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Rômulo Mendonça quer conquistar público do futebol com narrações à la NBA

Rômulo Mendonça chegou ao Prime Video após deixar a ESPN - Reprodução/Instagram
Rômulo Mendonça chegou ao Prime Video após deixar a ESPN Imagem: Reprodução/Instagram

Arthur Macedo

Do UOL, em São Paulo

31/05/2023 04h00

Rômulo Mendonça não participará das transmissões desta semana das oitavas de final da Copa do Brasil, já que sua estadia nos EUA se estendeu na cobertura de Miami Heat x Boston Celtics. Entretanto, a voz da NBA não está focada apenas no basquete. O narrador deixou a ESPN neste ano para trabalhar no Prime Video com uma intenção clara: ganhar espaço no futebol.

Em entrevista exclusiva ao UOL, Rômulo Mendonça detalhou o desejo de conversar com um novo público e, ao mesmo tempo, manter a essência que o consagrou nas narrações da NBA.

Vontade de trabalhar com futebol: "A NBA é minha prioridade, mas não quer dizer que seja a única coisa pela qual quero ser reconhecido. E quando houve a proposta (do Prime Video), vi que havia a possibilidade de manter a NBA como principal, mas também ter uma experiência nova e gigantesca, que é narrar a Copa do Brasil. Narrei um jogo do Flamengo exclusivo. Narrei Atlético-MG, Botafogo. Quando eu vi que havia a possibilidade de conciliar isso, é o modelo ideal para esse meu momento de carreira. Manter a NBA e buscar esse caminho novo e sensacional que é o futebol brasileiro. Admito que adorei fazer e vou adorar continuar fazendo".

Estilo de narração: "Nessa questão da preparação, tentei ser o mais obcecado possível no padrão que faço com a NBA e trazer isso para o futebol. Agora, no momento da narração, vou fazer do meu jeito mesmo e fazer diferente, quero ousar, quero experimentar, quero provocar mesmo. E foi tudo isso que eu fiz. Independentemente da reação".

Vai apelidar jogadores de futebol? "Fazer isso no futebol brasileiro é um objetivo meu. Mas, diante do que já tive de experiência com a NBA, já tenho a conexão de que demanda tempo. Vai demandar um período, uma sequência de um, dois anos. Por mais que eu já esteja me sentindo confortável, esse período é fundamental para criar esse tipo de coisa. A NBA me ensinou".

Jogo do Flamengo foi um marco

Jogadores do Flamengo comemoram gol de Gabigol contra o Maringá, pela Copa do Brasil. - Thiago Ribeiro/AGIF - Thiago Ribeiro/AGIF
Jogadores do Flamengo comemoram gol de Gabigol contra o Maringá, pela Copa do Brasil.
Imagem: Thiago Ribeiro/AGIF

Rômulo Mendonça transmitiu a melhor atuação do Flamengo no ano. Ele narrou a vitória por 8 a 2 em cima do Maringá, pelo jogo de volta da 3ª fase da Copa do Brasil.

A repercussão foi do tamanho da goleada. O narrador virou um dos assuntos mais citados no Twitter, com alto número de comentários positivos por parte de torcedores do Flamengo.

Só tive uma percepção maior da avalanche quando eu vi depois na internet. Eu me concentrei na hora do jogo e depois vi que meu nome estava em trending topics, e ficou até o dia seguinte. Vi os vídeos que viralizaram de diferentes momentos. Eu vou fazer do meu jeito, quero ter uma identificação gradual com o futebol, em especial com o futebol brasileiro. E narrar o Flamengo, num jogo exclusivo, é um bom caminho para iniciar esse objetivo. Então foi sensacional" Rômulo Mendonça

Narrando principalmente o jogo do Flamengo, eu fui apresentado a um outro perfil. Que não é o perfil de quem acompanha apenas futebol, e sim o perfil de quem acompanha apenas o clube, no caso o Flamengo. Então é muito específico. É uma novidade muito grande para mim. E eu adorei essa novidade" Rômulo Mendonça

Nem tudo foi positivo. Um vídeo de Rômulo Mendonça narrando cobrança de pênalti de Gabigol circulou nas redes sociais fora de contexto. O narrador mencionou "Gabigordo" antes da finalização. O sósia havia aparecido na transmissão pré-jogo. Entretanto, o trecho disseminado na internet dava a entender que Rômulo estava falando do peso de Gabriel Barbosa.

