Pernas pareciam gelatina: andei a 200 km/h em Interlagos e saí zonza
Há quem questione se automobilismo é esporte, mas bastou uma volta rápida no circuito de Interlagos, em um dia com máximas de 35ºC, para sentir na pele que corridas de carro exigem - e muito - fisicamente.
Entrei em um dos veículos da Porsche Cup para ter a experiência de correr a 200 km/h no traçado icônico, protegendo a cabeça com uma balaclava - aquela touquinha que deixa apenas os olhos de fora - e um capacete.
Os pouco mais de 4 km do circuito já foram suficientes para fazer o meu rosto "derreter". E uma coisa é certa: espero que, um dia, a tecnologia evolua ao ponto de refrigerar os carros sem perda de performance.
Desci do carro zonza, tal qual os pilotos que enfrentaram o calor intenso do Catar, em outubro deste ano. E isso mesmo dispensando o macacão dos pilotos e trajando só bermuda e camisa.
Expectativa x realidade: o pescoço saiu ileso, as pernas, nem tanto
O meu maior medo logo antes de entrar no carro era um conceito conhecido entre fãs de automobilismo, a força G.
Ela se manifesta no sentido oposto ao do movimento quando existe mudança na velocidade ou na direção do veículo, mas está presente em todas as situações do dia a dia - mesmo que pareça imperceptível no corpo. Por exemplo, se um avião fizer uma curva fechada para a esquerda, as pessoas dentro dele vão sentir um "peso" que as empurra para a direita.
O primeiro ponto que chamou minha atenção foi o pescoço, ponto de atenção no treinamento de pilotos de Fórmula 1, que suportam uma força lateral que chega a ser 6 vezes a força da gravidade.
Na minha experiência de Porsche, com uma velocidade mais modesta, foi fácil assistir aos vídeos e perceber que - impressões à parte - meu pescoço ficava bem mais estável do que os dos pilotos de outras categorias.
Já o abdômen foi, de longe, a parte em que mais senti os efeitos das curvas. Por mais que o cinto do carro seja apertado em volta da cintura e do peito, como o de um comandante de avião, ainda foi possível sentir um "balanço" estranho na parte de baixo da barriga, diferente de tudo o que já senti em carros de passeio.
A adrenalina — e a falta de café da manhã — pode ter potencializado a sensação, já que desacelerar em um autódromo não se parece em nada com o que vivemos na estrada.
A freada, por exemplo, dura até 4 segundos, dependendo da velocidade ao chegar às curvas.
E os efeitos do frio na barriga me acompanharam até depois de parar nos boxes, ao final da experiência. Tive que me concentrar para descer do carro sem perder o equilíbrio. As pernas pareciam de gelatina, e assim ficaram por vários minutos.
Max Wilson, que comandou a volta rápida, disse que os carros usados não eram os mais rápidos entre os Porsches - os mais velozes chegam a "apenas" 260 km/h.
Diferentemente da F1, na Porsche todos os carros são iguais
A Porsche Cup é uma "spec series", nome dado a categorias do automobilismo em que todos os competidores usam chassi, motor e pneus feitos pelo mesmo fabricante - ou seja, a habilidade do piloto fica ainda mais em evidência.
Agora, a categoria fechou uma parceria com a Microsoft para analisar a telemetria de dados como a pressão dos pneus e o ritmo dos pilotos. Antes, as equipes tinham que fazer o trabalho manualmente, o que atrasava a tomada de decisões para ajudar os pilotos.