A Copa que ninguém vê, mas que dá visibilidade a quem precisa
Kailane Jufo, pode chamar apenas de Jufo, de Deodoro, no Rio, e Francielle, a Fran Reis, de São Luis, no Maranhão, não estão na lista de Pia Sundhagen para a disputa da Copa do Mundo de Futebol na Austrália e Nova Zelândia.
Mas estão - e é muito importante para a vida delas - na lista de Pupo Fernandes para a Homeless World Cup, que está sendo disputada em Sacramento, nos EUA, até sábado (15) - o Brasil já tem três vitórias em três jogos.
Juntamente com elas, foram convocados o goleiro Gui Oliveira, do Distrito Federal, Kaike Silva e Dani Santos, de São Paulo, Inácio Neto, do Ceará, João Victor, do Pará, e Yan, do complexo do Alemão, no Rio.
Sim, o time é misto. "Pretendo usar as meninas contra adversários fisicamente mais fracos, para evitar contato duro com jogadores muito mais fortes", diz Pupo Fernandes, que coordenou os treinamentos, em São Roque, no interior paulista, onde tem uma escolinha de futebol e é professor na rede pública.
"Precisa, não, professor. Eu estou preparada para a guerra, nasci pronta para qualquer batalha", fala, muito confiante, a Jufo.
A Homeless World Cup (Copa do Mundo dos Sem-teto, numa tradução livre) é anual e está em sua 18ª edição em 20 anos. A conta não bate por causa da covid-19, que impediu a realização nos dois anos anteriores. O Brasil foi sede em 2010, quando conquistou seu primeiro título. Os outros vieram em 2013 e 2017.
O nome Homeless World Cup indica o público e a finalidade. São atletas que vivem em situação precária de moradia, não necessariamente na rua. "Existem jogadores africanos que vivem em contêineres. Nós temos jogadores que vivem em favelas, outros são quilombolas, ribeirinhos ou indígenas", contra Guilherme Araújo, 43 anos, administrador de empresa, economista e fundador da ONG Futebol Social.
Futebol social é o nome que o Brasil escolheu para o esporte. Outros países usam Street Soccer (futebol de rua) ou variações com o nome homeless.
A ONG Futebol Social atua em todo o Brasil. Reúne mais de 100 projetos sociais no Brasil. A parceria rendeu dez etapas durante o ano, com a busca de jogadores. Em cada etapa, fica o legado de apito, bolas e coletes.
Depois, com 88 selecionados, foi realizada a Copa Futebol Social, em Mongaguá, no litoral de São Paulo. Os jogadores são misturados em novas equipes. "Anti racismo" foi a campeã masculina e "Felicidade" a feminina.
Daí, saíram os oito convocados. O Brasil tentou levar uma equipe feminina e outra masculina, mas, como não teve representação feminina nas vezes anteriores, foi preterido. Optou-se então por um time misto, com a presença de apenas um atleta por projeto social.
O sonho é livre
Jufo, que sempre jogou com meninos na rua, espera por um time de futebol.
Fran Reis já jogou futebol de campo no Maranhão, no Sefama. Com um título mundial no currículo, deseja voltar. É o mesmo pensamento de Guilherme, que já atuou em Luiziânia.
João Victor, que mora em Tomé Açu e viaja de barco para treinar em Belém, sonha em deixar de lado o serviço de feirante com o pai.
Todos sonham.
E Daniel, da favela Jaguaré, em São Paulo, só pensa em sair do pesadelo. "Minha mãe tem três filhos. Eu sou o segundo. Só penso em dar uma situação melhor para ela. Seria responsabilidade do irmão mais velho, mas ele está preso por roubo de carga, esperando julgamento".
As regras
O futebol social é disputado em um campo com grama sintética, de 22m x 16m.
O gol tem 4 metros de largura, 1,30m de altura e um 1m de profundidade.
São dois tempos, com sete minutos cada e um de intervalo.
Tudo é feito para evitar cera. O jogo precisa ser muito intenso. Não há lateral, a bola pode bater na grade de proteção e voltar para o campo.
Cada time tem quatro jogadores, sendo um goleiro, que não pode sair da área. Atacantes não podem entrar na área.
O time pode atacar com três jogadores, mas é permitido se defender com apenas dois. Um sai da quadra e pode voltar imediatamente ao ataque.
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