Pan só no streaming atinge jovens, mas perde público massivo da TV aberta
Do UOL, em Santiago (CHI) e no Rio de Janeiro (RJ)
07/11/2023 04h00
"Onde dá para assistir o Pan?". No início dos Jogos de Santiago uma das perguntas mais ouvidas não teve a ver com qualquer tipo de modalidade, mas sim em como acompanhar o torneio.
Fora da TV brasileira pela primeira vez desde 1995, o Pan ficou restrito às transmissões online, pelos canais do Comitê Olímpico do Brasil e CazéTV, no YouTube e pela plataforma Twitch.
A ausência na grade da mídia tradicional afastou um público de uma faixa etária mais avançada, mas atingiu em cheio uma geração mais nova, que vem sendo olhada com carinho pelo COB, Panam e COI — vide as entradas de surfe, skate, breaking e até eSports nos programas do Pan e Olimpíadas.
"Fizemos esse investimento e sublicenciamos à CazéTV. Entendendo que hoje eles têm uma linguagem e impactam uma audiência que nos interessa muito, até como movimento olímpico internacional. A história que sempre falamos do rejuvenescimento", explicou Gustavo Herbetta, diretor de marketing do COB.
Apesar da mudança de eixo e de o Pan ter ficado em um "ponto cego" para uma parte do público, o comitê brasileiro faz um balanço bem positivo sobre o assunto.
"Ficou até acima das nossas expectativas, tanto no que diz respeito à parte de métrica, quanto em quantidade de views e de engajamento. Foi a primeira grande experiência do COB desde o nascimento do Canal Olímpico. Em termos de impacto, foi um evento que já teve um apelo muito maior para o brasileiro lá atrás, acho que depois das últimas edições, que já não tiveram tanta força midiática no país, conseguimos reforçar essa conexão do fã com os esportes olímpicos", afirmou.
Pontos analisados
Gustavo Herbetta admitiu que a TV aberta fez falta para atingir um público mais massivo, salientando a relação já habitual da sociedade brasileira com os televisores. "Participamos, em 2022, de uma reunião com o Grupo Globo e a PanamSports, que comercializa os direitos. Tentamos auxiliar nessa aquisição. Sabemos que o público brasileiro tem essa peculiaridade, por mais que a transmissão esportiva tenha se pulverizado bastante, a TV tem uma relevância, impacta um público mais massivo".
Por outro lado, ele ressalta que as transmissões nos canais do COB e CazéTV cumpriram os objetivos e atingiram o público desejado, e citou uma mudança de postura dos mais jovens em relação à forma de consumo.
"Quando olhamos para o público que queremos falar, que são os praticantes de esporte e os jovens, é um grupo que não assiste à TV. Se traçarmos uma métrica do número de pessoas do público-alvo que queríamos participar, conseguimos cumprir o objetivo. Sempre que tiver uma TV aberta, como vai ter em Paris, vai beneficiar o movimento olímpico como um todo. Mas atingir as pessoas que queríamos, nós conseguimos. Então tivemos êxito nessa entrega", disse.
Como foram os formatos?
Os formatos adotados foram diferentes. O COB disponibilizou quatro canais — que ganharam nomes de atletas históricos, como Maria Lenk, Adhemar Ferreira da Silva, Aída dos Santos e Chiaki Ishii — e houve uma divisão entre as modalidades.
Apesar de permitida uma certa torcida, o tom adotado foi mais de equilíbrio, com comentaristas especializados (muitas vezes, até ex-atletas) e que buscaram passar informações e regras da modalidade.
No canal 1, houve ainda o "COBCast", em que foram recebidos diversos convidados das mais variadas áreas do COB e diversos atletas que tinham acabado de subir ao pódio.
No caso da CazéTV, manteve-se o estilo mais descontraído, com narrações e comentários mais "soltos" e leves, mas a transmissão teve de sofrer adaptações após um começo com tropeços. O próprio Casimiro Miguel reconheceu as falhas durante uma live em seu canal e indicou um aperfeiçoamento.
"O comitê tem uma obrigação de ser mais profundo, de ser mais especialista e, por isso, a escolha que o time do Paulo Conde [diretor de comunicação] fez não só de locução mas de comentários. O começo da CazéTV teve uma repercussão mais negativa por conta disso, mas quando olhamos o complementar, acho que atingimos todas as metas que tínhamos em métricas de engajamento. De quantidade de impacto e de entrega para os anunciantes", afirmou Herbetta.
O diretor de marketing do COB pontuou ainda que alguns patrocinadores chegaram ao Pan através das cotas da CazéTV, e indicou que o torneio em Santiago será usado como base para Paris-2024.
Ainda durante o Pan, a CazéTV anunciou que vai transmitir os Jogos Olímpicos do ano que vem: "Tivemos nove anunciantes que compraram cotas comerciais na CazéTV. Desses nove, alguns patrocinadores, a XP, a Medley, a Havaianas... Tivemos também outras marcas que na CazéTV podem anunciar, ao contrário do Canal Olímpico, onde só podemos ter os nossos patrocinadores, e acho que a junção foi muito positiva. Estendendo até a questão da transmissão, tivemos, pela primeira vez, um laboratório olhando para Paris".
Mudança de ordem
Apesar de não transmitirem a competição, emissoras como Globo, Band e Record enviaram equipe para o Chile, e viveram uma nova realidade.
Na zona mista, há uma ordem a ser seguida, que começa com os detentores de direitos, a transmissão oficial e posteriormente, rádios, TV's e jornais/sites.
Desta forma, as grandes emissoras brasileiras eram as últimas a conversar com os atletas. Eles tiveram que esperar Canal Olímpico, as redes sociais do Canal Olímpico, a CazéTV, redes da CazéTV e até mesmo um repórter da torcida uniformizada Movimento Verde e Amarelo, que estava credenciado como detentor de direitos, além da imprensa escrita.