Meninas do skate se organizam, lutam contra assédio e buscam mais espaço
Na última segunda-feira, 27 de fevereiro, na pista pública de skate de São Caetano do Sul (SP), um grupo de 40 skatistas femininas passou por momentos constrangedores, quando um menino forçou a entrada na sessão exclusiva delas e começou a assediar as praticantes.
Em depoimento muito claro em seu perfil no Instagram, a cirurgiã-dentista, surfista e skatista Maria Carolina Fornazari, a Keiks, de 36 anos, desabafou sobre o ocorrido durante o projeto "2ª das Minas" (Segunda das Minas), o que gerou reação, apoio e comentários de gente de peso, como a campeã mundial de skate Karen Jonz, do surfista lendário Phil Rajzman e até da filha da ministra Ana Moser. Todos se solidarizaram com a causa.
"Enquanto a professora dava aula, um dos meninos (invadiu a sessão) e assediou a professora, mas como ela não se abalou, ele retornou e voltou a assediar a profissional, o que foi muito constrangedor para todas", contou Keiks.
"Além dele não ter a consciência do que ele fez foi assédio, ele não se sentiu intimidado nem em um ambiente com 40 mulheres", prosseguiu ao defender espaços dedicados às mulheres, minorias e pessoas LGBTQIA+ possam ter o direito de andar com liberdade e segurança.
"Quando as mulheres andam junto com os meninos em sessão mista, e você vê outras mulheres andando, o machismo estrutural nos faz ver as outras mulheres como rivais, às vezes a gente não admira as outras meninas, parece estar com raiva delas, mas quando é fechado em uma sessão feminina, a gente se une, se apoia, quer ver a outra 'quebrando', evoluindo, como se fosse outro ambiente", comentou a dentista sobre o clima de sororidade entre elas.
"A gente precisa ter um horário nosso, por três ou quatro horas na semana, e mesmo assim fica intimidador na hora de chegar e de sair da pista, a gente precisa do apoio público e do apoio dos parques", finalizou.
Coletivos de skate feminino se organizam para Semana da Mulher
Para a idealizadora do projeto 2ª das Minas, a profissional de marketing, técnica de enfermagem e skatista Luciana Tozo, de 49 anos, o episódio ganhou repercussão e apoio político, sensibilizando o vereador Caio Salgado (PL/SP), que se comprometeu a cobrar um reforço no policiamento na região às segundas-feiras.
"O local está abandonado, temos problemas estruturais, a pista está literalmente esfarelando, e até ganhou o apelido de Maizena, de tanto buraco, o que se torna perigoso para quem está começando", alertou a ativista, que prosseguiu.
"Não sei como consigo colocar tanta mulher lá com uma pista tão judiada. Tudo em São Caetano é de alto padrão, menos o skate. Já prometeram reformas, mas até agora nada", reclamou.
Mesmo assim, Luciana promete reunir um grupo ainda maior e prepara uma programação que inclui vídeo e coquetel na segunda (6), aulão com DJs e gincana com best trick e premiações com As Batateiras na terça (7) na pista de São Bernardo, espaço onde na quarta-feira (8) também haverá sessão das 10h às 12h com aulão e sorteios.
No mesmo dia, Luciana estará na sessão solene da Câmara Municipal de São Caetano, onde será homenageada na cerimônia do Dia Internacional da Mulher pelos serviços prestados à comunidade com seu projeto social — que atende em média 40 mulheres de 5 a 50 anos.
Cuiabá, Rio de Janeiro e Florianópolis também têm grupos de skate feminino
A mobilização das meninas sobre rodinhas não é um fenômeno isolado das skatistas paulistas, e vários coletivos já atuam nessa direção como as Divas Skateras, as Cafelinas, as Britneys, as Batateiras, Skate para Elas, Am Skategirls e muitas outras.
No dia 19 de março, por exemplo, as Divas Skateras promovem o evento Espia Siminina, com skate, música e arte em Cuiabá (MS).
Em Santa Catarina, o Minas Skate Crew realiza com frequência viagens, encontros, vivências e aulas em escolas, com direção de Cindy Costa e Kananda Santo.
E para completar, uma das principais interlocutoras do movimento do skate feminino e LGBTQIA+, a fotógrafa, videomaker e comentarista de competições, a baiana Pipa Souza colocou mais lenha na fogueira, ou melhor, conteúdo para rodar.
Recentemente editou uma revista para seu projeto autoral Into the Mirror, e ainda foi uma das protagonistas do filme Se eu botar o skate na cabeça eu viro o chão, sobre a prática do skate queer no Brasil, contra o preconceito a partir das visões e depoimentos de skatistas como Chuchu Kamel, Lucca Alvarenga, Kim Terra, Rodrigo Kbeça Lima, entre outros de destaque no cenário.
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