Antes chamada de 'anãzinha', brasileira vira campeã e cala preconceituosos

Atrás de Mariana D'Andrea, dois quadros ganham destaque. Juntos, formam: "Antes de tudo, fé. Depois de tudo, gratidão". A frase pode resumir um pouco de como a atleta busca enxergar a vida, e a preparação para o Parapan-Americano de Santiago, que começa nesta sexta-feira (17).

Mariana chega ao Chile entre os holofotes e a saudade. Dona do primeiro título mundial do halterofilismo brasileiro, conquistado em agosto, ela se prepara para a primeira competição internacional após a morte do pai, um de seus grandes incentivadores.

Quando eu ia para as competições, ele sempre estava feliz, independentemente do resultado. Ele me viu sendo campeã mundial, e, agora, quero continuar dando mais orgulho a ele, que sei que está lá de cima torcendo Mariana D'Andrea

Carmine morreu dias depois da conquista da filha em Dubai, vítima de um infarto. Na ocasião, além da medalha de ouro na categoria até 79 kg, ao suportar 151 kg, Mariana também quebrou o recorde mundial.

Começo

Natural de Itu, no interior paulista, Mariana D'Andrea tem nanismo e começou no esporte de uma forma até inusitada. Durante um passeio, o técnico Valdecir Lopes a convidou para conhecer a academia. À época, ela tinha 15 anos, e desde então passou a trilhar o caminho entre barras e anilhas.

"Eu estava com a minha mãe e passamos em frente à academia, que é o centro de referência. Ele veio falar conosco. Eu tentei fugir, mas vi que não teria muito jeito (risos). Minha mãe achou uma ideia legal e aceitei o convite", lembrou.

"O meu pai nunca quis me ver parada. Eu tentei natação, mas vi que aquilo não era para mim. Depois, fui para o taekwondo e fiz por um tempo, mas, até pela escola, tive de parar. Naquele momento, eu estava longe dos esportes", completou.

'Mexeu comigo'

Mariana passou a treinar e, em um movimento natural, vieram as competições. Por trás da disputa por um lugar no pódio, porém, um novo horizonte seria descoberto, em um ambiente longe de olhares jocosos ou preconceituosos.

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"Na minha cidade era bem raro vermos pessoas com deficiência praticando esporte. Quando cheguei à primeira competição vi muitas, vi que todo mundo era amigo, e não tinha aquele olhar da rua, ou piadinhas, nada. Eu achei um mundo diferente do que eu vivia, gostei bastante, e mexeu comigo".

Com os torneios, vieram também as conquistas. E, desta vez, a mudança de olhar foi na sociedade, que passou a enxergar Mariana de outra forma.

Antes tinham aquelas piadinhas por eu ter nanismo, olhares mais maldosos, mas nunca liguei. Depois que eu entrei no esporte, vejo que isso diminuiu Mariana D'Andrea

"Antes era: 'olha a anãzinha', agora é: 'olha a campeã' (risos). As pessoas me pedem fotos, conversam sobre as medalhas, buscam mais informações sobre os torneios, pedem o link para assistir".

Incentivou outra atleta

Laira Cristina esteve no Mundial em Dubai, e começou no halterofilismo após ver postagens de Mariana em uma rede social.

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"Ela me mandou uma mensagem perguntando sobre o halterofilismo, e se eu e meu treinador poderíamos ter contato com ela. Eu respondi, ela veio e começou na modalidade. Depois, passamos a competir na mesma categoria. Isso é muito legal", conta.

Laira, que é natural de Montes Claros, Minas Gerais, nasceu com má-formação congênita, o que impediu a formação da perna esquerda. Ela começou no halterofilismo no ano passado.

Parapan

Mariana fez, recentemente, a transição para a categoria até 79 kg, na qual foi campeã mundial, mas, no Parapan, vai estar na 73 kg, pela qual conquistou o ouro no Pan de Lima, em 2019, e nos Jogos Paralímpicos de Tóquio.

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