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Tricampeã olímpica ficou mais veloz após ser mãe: 'Quero inspirar mulheres'

Shelly-Ann Fraser-Pryce, da Jamaica, prata nos 100m rasos em Tóquio - Maja Hitij/Getty Images
Shelly-Ann Fraser-Pryce, da Jamaica, prata nos 100m rasos em Tóquio Imagem: Maja Hitij/Getty Images
e Thiago Arantes

Colunista do UOL, em Paris (FRA)

14/05/2023 04h00

Nenhuma mulher no mundo correu tantas vezes os 100 metros rasos abaixo de 10s70 quanto a jamaicana Shelly-Ann Fraser-Pryce. A tricampeã olímpica, de 36 anos, tem oito dos 15 melhores tempos da história na prova nobre do atletismo. Além do número expressivo, há um fato que chama ainda mais a atenção: todas as marcas foram obtidas depois do nascimento de Zyon, o filho da atleta, atualmente com 5 anos.

"Quando eu tive meu filho eu fiquei nervosa, porque não é algo comum. Não são muitas atletas que têm um filho e voltam. Para mim, era uma motivação, porque eu sempre soube que queria voltar. Eu sempre pensei nisso", disse Shelly-Ann em conversa com os jornalistas em Paris, nos eventos do Prêmio Laureus 2023.

Shelly-Ann era bicampeã olímpica dos 100 metros (Pequim-2008 e Londres-2012) quando anunciou a gravidez, no início de 2017. Depois de um ano afastada, ela voltou e foi, ano a ano, recuperando o lugar no topo do atletismo mundial.

Desde o retorno, em maio de 2018, a jamaicana só aumentou a sua lista de títulos e consolidou-se como a mulher mais vencedora da história da prova. Ela somou os títulos mundiais dos 100m em Doha-2019 e Eugene-2022 aos três que já tinha, tornando-se a única pentacampeã do mundo na prova (entre homens e mulheres).

A estante de medalhas olímpicas também cresceu após a chegada de Zyon. Em Tóquio-2020, Shelly-Ann levou o ouro nos 4x100m (sua terceira conquista olímpica) e ainda a prata nos 100m. No total, ela soma oito medalhas: 3 ouros, 4 pratas e 1 bronze.

"Eu sou atleta, mãe, mulher... Eu sou muitas coisas! E o nascimento do meu filho me ajudou a perceber isso. Eu posso ser muitas coisas, e hoje aproveito mais cada uma delas", disse a jamaicana, que na segunda-feira (8) levou pela primeira vez o Prêmio Laureus de Melhor Esportista. Ela já havia sido indicada cinco vezes.

Premiada, multicampeã e mãe, ela diz que pretende usar os próximos anos da carreira para mostrar que a maternidade não pode ser um limitador para as atletas.

"As pessoas adoram colocar limites em nós como mulheres. Eu tive meu filho e voltei porque pensei: 'quero fazer isso'. Não há limites quando você acredita. Eu quero inspirar a nova geração de mulheres. Nós não temos medo", afirma Shelly-Ann.

Os resultados da campeã depois do retorno podem dar a entender que o processo foi fácil. Não foi. Para dar à luz Zyon, a jamaicana passou por uma cesariana, o que dificultou o retorno aos treinos. Nos primeiros meses, ela não podia levantar pesos ou fazer exercícios que forçassem a musculatura abdominal.

"No esporte, você tem que usar os desafios como um trampolim para ir mais longe. Acho que eu usei isso e é incrível como consegui voltar e, além disso, aumentar minha longevidade no esporte. Eu não me importava com o que as outras pessoas pensavam. Eu sabia o que queria, tinha meus objetivos e acreditei que aquilo era possível", resume.

Em Paris-2024, Shelly-Ann terá sua última participação nas Olimpíadas. Além de ampliar a coleção de medalhas, ela tem um último desafio: superar o recorde mundial de Florence Griffith-Joyner, que correu os 100m em 10s49, em 1988 — a melhor marca da jamaicana é 10s60, em 2021. Com ou sem recorde, a velocista só tem uma certeza: contará com o apoio de Zyon, seu torcedor mais especial.