Quadra pública no ES vira palco de polêmica entre basquete x futebol
Um vídeo ironizando a prática de basquete em uma quadra pública em Vila Velha, no Espírito Santo, gerou uma polêmica esportiva nas redes sociais que chegou até a CBB (Confederação Brasileira de Basketball).
O que aconteceu
Um influenciador filmou pessoas batendo bola na quadra do bairro Itapuã e disse estar revoltado com a "pandemia de basqueteiros" no Brasil. Na publicação satírica, feita no Twitter no início desta semana, Krav Maroja lamentou que o local não estava cheio de moleques jogando futebol e cobrou uma ação "urgente".
O post rapidamente viralizou, principalmente entre a comunidade do basquete. Enquanto alguns internautas interpretaram como sendo uma piada, outros criticaram o influenciador pelo conteúdo da mensagem.
O autor surfou na onda e publicou outro vídeo na sequência, fingindo que tinha arrancado o aro da tabela e falando em "revolução". A insinuação do ato de depredação serviu como pólvora para a polêmica, que ganhou maiores proporções e invadiu também o Instagram.
REUNI A RAPAZIADA PRA JOGAR UM FUT AGORA E COMBATER ESSA FEBRE BASQUETISTICA QUE AVANÇA PELO BRASIL!!!! https://t.co/HF2yQoE1Fl pic.twitter.com/EruLZKJpHB
? OKR4V ? (@EuSouVascaino_) September 12, 2023
A segunda gravação, no entanto, foi feita em uma outra quadra, localizada na Praça do Epa, em Vitória. O local é exclusivo para a prática de futsal há anos e não tem aro na tabela, diferentemente do espaço filmado no primeiro vídeo.
Ao UOL, Krav Maroja alegou que tudo foi uma brincadeira e que passou a receber ameaças de morte após as publicações. Ele afirmou que o "post tem claramente cara de ironia" e ressaltou que que não liga para as ameaças: "Única coisa que afetou foi nos ganhos que tenho pela Internet, que aumentaram muito, inclusive".
Foi uma brincadeira que fiz e o pessoal do basquete acabou se doendo com isso. Começaram a dizer que ia incentivar pessoas a vandalizarem. Não entendi o porquê, só fiz uma brincadeira que não tinha como alguém se doer. Krav Maroja, ao UOL
Após a repercussão, a CBB doou uma bola de basquete oficial para o racha. O gerente de comunicação da entidade, Thierry Gozer, prestigiou a pelada na última quinta (14) — que começou em meia quadra até que os basqueteiros superaram a turma do futebol e conseguiram jogar usando toda a extensão.
Sempre Baska! Somos rua
? Basquete Brasil - CBB (@basquetebrasil) September 14, 2023
Nesta semana, o basquete mostrou mais uma vez a sua força! Após mais um episódio de preconceito ao nosso esporte e incitação ao vandalismo, que de fato vem ocorrendo em áreas poliesportivas com a prática da modalidade, nossa comunidade se uniu e? pic.twitter.com/V8VpOK742M
Basquete de segunda-feira
O UOL conversou com um dos organizadores da "pelada de basquete" que ocorre semanalmente na quadrinha do Itapuã. Ele preferiu não se identificar diante da polêmica criada.
Ele disse que as partidas começaram a ser realizadas religiosamente nas noites de segunda há cerca de um ano. A prática do esporte foi viabilizada depois que o local ganhou tabelas e aros com uma revitalização feita pela prefeitura da cidade.
O que era um apanhado de desconhecidos batendo bola virou um grupo que já passa de 80 basqueteiros. A "pelada", que costuma ser frequentada por uma média de 40 pessoas por noite, tem início às 19h e dura até 23h — e já virou "o racha mais lotado" de Vila Velha, de acordo com ele, reunindo jogadores de outros bairros.
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Quero receberA quadra também é utilizada para aulas de zumba, mas a utilização é majoritariamente do futebol. "Futebol é todos os dias. A gente só joga às segundas e, de vez em quando, às quintas, quando abre espaço depois da zumba. O local é público, todos têm que usar", cobrou.
Os basqueteiros estão tentando negociar mais um dia na semana, mas encontram forte resistência dos boleiros, segundo o organizador. "A quadra anterior não tinha basquete, então meio que se acham donos do terreno. Vivemos esse eterno conflito", reclamou.
A turma do basquete já se mobilizou e fez uma vaquinha para consertar a cesta uma vez. Eles desembolsaram cerca de R$ 1,5 mil para colocar um aro flexível, de tamanho oficial e com rede de corrente. O grupo também criou perfis para o racha, denominado NBI (New Basket Itapuã), e tem planos de participar de campeonatos na região.
O organizador lamentou o post que gerou a polêmica, criticando o que considerou como preconceito e incentivo ao vandalismo. "Ele quis fazer um clickbait que acabou dando certo e viralizou, com essa revolta. Acredito que não seja um vândalo, que quebra aros, mas incentiva. Já tivemos uma vez problema com aro que foi arrancado", relatou.
"Mesmo que não tenha uma trave, com uma bola e dois pares de chinelos se faz um campo de futebol em qualquer lugar plano. Já o basquete é um esporte que exige que tenha equipamentos: a cesta, a tabela, a própria bola. Não é só que o Brasil é o país do futebol, o futebol é mais fácil", concluiu.
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