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COI cria região 'descolada' como sede de breaking e skate nas Olimpíadas

Praça da Concórdia, antro de jovens, receberá esportes radicais em Paris-2024 - Getty Images/iStockphoto
Praça da Concórdia, antro de jovens, receberá esportes radicais em Paris-2024 Imagem: Getty Images/iStockphoto

Do UOL, em Paris (França)

12/03/2023 04h00

Jovens afoitos se movimentam entre as ruas e o grande calçadão que envolvem o Obelisco de Luxor, patrimônio que fica bem no centro da Praça da Concórdia, em Paris. Os de bicicleta, num pinote, encaram no rosto um vento de cortar a pele; alguns estacionam suas bikes e se direcionam aos tantos cafés espalhados pelos arredores e se afagam no quentinho. Outros fazem uma parada rápida para um café e um cigarro, em cima da bike mesmo.

É de manhã, e a juventude da Concórdia, bairro jovem de Paris, se encaminha aos seus afazeres de trabalho ou estudos. Sorbonne, a mais tradicional universidade da capital francesa, fica a 17 minutos de bicicleta da Concórdia. Um dos campus da Universidade de Paris, a 25. O metrô liga, rapidinho, a região a qualquer um dos destinos, inclusive à Avenida Champs-Élyseés, das mais icônicas da capital francesa.

É central, é descolada e é cheia de jovens — tríade perfeita para se tornar palco dos novos, e radicais, esportes olímpicos que comporão as competições de Paris-2024. A Praça da Concórdia será palco do skate, do breaking, do BMX freestyle e do basquete 3x3. A estimativa é que 37 mil pessoas assistam às competições que ali acontecerão.

E não foi por acaso: a escolha do COI foi bastante proposital, a fim de ligar a juventude que faz a praça respirar à necessidade de conseguir público futuro para os Jogos. O breaking estreia no programa olímpico em 2024. Os demais já fazem parte do catálogo desde Tóquio-2020.

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Imagem: Getty Images/iStockphoto

Membro do comitê organizador das Olimpíadas de Paris, Jonathan Firpo explica ao UOL que a ideia é misturar o tradicional — a Praça da Concórdia é um dos lugares mais emblemáticos de Paris — à ruptura que esses esportes representam.

Estamos muito empolgados em colocar a cultura jovem no coração da cidade, mostrando que história e novidade podem conviver em harmonia."

Histórico de resistência

Jean-Pièrre, 25, é estudante e trabalha em um café na Concórdia. Ao UOL, ele conta que nunca teve muito interesse em Jogos Olímpicos, mas que está bastante empolgado para a estreia do breaking, "ainda mais, no quintal do trabalho". Ele espera, até lá, conseguir conciliar o emprego com algumas folgas para assistir de perto à juventude tomando (ainda mais) conta da Concórdia.

Fico feliz que Paris vai ser o primeiro palco do breaking, e espero que esse esporte se firme para as próximas edições. Acredito que faremos história, e que as belezas da Concórdia junto da cultura do subúrbio serão importantes para a construção dessa história."

Amiga de Jean, a estudante de história Daphné afirma que a juventude e a cultura suburbana tomando conta de um espaço tão tradicional é um recado ao conservadorismo.

Foi na Praça da Concórdia que o rei Luís XVI foi decapitado durante a Revolução Francesa, que determinou o fim da monarquia, a ascensão burguesa e o lema que, até hoje, se faz presente pelos edifícios franceses: "Liberdade, igualdade e fraternidade".

É um lugar simbólico. Foi aqui que acabou a monarquia. É um lugar de resistência desde sempre", Daphné.

A Praça da Concórdia vai ter, ainda, destaque nos Jogos Paralímpicos. A cerimônia de abertura do evento que sucede as Olimpíadas ocorrerá ali. Será a primeira vez que as Paralimpíadas terão início em uma cerimônia que vai rolar fora de um estádio, com público estimado de 65 mil pessoas.