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Podcast de investigação sobre histórias marcantes do esporte


Áudios inéditos: Robinho disse que daria soco na cara de vítima de estupro

Adriano Wilkson e Janaina Cesar

Do UOL, em São Paulo e Milão

14/06/2023 04h00

Esta reportagem é imprópria para pessoas com menos de 18 anos, reproduz termos chulos e depreciativos usados em um contexto de violência sexual contra a mulher e pode servir como gatilho.

Robinho levantou a voz na noite de 24 de abril de 2014, uma quinta-feira. Ele estava no carro com o amigo Ricardo Falco, em Milão, discutindo sobre como responderiam à acusação de estupro que pesava contra eles.

A mina sabe que tu não fez porra nenhuma com ela, ela é idiota? A gente vai dar um soco na cara dela. Tu vai dar um murro na cara, vai falar: 'Porra, que que eu fiz contigo?' Robinho

Os dois não sabiam, mas o carro havia sido grampeado pela polícia. As palavras de Robinho saíram daquelas escutas e foram direto para a denúncia que o Ministério Público italiano movia contra o jogador e cinco amigos dele.

A gravação está em um conjunto de arquivos ao qual o UOL teve acesso com exclusividade por meio da Justiça italiana.

São mais de dez horas de escutas que se tornaram as principais provas no processo que culminou na condenação de Robinho e Falco a nove anos de prisão por estupro coletivo.

A sentença, que confirmou a versão da vítima, passou pelas três instâncias nos tribunais da Itália, a última delas em 19 de janeiro de 2022. Não cabe mais recurso.

É a primeira vez que um veículo de imprensa tem acesso à íntegra dos áudios, cedidos ao UOL com autorização judicial. Eles deram origem à quarta temporada do podcast UOL Esporte Histórias - Os Grampos de Robinho, série lançada hoje que contará em seis episódios a história da investigação italiana a partir dos grampos inéditos. Você pode ouvir o primeiro episódio no alto desta página.

Uma mulher albanesa acusou Robinho, Ricardo Falco, Fabio Cassis Galan, Clayton Florêncio dos Santos, Alexsandro da Silva e Rudney Gomes da Silva de a terem estuprado na madrugada de 22 de janeiro de 2013 na boate Sio Cafe, onde ela comemorava seu aniversário de 23 anos.

Na época, Robinho jogava pelo Milan e negou envolvimento no caso.

Os grampos entraram em ação em janeiro de 2014, um ano após o crime, e foram encerrados em abril do mesmo ano, após a conversa de Robinho e Falco relatada acima.

Aparecem nas gravações outros acusados e testemunhas que estavam na boate de Milão. As gravações mostram como os seis brasileiros envolvidos no caso mudaram suas versões ao longo de meses.

Depois de afirmar que daria um soco na jovem albanesa, Robinho, conhecido entre amigos como "Neguinho", admite na gravação ter mantido relações sexuais com ela. Ele negava isso desde o começo das investigações.

Vamos chutar errado: 'Ah, deu alguma coisa, descobriram que o Ricardo participou, que o Neguinho comeu a mina.' 'É, eu comi, pô! Porque ela quis. Aonde eu forcei a mina? Eu comi a mina, ela fez chupeta pra mim e depois saí fora. Os caras continuaram lá' Robinho

Robinho, jogador de futebol condenado a nove anos de prisão na Itália por estupro coletivo - Thomás Santos/AGIF - Thomás Santos/AGIF
Imagem: Thomás Santos/AGIF

Essa afirmação, gravada com autorização judicial, contradiz também o que o próprio Robinho disse ao UOL em 2020. Em entrevista gravada ao lado de advogados, o jogador afirmou que não fez sexo com penetração com a mulher que encontrou na boate de Milão e que todo o contato foi consensual.

Robinho e Falco foram condenados por estupro de grupo porque a Justiça considerou que a vítima estava inconsciente no momento do ato sexual. Ou seja, ela não tinha condições de consentir ou de se defender dos brasileiros.

Nas gravações obtidas pelo UOL, Robinho confirma o estado de inconsciência dela.

