Cuba muda relação com atletas para frear deserções e voltar a brilhar
O Instituto Nacional de Esportes e Educação Física (Inder), de Cuba, fez um importante anúncio para o esporte cubano: o fim da repatriação como exigência para que um atleta cubano possa participar de eventos e campeonatos realizados no país.
Na prática, significa, por exemplo, que um jogador de beisebol que esteja atuando no Japão ou mesmo na MLB nos Estados Unidos pode agora, dependendo de seu calendário, jogar na liga cubana.
É uma abertura também para que não haja tantas deserções e para que atletas que deixaram o país possam representar novamente Cuba. Um exemplo dramático é o salto triplo. Pedro Pichardo, campeão olímpico, representa Portugal, Jordan Diaz é atleta espanhol e Andy Diaz compete pela Itália. Os três podem lutar pelo pódio em Paris-24, assim como Lazaro Martinez, o cubano que ficou em Cuba.
Denia Caballero (bronze no Rio-16) e Yaime Pérez (bronze em Tóquio-20) já não competem por Cuba no lançamento do disco. Ambas já foram campeãs mundiais.
A repatriação vem após outras medidas de flexibilização. Jogadores de vôlei que atuam pelo mundo afora, inclusive no Brasil, voltaram a defender Cuba. Estão na Liga das Nações. A ideia é não perder mais talentos como Wilfredo Leon, que virou polonês, e Melissa Vargas, turca.
No boxe, foi liberada a participação em lutas profissionais. Os contratos são supervisionados pelo Inder e as bolsas são divididas entre o lutador (80%), o treinador (15%) e o médico (5%). Não parece ser suficiente para agradar aos pugilistas, sempre assediados por empresários dos Estados Unidos. Um exemplo foi Osvel Caballero. Foi até o México lutar, venceu e por lá ficou.
No último campeonato de boxe amador, realizado em maio no Uzbequistão, Cuba foi com 13 lutadores - todas as categorias. Esperava voltar com quatro campeões. Conseguiu apenas um título, com Yoenlis Hernández, na categoria de 75 quilos. Foi elogiado por Miguel Diaz-Canel e... Ficou no Panamá, onde a delegação fez uma parada.
As deserções não têm sido o único problema do boxe cubano, um esporte que já conquistou 73 medalhas olímpicas (37 de ouro, 19 de prata e 17 de bronze). Só para comparar, Cuba tem 85 de ouro, 71 de prata e 85 de bronze.
Além da saída de boxeadores que brilham no profissionalismo como David Morrel, Frank Sanchez, Robeisy Ramires (bicampeão olímpico), Yordenis Ugas e da grande revelação Andy Cruz, campeão olímpico que ainda não estreou, os que ficaram, estão mal.
No último Mundial, Roniel Iglesias (bicampeão olímpico, além de medalhista de bronze), Lázaro Alvarez (tricampeão mundial e três bronzes olímpicos) e Arlen Lopez (bicampeão olímpico e bicampeão mundial) não conseguiram medalha. Foram eliminados nas quartas de final.
Mas o baque maior foi Julio Cesar La Cruz, bicampeão olímpico e com cinco títulos mundiais. Caiu nas quartas também. A derrota dele tem um significado maior. É um lutador muito afinado com o governo cubano. Foi eleito deputado no mês passado. Na última Olimpíada, ao derrotar o cubano Emanuel Reyes, que luta pela Itália, gritou "Patria o Muerte", lema dos comunistas cubanos. Sua derrota soa como a derrota do sistema.
Ele se recuperou nos Jogos Centro Americanos e do Caribe, mas não se pode comparar a dimensão de uma competição com outra. E foi novo balde de água fria no boxe cubano. Arlen Lopez voltou a ser eliminado antes das medalhas. Revelações que ficaram com a prata no Mundial, ou apenas repetiram a dose, como Erislandy Alvares, ou foram eliminados na primeira luta, como Sadiel Horta. A exceção foi o super-pesado Fernando Arzola, de 19 anos. No geral, Cuba ganhou dois ouros. Na última edição, em Barranquilla, foram seis em sete possíveis.
Com deserções em massa, com veteranos em baixa e com uma nova geração ainda se firmando, Cuba tenta mudar. Liberou até a pratica do boxe feminino e conseguiu uma prata nos Jogos Centro Americanos e do Caribe, com Legnis Calá.
Cuba tenta mudar, para não ver seus atletas brilhando por outros países. Será tarde demais?
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