Ana Marcela Cunha explica por que fez 'mistério' sobre lesão e cirurgia

A campeã olímpica Ana Marcela Cunha foi operada no ombro esquerdo no último fim de semana depois de competir boa parte da temporada 2022 lesionada. Ela se machucou em maio, mas preferiu "esconder" a real gravidade ao longo ao ano e não deu sinais de que passaria por cirurgia. Tudo para não parecer uma desculpa.

A medalhista de ouro na maratona aquática nos Jogos de Tóquio sofreu a lesão na etapa portuguesa do Circuito Mundial, em maio. Mesmo assim, terminou 2022 como hexacampeã do Circuito, além de ter vencido duas provas no Mundial de Esportes Aquáticos, em julho.

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Pouco mais de uma semana depois de confirmar o hexa, ela foi operada no ombro: o tendão subescapular que estava rompido e o supraespinhal que estava lesionado.

"Fiz fisio, levamos da forma como deu, nadei o Mundial. Uma das minhas primeiras entrevistas no Mundial é chorando, aliviada, sem poder falar de fato o que estava acontecendo, porque eu também não queria. Foi uma opção minha, do meu técnico e da minha comissão, a gente não queria vazar nada, que fosse uma desculpa", disse ao UOL.

"A gente queria continuar o ano e esperou o momento certo para todos estarem sabendo. Não precisei tomar nenhum tipo de medicamento que mudasse o meu dia a dia, não precisei fazer infiltração, a gente levou da melhor forma que a gente pôde. Diminuímos carga de treinamento, adaptamos tudo o que era necessário. Tínhamos o plano B que era: sentiu dor, não estamos mais conseguindo treinar, vamos parar. Essa era a opção B, e não aconteceu. A cirurgia já estava programada havia uns três meses, tudo bem pensado", acrescentou.

Traje térmico prejudicou?

Ana Marcela se lesionou em Portugal usando traje térmico depois que a Fina (Federação Internacional de Natação) exigiu o uso da vestimenta porque a água estava gelada. O traje limitou o movimento da brasileira, que terminou a prova com muitas dores, sem conseguir levantar o braço. Ela não tem certeza se foi por causa do equipamento que se machucou.

"Eu poderia já estar com algo, com uma pequena lesão, como poderia não estar. A gente não tem imagem, dado. Eu não tinha dor que me limitava, dor de usar o traje. Provavelmente, o dia, uma braçada errada, pode ter acontecido qualquer coisa. De fato, a gente não sabe quando, mas foi ali que eu senti a dor."

A Fina estabelece atualmente o uso de trajes como opcional, obrigatório e proibido dependendo da temperatura da água. A partir de 2023, terá apenas obrigatório e proibido, o que agradou à campeã olímpica.

"Muitos atletas não gostam [dos trajes]. Quem gosta são os europeus, que vivem muito no inverno e conseguem fazer muitas competições lá, mas não teve um estudo de que poderia evitar lesão. Não sou só eu. Existem outros que também estão reclamando e brigando por isso", declarou.

"A comissão da Fina está vendo isso, estão reavaliando, já tem a ideia dos atletas de colocar sem a manga, só regata, então eles estão se adaptando também. Infelizmente, aconteceu comigo, mas também faz parte do jogo, do esporte", completou.

Recuperação

Recém-operada, Ana Marcela ficará de três a cinco semanas com tipoia. Daqui 10 a 12 semanas, volta para a água, dependendo da avaliação médica. O ano que vem ainda terá um incentivo extra para a atleta: o Mundial da Fina dará vagas nos Jogos de Paris-2024 e será realizado em julho, no Japão.

"É tudo muito pensado. Vamos ter dois meses e meio para o Campeonato Mundial, é tempo suficiente para estar bem para competir, mesmo não estando 100%. Foi tudo muito bem planejado."