Tênis na Vila Mimosa: projeto social leva esporte a prostitutas no Rio
Um projeto cujo objetivo é levar o tênis para camadas de pouco acesso a este esporte. Foi com esta ideologia que o "Pratique Tênis em Pilares" realizou uma ação social no Dia Internacional das Mulheres — na última quarta-feira (8) — na Vila Mimosa, prostíbulo mais famoso do Rio de Janeiro. Por lá, prostitutas tiveram aulas grátis da modalidade em uma quadra improvisada no local.
'Foi bom para relaxar'
O UOL acompanhou a ação social, que ocorreu durante a parte da tarde, num espaço próximo ao local onde funciona a Associação da Vila Mimosa.
Quatro professores ensinaram técnicas básicas do tênis e bateram bola com 15 profissionais do sexo, que se inscreveram previamente e por vontade própria.
A reportagem conversou com Simone, uma das poucas que se dispôs a falar, já que a maioria prefere o anonimato. Ela ressaltou a importância da atividade para aliviar um pouco a angustiante rotina.
"É importante porque não temos tempo para nada aqui. É bom para relaxar, porque a gente aqui fica muito pilhada, nervosa, porque às vezes não ganha dinheiro. Momento de lazer é bom para todo mundo" Simone.
Projeto já levou tênis para menores infratores, dependentes químicos e aldeia indígena
O projeto "Pratique Tênis em Pilares" já tem 12 anos e sobrevive de patrocinadores do setor privado e doações de anônimos e profissionais do tênis.
As ações sociais já foram levadas para menores infratores, dependentes químicos e até aldeias indígenas. O foco é disponibilizar acesso ao esporte para as classes C, D e E.
"O tênis, no Brasil, ainda não está nem entre os dez esportes mais praticados. Talvez, se não fossem os projetos sociais, esse ranking seria ainda pior. Nossas ações têm esse poder de levar o tênis para as classes C, D e E que não têm condições de frequentar um clube e condomínios caros. Esses projetos estreitam isso, fazendo com que essas pessoas tenham acesso ao tênis de uma forma mais viável", destacou o gestor do projeto, Artur Ricardo.
'Passamos muita fome mesmo'
Simone, a profissional do sexo entrevistada pelo UOL, chegou à Vila Mimosa há quatro anos. Cabeleireira, ficou desempregada, não conseguiu se realocar no mercado e optou pela prostituição. Ela relembrou o período mais duro, durante a pandemia do coronavírus:
"Passamos muita fome mesmo, não foi aperto, não. Eu fiquei desempregada e fui parar aqui. Eu sou cabeleireira profissional e ainda não consegui me levantar. Mas tenho fé em Deus que vou conseguir sair".
Vila Mimosa clama por cursos de capacitação
Disposta a deixar esta vida, Simone é uma das mais assíduas em todas as atividades que surgem no local. Recentemente, se inscreveu num curso de bronzeamento e adorou, mas quer mais.
"Estamos precisando de mais. Tivemos um de bronzeamento maravilhoso, mas eu queria fazer um na área de enfermagem também e não está tendo, ou na área da beleza. Ainda não teve ninguém para patrocinar. Sempre que tiver, estou dentro. Quem quer realmente mudar de vida, vem. Quem não quer, fica lá fora", ressaltou.
Faetec ofereceu cursos por 10 anos, mas saiu com mudança de Governo
Ao longo dos anos, a Vila Mimosa recebeu alguns projetos de incentivo. O primeiro, e que abriu muitas portas, foi o "Dama das Camélias", que capacitou 180 mulheres para corte, costura e adereços para o Carnaval.
Em seguida surgiram outros, sendo o mais efetivo o da Fundação de Apoio à Escola Técnica (Faetec), que concedeu cursos de corte, costura, cabeleireiro, manicure, depilação, maquiagem e informática. Após dez anos, porém, a parceria se encerrou com a chegada do governo Jair Bolsonaro.
"Quando aconteceu a mudança de Governo, a Faetec foi a primeira coisa que nos foi retirada. Temos a necessidade de trazer isso de volta" assistente social Cleide Almeida.
Esporte para os filhos das profissionais do sexo
A ação social do "Pratique Tênis em Pilares" traz uma esperança de que mais projetos neste sentido aconteçam na Vila Mimosa, principalmente que beneficiem os filhos das profissionais do sexo e da vizinhança, que fica na região da Praça da Bandeira, no Centro (RJ).
"Aqui não só tem filhos de mulheres prostitutas como filhos de pessoas que moram aqui na região. É a importância de proporcionar um futuro melhor. Uma possibilidade de desenvolver essas crianças, porque o esporte muda a vida das pessoas, a autoestima delas" Cleide Almeida.
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