Garotas de programa dobram lucro com F1, mas veem menos 'gringos' em 2023
Bruna, 30, está com a agenda cheia esta semana. Organizada, ela definiu, por dia da semana, onde fisgaria seus clientes gringos, que estão no Brasil para o GP de São Paulo. Bruna é garota de programa e diz que a semana de Fórmula 1 no Brasil só perde, em termos de lucro, para o Carnaval no Rio de Janeiro.
Ela é uma entre as tantas acompanhantes de luxo que focam na semana do GP para dobrar a renda. E nem só de boates vivem Bruna e suas colegas. Entre os destinos escolhidos por ela para esta semana, está o Bar Brahma, o que ela considera "um clássico para achar gringos". "Adoram esse lugar, não tem jeito. É tradicional, então aproveitam para visitar."
Ao adentrar os bares, a estratégia começa: de longe, ela olha para suas presas e sorri. Daí, é só esperar a mágica acontecer. E, segundo ela, acontece. "Eles mesmos vêm puxar papo. Como falo inglês, facilita. E a parte boa de pegar gringo é que eles não pechincham, não pedem desconto. Brasileiro sempre quer desconto, é um saco".
Ela conta que entre as conquistas da semana estavam dois engenheiros de equipes da F1 (cujos nomes ela não se lembra), e muitos grupos de estrangeiros que vieram assistir à corrida. "Um engenheiro era inglês, e o outro, alemão. É uma semana cheia".
Bruna trabalha na noite desde 2016, "mas criava conteúdo e tirava foto pelada para a internet desde 2014", conta. "Atendo clientes de terça a sábado. Alguns são fixos, outros eu pesco em bares, e agora eu também tenho anúncio em plataformas de divulgação de trabalho sexual. Antes, não tinha paciência. Tinha muito louco carente que entrava nesses sites".
A hora de Bruna custa R$ 500, e ela afirma que seu faturamento mais que dobra nas semanas de Fórmula 1 no Brasil. "Em semana devagar, tiro uns R$ 4 mil. Na semana do GP, já cheguei a fazer R$ 10, R$ 12 mil. Gringo geralmente pega duas ou três horas; às vezes querem que a gente saia da casa e vá para hotel ou motel, o que torna o programa mais caro".
Semana mais fraca que o comum
Este ano, entretanto, o movimento ainda está baixo. A percepção de Dayane, 36, é que "diminuiu muito a quantidade de clientes que vieram para a Fórmula 1". "Não é mais um evento a que se dá tanta importância como antes. Geralmente, esses clientes estrangeiros vêm com o objetivo de ficar longe das esposas e de procurar algo diferente, além da corrida", conta.
Dayane é formada em pedagogia, psicologia e gestão, mas não exerce nenhuma das funções. Desde 2021, trabalha como garota de programa. Antes, era fixa da casa de entretenimento adulto Kilt, mas hoje varia entre ela e uma clínica de massagem.
"No ano passado, começou cedo. Estava na Kilt e no dia 25 de outubro já tinha gringo hospedado nos hotéis, as ruas já estavam cheias; o Bar Brahma já estava lotado, era gringo vindo de todos os lugares. Eles frequentaram muito as casas de entretenimento adulto, procuraram muito as meninas. E, além de chegarem cedo, também foram embora tarde: até meio de novembro tinha cliente que veio para assistir à corrida."
Em 2022, Dayane virou acompanhante fixa de um homem que estava no país para o GP. Ele é brasileiro, mas mora na Bélgica. "É o período do ano de maior faturamento para a gente. Costumo ganhar uns R$ 6 mil a mais em comparação com uma semana normal. Como fiquei uma semana sendo fixa de um homem, tudo que ganhei foi ele. Por sete dias, ele me pagou R$ 15 mil".
"Em boates conceituadas, é mais fácil achar homem"
Erika, 24, endossa que as boates conceituadas são vantajosas para encontrar bons clientes — e é nelas que ela pretende estar durante a semana do GP. "A procura é muito boa, e com gringos a gente consegue trabalhar mais". Erika é instrutora de pole dance, terapeuta sexual "e garota de programa para aumentar a renda".
"Nessas boates, dá para cobrar até R$ 1 mil a hora. E se o cliente quer tirar a menina da casa, o valor da hora dobra. Ano passado, trabalhei muito, consegui ganhar uma boa grana. Muitas meninas não se atentam para o período e acabam perdendo a oportunidade de ganhar mais dinheiro. Eu já me programo para, quando tem corrida, passar mais tempo trabalhando."
Erika, entretanto, também percebeu uma movimentação menor que a do ano passado nas casas; Giovanna*, 28, também: ela diz que o movimento de fato diminuiu. Para não ficar restrita às condições que as casas impõem, ela decidiu, neste ano, focar em bares tradicionais e não em casas de entretenimento adulto. Cita, também, o Bar Brahma, mas vai além: "Bares de hotéis chiques acabam rendendo mais que as casas. Acho que porque ficamos mais livres".
O UOL entrou em contato com a casa de entretenimento adulto citada nesta reportagem, mas não teve resposta até o momento da publicação.
*Nome trocado a pedido da entrevistada.
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