De camelô à seleção: breaking transforma vidas após virar esporte olímpico

O brasileiro melhor colocado no ranking internacional de breaking foi camelô, ajudante de pedreiro e pintor até conseguir se sustentar com o esporte. Uma das B-Girls da seleção brasileira da modalidade dava aulas de dança, enquanto outra seguiu na cena e preteriu o futsal e a capoeira.

A oficialização como esporte estreante nos Jogos Olímpicos de Paris fez o breaking mudar de patamar — e também transformou a vida dos praticantes. A nova modalidade, que mistura dança urbana e arte cultural com movimentos atléticos, passou a receber mais holofotes e tem uma nova realidade desde então.

Três dos principais breakers do país conversaram com o UOL sobre o início dessa era olímpica. Na COB Expo, eles contaram sobre suas trajetórias e sobre os impactos na realidade mirando 2024.

Breaking mudando vidas

Leony se apresentando na COB Expo 2023
Leony se apresentando na COB Expo 2023 Imagem: André Martins/UOL

Leony Pinheiro já fez "de tudo um pouco" antes de se tornar o 34º do mundo no breaking. Aos 27 anos e qualificado para o qualificatório para Paris, ele está inserido na modalidade desde os 12.

Ele decidiu o que queria para o futuro com 15 anos: 'Vou ser B-Boy o resto da vida' — como os atletas do masculino costumam ser chamados. Ele seguiu se dedicando aos treinos enquanto conciliava com seu 'plano B', os estudos, até que começou a ganhar dinheiro com o esporte.

Nathana Venancio, por sua vez, já atuava na dança e tinha um "caminho andado" no meio cultural. "Eu trabalhava dando aula para crianças em projetos com a Prefeitura e também com produção de eventos", disse a mineira de Uberlândia, também há 15 anos no "corre" e em 61ª no ranking das B-Girls — sendo a 2ª melhor brasileira, atrás apenas de Mini Japa (49ª).

Naiara Xavier, mais conhecida como Toquinha, teve seu primeiro contato com o breaking aos 13 por meio de um projeto social. Sete anos depois, a paulistana segue treinando no CEU Perus, na zona noroeste da cidade, onde começou sua trajetória até completar o trio de B-Girls da seleção.

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Quando era mais nova eu jogava futsal e fazia capoeira. Depois que conheci, foi só o breaking. Aí fui crescendo conforme foram passando os anos, fui me destacando na cena.
Toquinha

Efeitos do esporte olímpico

Para Leony, o breaking passou a ocupar espaços e a atrair mais patrocinadores com a exposição após a confirmação nos Jogos Olímpicos. "A gente já tinha alguns patrocínios, mas não era em massa como está sendo agora, parece agora que todo mundo quer. Agente teve que se profissionalizar para entender como vai negociar", relatou o breaker, que tem parceria com a Red Bull.

Apresentação de breaking na COB Expo 2023
Apresentação de breaking na COB Expo 2023 Imagem: André Martins/UOL

Ele também comemorou a maior exibição na mídia e a tendência de profissionalização na modalidade. "Esse é o momento de exposição do breaking, um dos pontos positivos é o de ocupar espaços", complementou.

Toquinha destacou a evolução na preparação física e mental depois da confirmação em Paris. "Eu não tinha um fisioterapeuta, uma psicóloga, um preparador físico. E com o breaking virando esporte olímpico a gente teve essa oportunidade. Para dançar bem eu tenho que estar com a cabeça boa", ponderou.

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Já Nathana disse que a maior visibilidade também ajuda a mudar uma visão estigmatizada da modalidade. "Para que a galera possa também conhecer o breaking, ver que não é uma cultura como era vista anteriormente de 'pessoas que não fazem nada, que não têm trabalho'. É muito pelo contrário", ressaltou.

A gente ama o que faz, mas é algo sério. A gente está sendo extremamente profissional, eu vejo que realmente é um crescimento. O breaking poderia ter chegado a esses lugares muito tempo antes, demorou ainda um pouquinho, mas abriu novas possibilidades.
Nathana

Lado financeiro

Atletas da seleção brasileira de breaking (da esq. para a dir.: Leony, Rato, Mini Japa, Nathana e Toquinha)
Atletas da seleção brasileira de breaking (da esq. para a dir.: Leony, Rato, Mini Japa, Nathana e Toquinha) Imagem: André Martins/UOL

Os três fazem parte de um seleto grupo de brakers que já conseguem se sustentar exclusivamente com o esporte. Além dos patrocínios individuais, eles recebem um auxílio do Spotify, patrocinador do CNDD (Conselho Nacional de Dança Desportiva).

Apesar disso, ressaltam que o cenário está se transformando. "Todo o grupo da seleção recebe para treinar. Não é uma exclusividade nossa, mas infelizmente também não é a maioria. Isso também está abrindo para outras pessoas", ponderou Leony.

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Com as Olimpíadas, que mais B-Boys e B-Girls também cheguem nesse patamar de receber pra fazer sua arte e se dedicar" totalmente.
Leony

Que as pessoas possam ver isso realmente como uma profissão, como uma coisa que realmente muda a vida das pessoas. Porque eu acredito que assim como a cultura, o esporte também faz isso.
Nathana

Rumo a Paris

Os breakers terão um 'gostinho' olímpico antes dos Jogos de 2024: o Pan-Americano. A competição será disputada entre 20 de outubro e 5 de novembro em Santiago, no Chile, e o vencedor carimba presença em Paris.

"O que acontecer no Pan vai acontecer na Olimpíada, já vai demonstrar como vai ser", declarou Leony. "Acho que tem a mesma proporção dos Jogos Olímpicos", corroborou Nathana.

A maioria das vagas olímpicas serão decididas pelo qualificatório mundial. A última etapa ocorrerá em Hong Kong, depois do Pan, e a expectativa é que o Brasil tenha vários representantes nesta etapa classificatória.

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