De 'Motel' para 'Hotel': Comércio se adapta para faturar alto com a F1
Proprietário do Arena Optimus, o bar à frente do portão 8 do autódromo de Interlagos, Marcos Antônio exagera no preço dos itens do cardápio em dias de evento. A cerveja, hoje custando R$ 15, é geralmente R$ 10. "No geral, aqui é morto. Se não aumentar o preço das bebidas durante períodos de eventos, tô morto", conta.
Na parede interna do espaço, há pinturas com as feições de Ayrton Senna e carros de Fórmula 1. É o evento preferido de Marcos, o que mais rende ao bar. Em três dias de F-1, em comparação com outros três dias normais, sua renda aumenta em 1000%.
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As mesinhas na porta do bar estão lotadas. Marcos fez parceria com um fornecedor de espetinhos, terceirizado, que vende também pão com churrasco. O lanche sai por R$ 10.
"Tem os festivais, como o The Town, que fizeram a gente vender bem. Mas, entre todos, eu prefiro a Fórmula 1, que é de dia. No The Town, como é à noite, a gente acaba pegando uns doidos."
Para não ficar refém dos eventos que o autódromo recebe, Marcos decidiu investir no espaço. Atrás do bar, ele está construindo uma casa de shows, cuja previsão de conclusão de obras é dezembro. Há outro espaço, parte do futuro empreendimento, que começa nesta sexta-feira a funcionar como um terraço. "A ideia é ser um espaço de happy hour", diz.
Dólar, libra e o que mais vier
Dono de um boteco improvisado mais à frente do bar de Marcos, Felipe Gelamos vende cervejas cujos preços variam entre R$ 8 e R$ 25. O espaço é um galpão de um moto clube, que se transforma em bar quando o autódromo recebe grandes eventos. "Pensamos nos preços de acordo com a tabela dos bares ao redor", afirma.
A forma de pagamento, no entanto, é diversificada: Felipe aceita dólar e euro. Além do clássico espeto, ele traz marmitas do restaurante do qual é dono, que fica perto do autódromo. Cada quentinha custa R$ 25.
"Quando o público é mais seleto, como o público de Fórmula 1, eu ganho mais. Faturo, em três dias de GP de São Paulo, de R$ 15 a R$ 25 mil."
A abertura seletiva também é realidade do bar do Rotary Club, que recebe barraquinhas de comida e bebida de seus associados. O espaço só funciona durante o GP de São Paulo, e, segundo a presidente Alessandra Manente todo lucro do bar é utilizado em ações sociais para a região sul de São Paulo. "É um evento beneficente realizado por parceiros associados do clube", explica.
Em três dias, Alessandra afirma que o bar improvisado consegue um lucro de R$ 35 a 40 mil. Aceitam pagamento em dólar e em euro e, para facilitar a conversão, tanto dólar como euro equivalem a R$ 4 (pela cotação de mercado, o euro hoje valia R$ 5,22). "A gente perde um pouco, mas não tem problema. Facilita assim".
Rock'n'roll para os gringos
Walter Castagnari Netto tem um mini-quiosque de hambúrguer há cinco anos. O espaço é improvisado na garagem de uma oficina mecânica, e chama a atenção pelo rock and roll altíssimo nas caixas de som. No começo da tarde desta sexta-feira (3), enquanto rolava o Treino Livre da F-1, AC/DC era a trilha sonora que compunha o cenário junto dos ruídos dos motores e a barulheira de quem tentava entrar no autódromo.
O rock and roll não é à toa. Everton curte, mas relaciona o estilo musical ao gosto dos fregueses que quer captar, pessoas com mais de 40 anos de todo o mundo, fãs de Fórmula 1. O quiosque se chama Pixixiu Burger, e é uma extensão da hamburgueria de mesmo nome.
Questionado sobre os tipos de moeda que o estabelecimento aceita, Everton chamou um garoto de 15 anos que usava um boné clássico da Mercedes. O menino, de cabelos claros e olhos castanhos, desembestou a falar: "Aqui a gente aceita dólar, euro, libra, rúpia? A gosto do freguês".
O dono afirma que o lucro do período costuma chegar a R$ 4 mil, e que o período de maior movimento é quando a corrida acaba.
Motel clássico gourmetiza e vira hotel para fãs de F-1
Um dos motéis mais clássicos dos arredores do autódromo, o Paddock, decidiu mudar sua cara e agora corre contra o tempo para que essa nova face pegue. De pé desde 1988, o Paddock era dividido em dois espaços: um era motel, o outro, um hotelzinho pequeno. Mas o fato de ser metade motel prejudicava a intenção do dono William Chaine de gourmetizar o espaço.
A diária em fim de semana de F-1 chega a R$ 1 mil - fora de dias de corrida, variam entre R$ 300 e R$ 400, a depender do tamanho do quarto: há as suítes duplas, triplas e quádruplas.
Hoje, está praticamente lotado. William explica a decisão de mudar a cara do motel: ele queria ser referência entre as hospedagens que rodeiam o autódromo. A procura, que só era grande durante o GP de São Paulo, agora se estende aos grandes festivais que Interlagos recebe.
Ele decidiu não apenas encerrar as atividades do motel como reformar todo espaço. Agora, onde funcionam as suítes locadas por período, funciona o restaurante do hotel. O café da manhã tem mais de dez variedades de pães e, para o restante do dia, há uma cozinheira à disposição.
Os fins de tarde recebem um bartender e um sommelier de vinhos, e o restaurante vira um espaço de happy hour. O pagamento também pode ser feito por moedas que não o real, convertidas na hora.
"A gente ganhava bem com o motel, mas decidi apostar. Acho que pode ser uma boa ideia ser um hotel de referência perto do autódromo - é só atravessar a rua. Creio que vamos conseguir equivaler o lucro em breve."