Por isso que eu estou rindo, eu não estou nem aí. A mina estava extremamente embriagada, não sabe nem quem que eu sou Robinho

"Tem que ver quem transou com ela e como que era o estado dela. Ela tava muito louca", afirma Robinho em outro trecho.

Uma parte dessas conversas já tinha vindo a público em 2020, quando o tribunal de Milão publicou a sentença de condenação dos brasileiros.

Mas a imprensa teve acesso na ocasião apenas às transcrições do conteúdo das gravações. As conversas, em português, foram traduzidas para o italiano para serem usadas no julgamento e, depois, traduzidas de volta ao português pela imprensa.

Robinho concede entrevista a UOL Esporte - UOL Esporte - UOL Esporte
Robinho dá entrevista a UOL Esporte em 2020
Imagem: UOL Esporte

Robinho alegou que suas palavras foram mal traduzidas e retiradas de contexto, em entrevista ao UOL naquele ano. Supostos problemas na tradução são a base da defesa de Robinho no processo que tramita hoje no STJ (Superior Tribunal de Justiça). Esse processo se refere ao pedido da Itália para que o Brasil execute a pena de Robinho e Falco, ou seja, que cumpram suas penas aqui, uma vez que a Constituição brasileira proíbe a extradição de seus cidadãos.

Os advogados de Robinho já pediram para o tribunal exigir da Itália o processo inteiro e traduzido, e não apenas a sentença. Mas o STJ negou. O caso segue em tramitação.

Robinho e Falco foram condenados, mas os outros quatro amigos escaparam do julgamento porque deixaram a Itália logo depois do crime.

Fabio Cassis Galan, Clayton Florêncio dos Santos, Alexsandro da Silva e Rudney Gomes da Silva foram denunciados, mas nunca foram encontrados pela Justiça, e o processo deles não andou. Hoje todos vivem no Brasil.

Eu vi o Rudney rangando ela e os outros cara rangando ali. Então os caras que rangaram ela vão se foder Robinho

"Ninguém vai dizer que vocês fez porra nenhuma com a mina, nem tu nem o Jairo. Pros moleque vai, pro Seu Claytinho, pro Seu Galan, pro Seu Alex. O Galan não, ele não fez nada, mas se a mina botou o nome dele, vou fazer o quê? Agora Claytinho, Rudney e Alex, tá morto", diz o ex-atleta.

A reportagem entrou em contato com Robinho, que se aposentou dos gramados e desde então vive distante dos holofotes, para oferecer a ele oportunidade de comentar os áudios, mas o ex-jogador preferiu não dar entrevista. Falco e os demais denunciados também foram procurados, mas não quiseram se pronunciar.

O UOL conversou com a mulher que acusou o grupo. Dez anos depois do crime, ela se formou na faculdade de direito e pretende atuar na defesa de mulheres vítimas de violência sexual. Ela preferiu não dar entrevista para a série e pediu que seu nome real não fosse divulgado.

Histórias por trás do esporte

No ar desde 2020, o podcast "UOL Esporte Histórias" apresenta investigações jornalísticas sobre casos rumorosos do esporte.

Na primeira temporada (Futebol Bandido), repórteres do UOL mostraram os bastidores de escândalos de corrupção no futebol mundial, com destaque para as passagens de Ricardo Teixeira e João Havelange pelo comando da CBF e da Fifa.

A segunda temporada (Caso Daniel) trouxe detalhes da investigação sobre o assassinato do jogador do São Paulo Daniel Corrêa, morto após uma festa de aniversário no Paraná.

A terceira temporada (Sobre Meninos e Porcos) teve como tema as relações de poder entre as torcidas organizadas do futebol e dedicou atenção especial à fundação da Mancha Verde e ao assassinato de Cléo Sóstenes, presidente da torcida.

"Os Grampos de Robinho", quarta temporada do podcast "UOL Esporte Histórias" também está disponível no Youtube de UOL Esportes, no Spotify, na Apple Podcasts e em todas as plataformas de podcast.