'Louca', dominicana corria descalça e acabou no atletismo por necessidade
Luís Augusto Símon (Menon)
Colaboração para o UOL, em São Paulo
30/10/2023 04h00
Marileidy Paulino ganhou status de heroína nacional na República Dominicana quando, nas Olimpíadas de Tóquio, faturou a medalha de prata nos 400m e no revezamento 4x400m misto. Não precisava fazer mais nada para ser idolatrada, mas fez.
A prata virou ouro no Mundial de Eugene em 2022, no revezamento misto. E mais um ouro veio no Mundial de Budapeste deste ano, nos 400 metros. Atualmente, é a primeira do ranking mundial.
Voos que ela mal podia imaginar na infância pobre, quinta filha entre seis da mãe Anatalia Paulino. Nas ruas de Nizao, era a pequena quem corria descalça.
Ela foi descoberta por um professor de Educação Física, que a colocou em provas de salto. Foi destaque, também, no vôlei e no handebol.
Passou para o atletismo por necessidade. "Em meu país existem Jogos Militares e estavam procurando atletas. Fui competir pela Aeronáutica, e a primeira coisa que pedi foi um par de sapatilhas", disse à revista Playoff.
Em Tóquio, suas sapatilhas foram notadas, não só por seu desempenho, mas pela frase 'Deus é minha esperança. Amém'. "É minha frase favorita. Em todas as corridas que fiz, Deus estava comigo."
Logo no início, começou a treinar com Yassen Perez, um cubano que a acompanha até hoje. Os resultados locais foram muito bons, e ela começou a participar de competições regionais. Esteve no Mundial Militar, nos Jogos Centro-Americanos e no Pan de Lima, em 2019, mas ficou muito atrás.
A partir daí, tudo mudou
Com 25 anos, chegou a Tóquio e fez história. "Eu creio muito em mim. Tenho mentalidade forte, tem gente que quando vê uma dificuldade já quer abandonar. Eu não sou assim."
Ela acredita no esforço próprio. Conta que não espera ajuda do governo ou de uma instituição. "Sempre digo que uma aplicação pode trazer multiplicação. Comecei a investir antes dos Jogos de Tóquio e meus colegas diziam que eu era louca. Quando ganhei as medalhas, comecei a dizer: 'quem é louca?' Olhem para a louca, com duas medalhas olímpicas, duas mundiais, a liga de diamantes, a primeira do ranking. Olhem para a louca aqui".
Uma louca com os pés no chão. Dentro de sapatilhas, é claro.