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Por que brasileiro tentará correr 217km no lugar mais quente do planeta

Brasileiro vai correr a Badwater, considerada a ultramaratona mais difícil do mundo - Beto Noval
Brasileiro vai correr a Badwater, considerada a ultramaratona mais difícil do mundo Imagem: Beto Noval

Luiza Sá

Do UOL, no Rio de Janeiro

11/03/2023 04h00

O Brasil terá dois representantes na Badwater, considerada a ultramaratona mais difícil do mundo. Um deles é Alexandre Castello Branco, um carioca de 41 anos que vai disputar a prova pela segunda vez. Em 2022, ele não conseguiu completar, mas agora decidiu se desafiar novamente para cumprir a missão.

A corrida é realizada anualmente no Death Valley, ou Vale da Morte em português, na Califórnia, no mês de julho.

Alexandre achava que nunca teria chance de disputar a Badwater, mas agora fará pela segunda vez. "A Badwater é uma das provas mais desejadas dos ultramaratonistas e sempre foi algo que eu achava impossível realizar. Achava que nunca teria condições de encarar um desafio dessa magnitude, mas com o tempo ela passou a ser uma prova-alvo, e comecei a direcionar todos os meus esforços para ela."

"Além de aumentar o volume de treinos e seguir com o treinamento de calor, acho que estarei mais preparado na parte mental também. Agora já sei na prática o inferno que é correr lá. Eu e minha equipe já aprendemos como se joga esse jogo. Desde o ano passado estou com essa prova engasgada na garganta e esse ano quero provar a mim mesmo que com muita dedicação e foco posso derrotar o Vale da Morte. A minha hora vai chegar".

Como é a corrida

  • A Badwater é uma corrida de 217 quilômetros que não para. Os atletas precisam percorrer essa distância em até 48h.
  • Em 2009 ela foi eleita pela National Geographic como a corrida mais difícil do mundo.
  • Death Valley é considerado o lugar mais quente do planeta. A maior temperatura registrada na Terra foi justamente lá, em 1913 com 56,7 graus.
  • A largada é feita da bacia de Badwater, ponto mais baixo dos Estados Unidos, 85 metros abaixo do nível do mar, e a chegada fica no Portal do Monte Whitney, a 2.530m de altitude.

"Não é uma corrida que qualquer um pode se inscrever e tampouco existe um sorteio. Apenas 100 atletas do mundo todo são convidados anualmente. O processo seletivo é bem rigoroso. É preciso ter competido e concluído algumas das provas mais desafiadores do mundo nos últimos 13 meses e também é feita toda uma análise do currículo do atleta. Além disso, cada um precisa responder diversas perguntas sobre a prova, motivações pessoais e até uma que pergunta se você se considera um bom ser humano. Quase uma entrevista de emprego", explicou.

"Em 2022, apesar de ter treinado muito e feito todo um treinamento de calor na sauna, não imaginei que pegaria trechos tão quentes na prova e tive que abandonar no km 120, após passar bastante mal e não conseguir me recuperar. O deserto venceu mas apesar de tudo foi uma experiência incrível. Participar de uma prova tão exclusiva, num lugar tão inóspito, foi algo que não imaginei que fosse vivenciar um dia."

  • Em 2023, 26 nacionalidades estarão representadas na competição. Desde a criação da prova em 1987, apenas 31 brasileiros cruzaram a linha de chegada, poucos mais de uma vez.
  • Além de Alexandre, Zilma Rodrigues será outra representante brasileira e tentará concluir a prova pela primeira vez.
Badwater - Beto Noval - Beto Noval
Placa indica altas temperaturas na Badwater, prova de corrida mais difícil do mundo
Imagem: Beto Noval

Os maiores desafios

Não é só o tamanho da prova que pesa, as altas temperaturas também são fator fundamental na dificuldade ao longo da corrida. "O calor é o fator mais complicado em toda a prova. Como a largada acontece à noite, a temperatura está mais amena, mas mesmo assim continua sendo muito quente. No ano passado larguei às 20h e estava fazendo 49 graus. Os trechos onde o sol e o calor estão no pico são os mais críticos, é ali que o atleta colocará o seu corpo à prova".

"Como a prova é toda realizada em asfalto, em estradas, o calor irradiado do chão torna a sensação térmica ainda pior. Ano passado, no trecho que eu quebrei, o termômetro do carro estava marcando 60 graus, mas certamente a temperatura no asfalto estava bem pior. Senti minhas pernas literalmente fervendo de tão quente."

Além do calor, há um trecho de 28km seguidos só de subida. "A prova começa com trechos mais planos e a segunda metade é recheada de subidas insanas. Também existem tempos de corte ao longo da corrida, que obrigam os atletas a percorrerem um determinado número de quilômetros em um tempo específico, e o primeiro tempo de corte é justamente o mais justo de todos, por uma obrigação do Parque Nacional do Death Valley, então é preciso literalmente correr atrás do tempo para não ser cortado na primeira metade da prova."

"Por ser uma prova na temperatura mais quente do planeta, é preciso realizar uma aclimatação no calor, fazendo treinamentos na sauna. Em alguns períodos, quando estiver mais próximo da competição, terei que passar longos períodos dentro da sauna, me movimentando, para aclimatar e treinar meu corpo para um desgaste similar ao que encontrarei lá."

  • Alexandre começou a praticar triatlo em 2011, mas mudou em 2014. Ele fez uma corrida chamada El Cruce, de 100km em três dias na Cordilheira dos Andes. A partir daí, abandonou a antiga modalidade para se dedicar às corridas de montanha e trilha.
  • Para ir ao Badwater, o corredor ainda busca apoio e patrocínio. Ele é obrigado a levar uma equipe com pelo menos duas pessoas. Com alto custo, Alexandre tenta driblar a logística desafiadora.