'Era uma família': a reviravolta para ex de lutador acusada de matar bebê
No começo de 2020, Jéssica Ribeiro foi condenada a 17 anos de prisão pela morte do enteado Rodrigo, de um ano. A condenação de Joel "Tigre" dos Santos, pai da criança e então companheiro de Jéssica, foi de um ano -no caso dele por homicídio culposo, quando não há intenção de matar. O julgamento representa uma das muitas reviravoltas na história de Jéssica, retratadas no documentário "Nocaute: Golpes de Uma Tragédia" (veja acima), lançado pelo UOL Play.
Alerta: esta reportagem aborda temas sensíveis, que podem ser perturbadores para algumas pessoas.
Jéssica e Joel se conheceram quando treinavam numa academia de lutas de Dourados (MS) e logo iniciaram um romance, apesar de Joel ser casado com uma mulher que esperava seu segundo filho. A traição levou ao fim do casamento. Depois de Rodrigo nascer, ele e sua irmã mais velha passavam vários dias sob os cuidados da madrasta, enquanto o pai trabalhava e treinava.
Em depoimento dado à Justiça, antes da condenação, Jéssica contou que considerava os filhos do marido como seus. "Querendo ou não, era uma família que eu estava construindo", disse ela.
Após a morte de Rodrigo, encontrado com marcas de violência pelo corpo, Jéssica foi considerada "um monstro" pela opinião pública da cidade. Mas depoimentos colhidos pela Justiça mostram um lado pouco conhecido da personalidade da esposa de Joel.
"A Jéssica toda a vida foi babá dos meus filhos, um deles especial, que ela cuidava", afirma uma moradora de Dourados. "Quando meu filho tinha quatro meses, contratamos a Jéssica pra cuidar dele", diz outro. "Ele gostava muito dela, e a gente confiava muito na Jéssica."
Vizinhos da casa onde a família morava disseram jamais ter ouvido brigas ou sinais de violência de Jéssica contra Rodrigo. Mas era Jéssica quem cuidava do bebê naquele dia. O promotor responsável pela denúncia procurou entender o que exatamente tinha acontecido na manhã de 18 de agosto de 2018.
Segundo Jéssica, Rodrigo brincava com um saco plástico em cima da bancada da cozinha quando caiu e bateu a cabeça num baú. Ao acudi-lo, ela fez massagem em sua barriga acreditando que ele tinha dificuldade para defecar. Ao perceber que ele também não conseguia respirar bem, ela apertou seu pescoço, tentando perceber se havia pulsação. Só depois que o bebê parou de respirar de vez é que ela chamou ajuda.
O júri não aceitou os argumentos da defesa de Jéssica de que a morte havia sido acidental. Entre as provas mais eloquentes figura o laudo médico atestando que o bebê tinha hematomas de colorações diferentes pelo corpo, um indício de que sofria maus tratos havia meses.
Joel estava no trabalho e, quando chegou em casa, já encontrou o filho morto. Mas os indícios de maus tratos levaram também à condenação dele. No entendimento dos jurados, ele sabia que o filho era vítima de violência e falhou em sua obrigação de protegê-lo.
O pai saiu da cadeia e retomou aos octógonos, inclusive em disputas internacionais. Construiu uma nova família e teve mais um filho.
Já a madrasta não resistiu à angústia de se ver presa e condenada pela morte do enteado. Ela tinha 27 anos quando, em julho de 2023, foi encontrada morta no presídio feminino de Corumbá (MS).
Em uma ligação às 2h30 da madrugada, Cleide Leite descobriu que sua filha havia acabado de cometer suicídio na cela que ocupava na prisão. Jéssica estava a alguns meses de passar ao regime semiaberto, no qual poderia deixar a cadeia por algumas horas durante o dia. "Aquelas crianças tiveram uma família porque o Joel teve a felicidade de conhecer a Jéssica", lembra Cleide sobre a relação entre Jéssica e os filhos do marido.
Julgada e condenada pelo homicídio, Jéssica sentiu sua saúde mental se deteriorar nos anos que passou presa. "A Jéssica tentou ser mãe, e o que ela ganhou? Ganhou a cadeia e depois um caixão", continua Cleide.
O documentário "Nocaute: Golpes de Uma Tragédia", está disponível para assinantes do UOL e assinantes do UOL Play.
Procure ajuda
Caso você tenha pensamentos suicidas, procure ajuda especializada como o CVV e os Caps (Centros de Atenção Psicossocial) da sua cidade. O CVV funciona 24 horas por dia (inclusive aos feriados) pelo telefone 188, e também atende por e-mail, chat e pessoalmente. São mais de 120 postos de atendimento em todo o Brasil.
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