Hoje imbatível na F1, Max Verstappen já perdeu título mundial para carteiro
A temporada de Max Verstappen em 2023 já entrou para a história da Fórmula 1. Os recordes do piloto da Red Bull se acumulam a cada corrida: as 16 vitórias, 854 voltas na liderança e os 419 pontos são inéditos em um mesmo campeonato, e as marcas podem aumentar ainda mais no domingo, em Interlagos. Com os números, vem a pergunta: quem será capaz de superar Verstappen? Há 10 anos, um carteiro inglês conseguiu.
Para contar essa história, é preciso voltar a 2013, no Campeonato Mundial de Kart da FIA. Verstappen era um prodígio que, aos 15 anos, já empilhava títulos locais, nacionais e europeus. Havia chegado o momento de lutar contra os melhores do planeta.
Entre os rivais na principal categoria do kart da época, a KF, estava o inglês Tom Joyner. Cinco anos mais velho, vice-campeão mundial em 2012, Joyner não tinha nem a estrutura, nem a badalação do holandês. Muito pelo contrário: além de ser piloto, ele trabalhava como carteiro durante a semana.
"Eu tinha terminado a escola e tinha um tempo livre antes de ir pra Universidade, então comecei a trabalhar como carteiro, porque era compatível com a vida de piloto: eu corria nos fins de semana e na segunda estava entregando cartas", contou o inglês em entrevista à revista especializada TKart.
Uma dose de sorte
Em 2013, o Mundial de Kart da categoria KF teve duas etapas: a primeira em Brandon, na Inglaterra, no início de setembro; a segunda no Bahrein, a poucos metros do circuito de Fórmula 1 do país, no fim de novembro. Quem somasse mais pontos nas duas corridas, seria o campeão.
Verstappen venceu a primeira etapa, na Inglaterra, e Joyner terminou em 12º, numa prova que reuniu outros futuros pilotos de F1, como Lance Stroll (companheiro de Joyner, 5º) e George Russell (13º). Os vídeos da prova, dez anos depois, deixam claro que Max estava em outro nível: ele dominou a corrida, e a briga foi sempre pelo segundo lugar.
Entre a etapa da Inglaterra e a do Bahrein, Verstappen completou 16 anos, e Joyner -- já praticamente sem chances de título -- recebeu uma ordem da equipe: ajudar o holandês no que fosse necessário. "Antes da largada a ideia era trabalhar pra ele, porque ele usava chassis CRG, e a Zanardi, marca de chassis que eu usava, era do mesmo grupo".
Verstappen tinha 25 pontos conquistados na primeira prova, e Joyner, apenas quatro. Com um sistema de pontuação igual ao da F1, as chances do inglês eram mínimas. Era mais fácil chover no deserto de Sakhir que o carteiro-piloto ficar com o título.
Só que, naquele fim de semana, choveu no deserto. E, em meio ao caos provocado pela pista molhada, Joyner viu-se em uma situação complicada: Verstappen era o líder da prova, ele estava em segundo, mas era mais rápido. O inglês decidiu fazer a ultrapassagem e abriu vantagem, para levar os 25 pontos da vitória e praticamente garantir o título de Max.
Para a tática funcionar, bastava Verstappen chegar ao pódio. Mas, nos últimos instantes da prova, o holandês se envolveu em um acidente em disputa com o dinamarquês Niklas Nielsen -- principal rival na luta pelo título. Nielsen abandonou, e Verstappen foi desclassificado por conduta antidesportiva.
Graças a uma improvável combinação de resultados, Joyner acabou coroado campeão do mundo, com 29 pontos, mesmo número do compatriota Ben Hanley (com um 3º e um 4º lugares), e a vantagem no desempate por ter vencido uma das etapas. Max Verstappen, com os 25 pontos da primeira prova, terminou em terceiro. Naquele mesmo ano, o holandês ficou com o título no Mundial da categoria KZ, com Charles Leclerc em segundo.
Por onde anda?
Depois daquele ano enfrentando os melhores kartistas do mundo, Max Verstappen teve uma carreira meteórica: em 2014 ele já era piloto de testes da Toro Rosso na F1, e ainda ganhou o Masters de Fórmula 3. Em 2015, veio a primeira temporada completa na principal categoria do automobilismo, com direito a recorde de precocidade -- estreou com 17 anos e 5 meses.
Já o caminho de Tom Joyner foi bem diferente. Ele nunca teve aspirações de ser piloto profissional de provas, e o título mundial não mudou os planos. Em 2014, ele voltou para tentar o bicampeonato, fez a pole para a bateria final, mas acabou em nono; Lando Norris, hoje piloto da McLaren, ficou com o título.
No ano seguinte, Joyner tentou novamente repetir o feito, mas acabou em quarto lugar. Em 2016, último ano em que conciliou o trabalho de carteiro com as corridas, terminou o Mundial na nona posição. Em 2018, disputou suas últimas provas na elite do kart.
Apesar de nunca ter tentado a sorte em outras categorias, Joyner se manteve ligado ao automobilismo. Atualmente, ele é técnico da KR Motorsport, uma das maiores equipes de kart do mundo, e orienta jovens talentos nos principais campeonatos da modalidade. Nos últimos seis mundiais, a KR levou quatro títulos.
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