Pan 2023: Como uma feijoada ajudou o Brasil a encerrar jejum do remo
Como uma feijoada ajudou a encerrar um jejum nos Jogos Pan-Americanos? Vamos explicar essa história que tem a ver com o ouro conquistado pelo remador Lucas Verthein e o retorno do Brasil ao topo do pódio na modalidade.
Carioca, o atleta defende o Botafogo e foi o campeão na prova no skiff simples masculino em Santiago — o último título brasileiro na modalidade tinha sido em Indianápolis-1987.
Verthein estreou no Pan a embarcação que chegou pouco antes de ir para o Chile, e foi batizado de "Estrela Textor". Não à toa. O dono da SAF do futebol Alvinegro deu uma "ajuda crucial", segundo o remador postou nas redes sociais, para a aquisição.
Em agosto do ano passado, Textor visitou o Rio de Janeiro e, a convite do presidente Durcésio Mello, foi a uma regata, que teve o Botafogo como campeão. Sem competição naquele dia, Lucas adotou o papel de anfitrião da modalidade.
"No momento que tivemos a compra do futebol pelo John Textor, passávamos um momento difícil nos Esportes Olímpicos. Vi uma oportunidade, junto ao presidente Durcésio Mello, uma pessoa a qual sou muito agradecido, e fiz esse pedido para levar o John a uma regata", contou ao UOL.
Depois da competição, houve uma feijoada, e a conversa sobre remo e possibilidade de investimento se estendeu. "O Lucas sentou ao lado dele e gastou o inglês", brinca Alexandre Xoxo, coordenador técnico do remo do Glorioso.
"Depois que ganhamos a regata, fomos campeões, o convidei a ir a nossa sede náutica, e fizemos uma feijoada. Conversei com ele, mostrei a nossa realidade, que o Brasil tem condições de ser potência no remo. Depois de um tempo, ele veio com o Durcésio com a ideia de estar me apoiando com esse barco", lembra o medalhista.
A utilização nos Jogos Pan-Americanos aconteceu graças a um operação que fez a embarcação chegar antes do que era esperado:.
"Ele [Textor] fez o investimento juntamente ao presidente Durcesio e [Carlos Augusto] Montenegro, e foi até inesperado ele ter chegado antes do Pan. A previsão era de cinco meses e foi entregue em um mês e meio. Foi um tempo recorde e, no fim das contas, deu tudo certo".
A relação de Lucas com o Alvinegro já vem desde quando ele tinha apenas 14 anos, e começou após um convite de um amigo. "Chegou muito garotinho e sempre queria estar entre os mais velhos, que remavam mais. Sempre se mostrou muito focado", conta Xoxo.
Até o ouro no Pan, porém, Verthein teve uma longa caminhada. Pouco tempo antes da participação em Tóquio, conciliava os treinos na água com o emprego em uma loja de informática e as pedaladas na bicicleta que usava para entregar das quentinhas que a mãe fazia. Na agenda ainda tinha as aulas da faculdade de administração — que cursa até hoje.
"É um dia que ficará para sempre na minha memória. Valia muito para mim, era um sonho, um objetivo, mas também era um resultado muito importante para o remo do Brasil. Essa conquista é um pedaço da minha própria história", celebrou.
Em março de 2021 veio a vaga olímpica, na Lagoa Rodrigo de Freitas, cenário dos treinos diários. Em Tóquio, foi o único remador brasileiro. E o que seria uma pausa em toda aquela correria, se tornou a virada de chave e os olhares puderam se voltar ainda mais ao esporte. Pouco mais de dois anos depois, quebrou um jejum de 36 anos.
Lucas quer construir uma trajetória ainda maior, e já indica até quando pretende remar. "Estou em uma crescente, não apenas de resultados, mas também de paixão pelo esporte, espero competir em alto nível até 2032, nas Olimpíadas de Brisbane [Austrália]", revelou.
Por que "Estrela Textor"?
O estatuto do Botafogo rege que as embarcações "somente poderão receber nomes de estrelas e constelações, inscritas em letras brancas ou pretas em ambos os lados da proa; as pás dos remos serão brancas, com um retângulo preto com o símbolo do Botafogo na parte superior". Assim, houve essa adaptação para o Estrela Textor, para que o norte-americano pudesse ganhar a homenagem.
Namorada na água
Chloe Gorski, namorada de Lucas, também é remadora e pulou na água para celebrar o título do amado. Ela disputou a final no duplo skiff, ao lado de Thalita Soares, e ficou na sexta colocação.
Aposta em briga no alto
Alexandre Xoxo faz elogios a Lucas Verthein e aposta que, muito em breve, ele estará brigando em patamares ainda mais altos:
"Ele sempre foi muito competitivo, muito focado. Desde novinho, e isso foi acumulando nele. Já pequeno queria estar em meio aos mais velhos, que remavam mais (risos). Hoje ele é o campeão do Pan, foi terceiro no Mundial Junior... Ele é novo ainda. Já briga e acho que vai evoluir ainda mais nas competições para brigar por medalha olímpica e de mundial".
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