tatiana Minello e Jaqueline.