Também foi uma amostra legal de como é uma transmissão que tem uma repercussão muito grande. Apesar que essa questão foi uma edição mesmo, um corte que acabou tirando a essência do que eu estava falando. Mas é uma transmissão que requer cuidado. Tenho cuidado com a NBA, mas com o futebol brasileiro, com toda essa paixão, foi uma lição que aprendi para sempre tentar de alguma forma driblar as edições" Rômulo Mendonça

Confira a íntegra da entrevista

Adaptação ao Prime Video: "Fiquei quase doze anos na ESPN. Como eu nunca tinha vivenciado uma mudança assim de empresa, foi uma grande novidade. Acho que a minha grande façanha até o momento foi, em nenhum momento, falar: 'Você está na ESPN'. Eu sempre falo: 'Você está no Prime'. Pode ser que isso aconteça em algum momento ainda, mas acho que é uma grande manifestação cerebral de minha parte, de concentração, eu não ter cometido esse erro. Na verdade, era um erro mais propenso a acontecer no primeiro mês, primeiro mês e meio. Eu já acho que agora estou bem consolidado. Facilitou ter feito vários jogos com pessoas que já trabalhei antes. Não só de basquete, mas também no futebol, no caso o Rafael Oliveira. E o (Ricardo) Bulgarelli, a Alana (Ambrosio), na ESPN, então isso ajudou bastante. O fato de seguir fazendo a NBA também".

Chegada de Cleber Machado: "Estou num experimento, ganhando espaço, vivenciando essa coisa inédita de repercussão. Mas achei sensacional adicionar um narrador que por 35 anos narrou na Globo, especialmente futebol paulista, e trazer essa força dele, imagem e repercussão. Porque é uma novidade. É o streaming. Eu era adolescente quando começou a TV a cabo, e via pessoas na época falando 'Vai passar na TV a cabo, não vai passar na TV aberta?'. E aos poucos as pessoas perceberam que era inevitável, que era o caminho, e a TV a cabo se tornou uma via natural. E agora vejo algo semelhante com o streaming. Nesse momento de novidade, acho muito importante ter alguém com a experiência do Cleber para narrar os jogos e compartilhar comigo, que tenho mais experiência com NBA, mas estou disposto a desbravar esse caminho".

Torcer abertamente pelo Atlético-MG: "À medida que eu for fazendo mais jogos de futebol brasileiro, e é um objetivo seguir com isso na carreira , vai ter na internet alguém que vai falar: 'Esse cara é atleticano, é um absurdo ele narrar jogo do Flamengo, do Cruzeiro...'. Vai ter. Eu não tenho muito o que fazer a respeito disso. Eu prefiro manter a sinceridade e falar que sou atleticano, eu torço para o Galo mesmo, mas ao mesmo tempo demonstrar nas transmissões, para quem tiver interesse em ver o que é a verdade, que na hora do jogo eu estou defendendo o meu trabalho. Por exemplo, narrei o jogo do Atlético-MG contra o Brasil-RS na partida de ida (da 3ª fase) da Copa do Brasil. O Brasil fez o gol do 1 a 0, o Atlético virou e ganhou de 2 a 1. Eu narrei o gol do Brasil, e quem não sabe que sou atleticano nem desconfia. Naquele momento, estou defendendo meu trabalho".

Experiências anteriores com o futebol: "Nos últimos dois anos até narrei muito futebol, principalmente europeu. No ano passado, ainda na ESPN, cheguei a narrar dois jogos do Athletico na Libertadores. Mas de transmissão de time brasileiro foi o limite, foram esses jogos. Era uma meta".

Atingindo um novo público: "O que acompanhei na internet, que era divertido, depois daquele jogo (Flamengo x Maringá): gente que não me conhecia, e quando alguém colocava mensagem falando: 'Quem é esse cara aí?', 'quem é esse narrador?', geralmente tinha alguém rebatendo e falando: 'Você não conhece ele? Ele é o cara que narra a NBA'. Então, virou um 'embate' da manifestação de quem não conhecia e a resposta de quem conhecia e ficava até meio chocado. Virou um experimento antropológico na internet, e eu só acompanhando de longe porque não gosto de me envolver nisso".

Como cria apelidos para jogadores: "Buscar característica do jogador, personalidade, e a partir disso buscar uma palavra que resuma a figura. Foi com o tempo mesmo, a partir do terceiro ano (narrando NBA) que comecei a falar 'Papai Lebrão', o Doncic 'Tesouro'. Agora estou gostando muito do 'Bibi Perigoso', que é o Embiid, brinco com o nome dele também".