'Partiu feliz': mãe relata últimos dias de narradora que morreu aos 24 anos
Cecília Moraes, conhecida como Clarity, morreu na quinta-feira (13) aos 24 anos após uma inflamação no coração. Rosi, mãe da jovem, relatou ao UOL como a doença se manifestou e disse que a filha "partiu feliz" após realizar o sonho de trabalhar em um campeonato de Pokémon Unite em São Paulo. A narradora deixa, além dos pais, dois irmãos.
Problema começou com dor no peito e costas. "Na última transmissão dela em São Paulo [início de abril], ela sentiu uma dor no peito e nas costas, mas era algo leve. No intervalo da transmissão, ela pediu para ir até uma UPA em São Paulo para fazer exames ou tomar medicamento — porque queria voltar e fazer o restante da narração. Foi muito bem atendida. Fizeram raio-x, eletrocardiograma e exames de sangue. Deu tudo normal."
Volta para casa em Balneário Camboriú. "Peguei ela no aeroporto e ela estava super bem: conversando, contando como foi e, como sempre, fazendo planos — ela era uma pessoa além do tempo dela e fazia muitos planos. Isso foi na segunda-feira [dia 3]. Na terça-feira daquela semana, ela foi para a faculdade e saiu com os amigos, mas no final de semana começou a ficar um pouco gripada, com o nariz congestionado e febre. No domingo de Páscoa, amanheceu bem. Na segunda a noite, ainda se sentiu um pouco gripada."
Início do drama. "Na manhã de terça-feira (11), ela disse que estava bem. Eu queria levar ela para fazer uma consulta, mas ela disse que não precisava e passou o dia bem, jantou conosco. Na quarta-feira (12), ela me chamou no quarto e falou que estava passando mal. Quando entrei [no quarto], ela estava realmente se sentindo mal. Levei ela para o hospital da Unimed e lá ela foi atendida imediatamente. O pai dela é médico e também nos esperou na Unimed. Nos exames, não tinha nenhuma alteração importante. As plaquetas estavam um pouco baixas e a glicose um pouco alta, mas nada alarmante. Ela fez soro e viemos para casa de tarde."
Ansiedade e pedido por namorado. "Ela tinha uma inquietação durante a tarde, não parava. No início da noite, pediu para que o Samuel [namorado] viesse porque queria conversar um pouco. Ela tinha vontade de melhorar e se esforçava para se alimentar e tomar água. O namorado veio e jantou com ela."
Convulsão e desespero. "Quando ele foi embora, ela começou a passar muito mal. Imediatamente, eu e meu marido botamos ela no carro. Ela vomitava muito, desmaiou no caminho teve uma convulsão. Quando chegamos na Unimed, ela já estava bem debilitada e foi atendida rapidamente por uma médica competente, que disse que ela estava com sepse, uma infecção generalizada. Cogitou-se meningite. Ali, a médica já deixou uma UTI disponível. Pela noite ela já foi para a UTI e ainda respondia ao que eu perguntava. Saímos do hospital de madrugada porque o médico falou que era para pegarmos itens de higiene pessoal, já que ela ficaria na UTI até achar a causa. Nos despedimos dela e, às 7h, o hospital nos ligou para que retornássemos porque o quadro havia se agravado. Até então, não imaginávamos a gravidade do caso."
Parada cardíaca repentina e inflamação diagnosticada. "Quando chegamos no hospital, por volta de 7h30 [do dia 13], o médico da UTI disse que ela ficou 16 minutos em parada cardíaca. Ela precisou passar por uma cirurgia de emergência porque tinha uma inflamação no pericárdio. De emergência, eles tiveram que fazer um procedimento no coração para drenar esse líquido que tinha se instalado ao redor do coração. É uma doença silenciosa que não é fácil de diagnosticar, principalmente por ela ser jovem e ser saudável. A Cecília nunca ficou doente: só tinha amigdalite e gripe."
Últimos momentos. "Meu marido é médico. Todos os médicos da UTI foram unânimes: mesmo se tivéssemos feito um diagnóstico de manhã, quando fomos a primeira vez, não teríamos salvado. Foi uma doença silenciosa e sem maiores sintomas. Uma infectologista nos disse que os únicos sintomas são febre e dor no peito, mas que na idade dela não se pensa neste tipo de doença. Na quinta-feira (13), às 16h30, os médicos da UTI nos deram a notícia que ela havia falecido. Ela teve falência múltipla de órgãos. Quando chegamos na Unimed a noite, ela já estava com falência múltipla de órgãos."
Fã de games, gatos e artes
Rosi resumiu ao UOL as principais características de sua filha, que completaria 25 anos no próximo dia 5 de maio. Ela ainda disse que a filha "partiu feliz", já que conseguiu realizar seu principal sonho.
Gostos e qualidades. "Era uma criança adorável que amava parquinhos: fazíamos via-sacra em todos os parquinhos. Ela adorava viajar. Quando atingiu a maioridade, sempre pedia para viajar e a gente levava ou deixava ela ir. Foram 24 anos de muito aprendizado, ela nos trouxe muitas lições e muito amor. Ela era acima da meta, exemplo entre os professores e fazia tudo com muito amor. Amava gatos, tinha dois em casa. E era amante da cultura japonesa, sonhava também em ir para o Japão justamente por causa do Pokémon."
Sonho realizado, mas interrompido. "O que fica nos nossos corações é que ela partiu feliz porque realizou o grande sonho da vida ela, que era ser reconhecida pelo trabalho dela nos jogos eletrônicos. Ela batalhou anos por isso, se dedicou e passou noites em claro jogando, mostrando que o jogo não era apenas uma distração, mas sim um trabalho e algo que ela amava e via futuro. Era tudo para ela. Estar ali na bancada do Pokémon Unite narrando os jogos [foi inesquecível]. Ela partiu feliz, embora tenha ficado pouco tempo vivendo esse sonho."
Depoimento dos irmãos
A Cecília era determinada, destemida, livre de preconceitos e de julgamentos. Tinha uma inteligência acima de qualquer média. Tinha visão inovadora, estava sempre a frente de todos nós — mesmo sendo mais jovem. As profissões 'normais' não despertavam sua atenção. Desde pequena, já gostava e dominava os mundos virtuais. Seu olhar era no futuro. [...] Nos deixou um grande legado, lindas lições e uma grande e eterna saudade" Suelen, 41 anos, farmacêutica
Aprendi que a vida não é justa. Sei disso. Só que tem dias que isso enche o saco. Pessoas boas poderiam ter um desconto. Como nos games: por que não 'extra lifes', barras de energia a mais, poder de invencibilidade...? A vida não é justa, mas ainda assim, vale a pena lutar por ela. Não só de incertezas se vive. Há ainda a esperança, a fé, o amor, a amizade, o respeito. Fico com a esperança de que minha irmã cumpriu sua missão neste plano e seguirá seu caminho em um lugar melhor. Perdemos uma bela mulher, um imenso coração e um grande intelecto. [...] Envia-nos força, do teu jeitinho, para seguirmos sem você. Te amaremos pra sempre Cecília, Clarice, Clarity..." Luiz Fernando, 43 anos, médico
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