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Bicampeão olímpico muda treino para driblar artrose e se aprimora no Brasil

Teddy Riner, bicampeão olímpico no judô, em loja de artigos esportivos no Rio de Janeiro - Igor Siqueira/UOL
Teddy Riner, bicampeão olímpico no judô, em loja de artigos esportivos no Rio de Janeiro Imagem: Igor Siqueira/UOL

Do UOL, no Rio de Janeiro

26/02/2023 04h00Atualizada em 27/02/2023 10h29

"Tá bom, muito obrigado, carioca, galeto carioca". Foi assim que Teddy Riner apresentou seu repertório de frases em português. Não é vasto, mas a cabeça desse francês multimedalhista olímpico e lenda do judô busca no Brasil, mais especificamente no Rio, a inspiração e a técnica para voltar ao topo do pódio nos Jogos Olímpicos de Paris, em 2024.

Riner se encantou e se identificou tanto com cidade que há dois anos comprou um apartamento em Copacabana. Ele passou alguns dias treinando no Rio, conheceu o Carnaval de fato e, na véspera de voltar à Europa, conversou com o UOL.

A vinda à Cidade Maravilhosa não é apenas para curtir as praias da Zona Sul ou se encantar com festas populares. Riner, de 33 anos, tenta se reinventar desde o bronze em Tóquio-2020. Ele busca elementos que o coloquem novamente como dominante na categoria pesado (acima de 100 kg), na qual faturou dois ouros olímpicos.

Para isso, o francês encara um desafio. Os anos de treinamento cobraram um preço e, segundo ele, hoje precisa driblar uma artrose e já não tem "cartilagem em lugar nenhum".

"Se eu não acreditar em mim, eu paro", disse ele, em conversa que antecedeu uma sessão de fotos e autógrafos na Decathlon, uma loja de artigos esportivos no Leblon.

Riner não crava aposentadoria após Paris-2024. Ele disse que voltou para casa com técnicas aprimoradas no jiu-jítsu e torcedor do Flamengo.

O encanto pelo Rio

"Foi a primeira vez que eu descobri realmente o que é o Carnaval brasileiro. Eu fiquei mais do que surpreso. Na televisão, a realidade é diferente. É extraordinário. Em 2007, quando ganhei o primeiro título mundial, eu me senti em casa. Ganhei a segunda vez em 2013 e depois os Jogos Olímpicos [em 2016]. Me senti em casa, o público me apoiava, senti um povo que me amava.

Por que escolheu Copacabana?

Copacabana? Nos filmes, na música, a gente conhece por lá. Mas foi uma oportunidade. E mais do que uma oportunidade. Dei um passo de coração. Acho que quando você faz uma compra dessas em uma cidade como o Rio, tem que ser antes de tudo, um algo com paixão. Foi uma paixão e de fato acho que ninguém se arrepende.

Qual sua rotina por aqui?

Foram dois treinos por dia. Assim que terminava o treino, era a praia. Porque ajuda na recuperação, já que a água está bem fria no momento. De vez em quando, até fazia cardio na areia. Funcionou legal, francamente. Foi legal. Nesses dias, fui ao torneio de tênis também [Rio Open]. Pegamos chuva. Iria no jogo do Flamengo na próxima semana, mas não deu tempo.

Como você vê o estilo de vida da parte da cidade que você conhece?

Eu, atleta, me coloco na calçada e falo para mim mesmo: "Nossa". Afinal, é um povo que ama o esporte. Eu raramente via isso: o tempo todo gente praticando esportes, movendo-se de forma saudável. Na França, não tem isso. E isso explica muitos os resultados também. Se não tivermos essa cultura esportiva, não conseguiremos resultados. Se temos essa cultura, amamos o esporte, podemos impulsionar os resultados. Quando eu vejo minha semana no Flamengo, eu já falo: Que clube é esse? Você vira a cabeça, judô, vira a cabeça, ginástica, olha para lá, natação. Para cá, o futebol não para. Extraordinário.

Teddy Riner, medalhista olímpico do judô, ao lado de Sofia Azevedo, de 11 anos, lutadora de jiu-jitsu - Igor Siqueira/UOL - Igor Siqueira/UOL
Teddy Riner, medalhista olímpico do judô, ao lado de Sofia Azevedo, de 11 anos, lutadora de jiu-jitsu
Imagem: Igor Siqueira/UOL

O que você acrescentou ao seu repertório com os treinos de jiu-jítsu?

