Corredor que vai estrear no Pan superou depressão e hoje vive no Quênia

Daniel Nascimento vive a ansiedade de estrear em uma competição. Ele desembarca no Chile para a primeira participação em Jogos Pan-Americanos. Mas o frio na barriga e o brilho nos olhos já estiveram distantes. Uma depressão afastou o maratonista das pistas, mas ele superou e voltou a ter no par de tênis o bom e velho amigo. Hoje, mora e treina no Quênia, país africano que é referência na modalidade, e almeja novas conquistas.

Em Santiago, Danielzinho vai correr os 10 mil m, que admite não ser a especialidade, mas nada que tire a animação. A disputa será nesta sexta-feira (3), com previsão de início às 18h10.

"Estou muito ansioso. É sempre uma grande oportunidade e um orgulho representar o Brasil. A prova dos 10 mil não é a minha melhor prova, então a minha expectativa é dar o meu melhor e deixar 100% do que posso. Os americanos e canadenses são os favoritos para essa prova", disse.

Para o torneio, inclusive, o atleta fez adaptações nas atividades diárias. "Os treinos longos foram diminuídos, e focamos mais nos treinos de velocidade e pista para que meu corpo fique mais rápido e leve".

Daniel é de Paraguaçu Paulista, uma pequena cidade que fica a cerca de 460 quilômetros de distância de São Paulo. Os primeiros passos foram com a bola nos pés, mas logo iria migrar para o atletismo.

Superação pessoal

Em 2017, apontado como promessa, bateu o recorde sul-americano sub-20 dos 10.000m. No ano seguinte, lesões nos tendões, e um quadro de sobrepeso, o desanimaram, e ele chegou a desistir do esporte. O atleta retornou ao município natal e entrou em depressão.

"Foi uma época muito difícil, mas minha mãe não desistiu de mim. Ela procurou o meu ex-treinador Neto, a quem devo muita gratidão, e eles, junto com meu irmão, me deram apoio para retornar para a corrida. Aos poucos, fui recuperando a forma e, automaticamente, fui superando a depressão. Assim, consegui voltar a correr em alto nível".

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Imagem: Ramsey Cardy/Sportsfile via Getty Images

Vaga olímpica

Em 2019, retornou e, naquela edição da São Silvestre, foi o brasileiro mais bem colocado. Os bons resultados que vinha conquistando nas meias maratonas o fez olhar mais alto. Veio, então, a aposta nos 42 quilômetros, com direito a um período de treinamento no Quênia.

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Em Lima, no Peru, fez a primeira prova, atingiu a melhor marca de um brasileiro em quase uma década e conquistou vaga para Tóquio.

Vida no Quênia

Após a participação olímpica, embarcou para o Quênia novamente, mas, agora, para morar. "É uma rotina tranquila: acordo às 6h da manhã, treino, faço massagem, almoço e durmo. Treino novamente e descanso. É essa, praticamente, a rotina de segunda a segunda".

Nas horas vagas, revela que gosta de pescar. E se a linguagem do atletismo é universal, Danielzinho ainda tenta aprimorar a comunicação mais formal. "São mais de 40 dialetos, e estou tentando aprender o mais falado, que é o Suaíli".

Questionado qual é o segredo para o Quênia ser um berço dos grandes maratonistas, o brasileiro é sucinto.

"A necessidade. Para eles, ser corredor é uma das poucas oportunidades para tirar a família toda de uma extrema pobreza. Por isso os quenianos correm dando todo o seu maior esforço. Ganhar uma prova para eles representa mudar a vida de todos à sua volta".

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Daniel Nascimento tem a mãe, "que trabalhou e trabalha na roça de cana-de-açúcar todos os dias e me permitiu chegar até aqui", como grande inspiração, e é breve sobre o que leva na bagagem para as provas. "Apenas a fé em Deus e o desejo de representar o Brasil no pódio".

Ele tenta vir ao Brasil de duas a três vezes ao ano, mas ressalta estar adaptado à vida no país africano.

E após o Pan, o atleta tem ainda novos objetivos. "Irei fazer uma maratona, mas ainda não posso dizer qual será. O objetivo é sempre correr meu melhor, e quem sabe quebrar novamente o recorde de não africano, que é 2h04min51s".

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