Quando eu venho aqui, eu faço um estágio duplo de judô e jiu-jítsu. Não é para uma técnica específica, mas é para adaptar o que é adaptável ao judô. Não podemos esquecer que o judô tem muitas técnicas do jiu-jítsu. Eu trabalho algumas coisas para utilizar. Eu sei que sou mais forte naquilo que trabalhei muito nesse estágio. Chave de braço, por exemplo. São as sequências, ou seja, a partir do momento em que o adversário está no chão imediatamente acorrentado. Hoje tenho mais técnicas.

É o seu último ciclo olímpico?

Eu não sei. Sério. Eu não sei, porque, de fato, normalmente, termino em Paris porque, sim, estou cansado, meu corpo está cansado. Mas como estou me preparando bem, me sinto bem e tenho toda uma equipe ao meu redor que me ajuda a progredir, não é impossível que eu vá para Los Angeles.

Se você me perguntar agora se não vou sair, eu te digo: sim. Só que os anos não são iguais. O peso dos anos não é igual. Então, vou me concentrar em Paris e dizer para mim mesmo: "veremos". Mas se eu for lógico, depois de Paris, você tem que saber quando parar, mas como parar quando ainda dá vontade? É complicado. Sinto-me mais forte do que quando comecei no alto rendimento. Quanto mais treino, mais me sinto progredindo. De verdade, acredito que se continuar a subir o meu nível assim, não haverá razão para eu parar em 2024. Agora, me resta trabalhar. É continuar a trabalhar nesse sentido, progredir para continuar a melhorar as minhas técnicas, explosão, precisão e velocidade.

Como você lidou com a sua derrota nos Jogos Olímpicos de Tóquio?

Foi difícil para todos os atletas. Com a pandemia, treinar sozinho —para alguns, não conseguir treinar. Ir para as Olimpíadas sem família... eu, quando comecei minhas primeiras competições, sempre tive o clã, todo esse grupo familiar, que fazia de tudo para me incentivar. É complicado encontrar-se em uma sala onde não há ninguém. Agora, apesar de tudo, ainda foram mais duas medalhas, um título [equipes mistas]. Então, é legal, mas é verdade que foi diferente. Por isso, mudei a forma de treinar.

Mas o que você mudou exatamente?

Eu sempre treinei no centro de treinamento em Paris, é onde todas as equipes olímpicas francesas treinam. Só que eu tinha um ou até dois adversários parceiros para treinar. Com isso, não consigo progredir, não consigo ser bom demais. Então, de repente, eu disse: pronto, vou para lá onde há competição. Brasil, Croácia, Mongólia, Cazaquistão, Espanha e Japão? Eu sinto no meu judô que eu aprendo coisas a cada vez que eu enfrento novos adversários. É melhor. Mas ficar em Paris para ter todos os dias o mesmo? Se eu quiser ganhar nos Jogos de Paris, tenho que treinar, tenho que enfrentar adversários aqui.

Teddy Riner treina com lutadores de jiu-jitsu no Rio de Janeiro em preparação para Paris-2024 - MAURO PIMENTEL / AFP - MAURO PIMENTEL / AFP
Teddy Riner treina com lutadores de jiu-jitsu no Rio de Janeiro em preparação para Paris-2024
Imagem: MAURO PIMENTEL / AFP

Então você acredita que vai ganhar a medalha de ouro em 2024?

(Muda para o inglês) Se eu não acreditar em mim, eu paro. (Volta para o francês) Eu paro. Eu treino para isso. Treino para isso, porque tenho confiança, porque acredito em mim, porque acima de tudo tem como sair com uma medalha. Individual e por equipes, porque a França continua forte.

O que você faz para compensar o efeito do tempo no seu corpo?

Mudei a forma de treinar fisicamente, estou com um novo staff. Acima de tudo, mesmo que musculação continue sendo musculação. Tenho também minha equipe médica, porque os anos, como eu digo, avançam. Não tenho mais cartilagem em lugar nenhum e a artrose é complicada. Então, eu faço muita prevenção, reforço. Tem muito trabalho de prevenção.

Você é um grande fã de futebol. O que acha do PSG atualmente?

O PSG é uma grande equipe, ainda é e sempre será. Quando você vê, eu que sou torcedor desde os cinco anos, quando você vê Messi, Neymar e Mbappé você quer que brilhe, você quer que ele ganhe. Queremos algo, então espero que aconteça contra o Bayern na partida de volta [da Liga dos Campeões]. Espero que passemos de fase e que cheguemos ao título da Liga dos Campeões.

No Rio, você virou torcedor do Flamengo?

Eu gosto do bom futebol. O Flamengo me convidou, me recebeu muito bem, então, eu virei torcedor do Flamengo. Além disso, Ronaldinho Gaúcho jogou lá. Fomos chamados para um jogo do Flamengo e vamos na próxima vez. Eu gostaria de ver um jogo no Maracanã.